Fernando Santos diz que ainda não procedeu à renovação do lote de centrais da Seleção Nacional porque os quatro que costuma chamar - e que têm todos mais de 29 anos - continuam a ser os melhores. Mas reconhece que era desejável começar a fazer uma regeneração e diz que essa busca é um dos principais focos da observação de jogadores para a Seleção. Há uma lista de sete ou oito possíveis substitutos que segue há muito tempo, mas o problema é que a maioria deles não jogam no clube.

Por que é que não se está a fazer a renovação ao nível dos centrais?

Porque estes para mim continuam a ser os melhores. A questão para mim é essa: enquanto eu não for abalado nas minhas convicções, não mudo. Eu levei o Ricardo Carvalho ao Europeu porque achei que naquele momento ele era um dos melhores. Depois chega um momento em que ele deixa de me dar as mesmas garantias e deixa de ser Ricardo. Até agora ainda não tive ninguém que me conseguisse convencer que é melhor do que estes.

Mas não era desejável que já houvesse?

Essa é outra questão. Já tentámos. E é talvez um dos planos em que mais estamos a observar de há uns tempos a esta parte. Eu baseio sempre a minha análise na informação que me chega do escalão imediatamente antes, até porque tenho uma relação excelente com o Rui Jorge, como toda a gente sabe, pela informação que o Ilídio Vale tem e pelas observações que fazemos. Há um lote de sete ou oito jogadores que estamos a observar há muito tempo – Roderick, Ruben Semedo, Pedro Mendes, Edgar Ié, Paulo Oliveira, o Ilori, o Tobias Figueiredo e outros -, a questão é que muitos deles não jogam.

Por que é que não estamos a formar centrais que se afirmem?

Isto não basta querer formar bem. Portugal sempre quis formar bons avançados e não formou assim tantos. Neste caso também é um problema de competitividade. Nos campeonatos jovens, onde estes jogadores estão, nunca defendem. O trabalho é sempre mais ofensivo do que defensivo. Os laterais do Benfica, do Sporting ou do FC Porto são mais extremos do que defesas, por exemplo. Os centrais têm sempre uma vocação ofensiva. Porquê? Porque não são verdadeiramente postos à prova. Os treinadores não sentem necessidade de fazer um trabalho defensivo intenso porque eles não são postos à prova.

Mesmo nos três grandes não há centrais portugueses a jogar.

Nós chegamos aos jogos para observar e os jogadores não jogam. Como é que eu vou observar um jogador que não joga? É difícil para mim. Falamos com a equipa para saber que tipo de jogo querem, para entender como o jogador se comporta dentro desse jogo. Não basta chegar e dizer que jogou mal. Há vários critérios que levam a isso na observação de um jogador. Às vezes dizem-me que o jogador ataca pouco, mas pode ser por indicação do treinador. Ou dizem-me que é muito ofensivo e defende pouco, mas lá está, pode ser o treinador que o quer assim. Agora se não jogam é que é difícil. Mas eu não posso ficar limitado a quatro centrais e por isso vou trazer alguns jogadores agora em novembro à Seleção para os vermos com os nossos olhos.

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Fotos: Ruben Neves