O geómetra. O compasso. Aquele que marca o ritmo. Sempre. Em tudo o que faz. Assim é Paulo Sousa. O futebolista com maior currículo em Portugal, que, esta terça-feira, decidiu arrumar as botas. Cinquenta e uma internacionalizações depois. Após um Campeonato do Mundo que acabou por não ser o que pretendia. O que os portugueses pretendiam. Sem glória. Mas com um passado que bastou para aqueles que, ao longo dos últimos anos, a partir da altura em que abandonou a Juventus, lhe auguraram um fim precoce da carreira. Qualquer outro teria desistido. Mas não aquele a que também chamaram «regista» em Itália. Não a quem ultrapassou, pela razão, algumas fronteiras tão importantes como a da rivalidade, quando saiu da Luz rumo a Alvalade, ou a descrença, na altura em que assinou pelo Panathinaikos.

Em 1989/90, começou a sua primeira época no Benfica. Jogou pouco, é certo, quando o Mundial de Riade ainda estava vivo na memória. Quando os ecos dos triunfos na Arábia Saudita ainda esmoreciam numa equipa tão forte como a da Luz. Mas soube esperar pelo ano seguinte. E pelo seguinte. E o que veio depois. Três épocas, oitenta e dois jogos e apenas um golo - é que essa também nunca foi a sua missão. Rescindiu depois. Chamaram-no traidor, quando surgiu em Alvalade, em mais um verão quente do futebol português. Como profissional, não admitiu que não lhe pagassem. Pacheco foi com ele, João Pinto esteve por um triz...

Paulo Sousa esteve apenas uma época no Sporting (1993/94). Titularíssimo, jogou 31 jogos e marcou dois golos. Foi vendido à Juventus. À vecchia signora. E foi aí que começaram a ouvir-se os elogios mais rasgados. Foi aí, em terras transalpinas, que lhe chamaram geómetra. Pelo jogo rectilíneo. Pelos passes angulares que fazia. Duas épocas, um scudetto, uma Taça de Itália e um título de campeão europeu de clubes (1996), o primeiro da sua carreira. A grande glória de um emigrante, antes só conseguida pelo Benfica (1961 e 62).

De forma algo surpreendente para muitos, saiu para o Borussia Dortmund. Depois de ser campeão europeu, partiu de uma equipa de topo em Itália, então o melhor campeonato do Mundo, para a Bundesliga. Sousa calou rapidamente as vozes dos «velhos do Restelo». Ganhou mais uma Taça dos Campeões Europeus (1997) e uma Intercontinental (1997), apesar de ter sido assediado pelas lesões. Fez apenas 27 jogos em duas temporadas, mas foi, mais uma vez, fundamental.

Voltou a Itália. Uma decisão mais uma vez incompreendida. Primeiro para o Inter de Milão (31 jogos em três épocas incompletas), depois para o Parma (oito encontros em metade de uma temporada). Aí parecia não ser já o velho geómetra. Não era constante. Não jogava muitos jogos seguidos. Esperava-se, de certa forma, a saída. Pensou-se no pendurar das chuteiras ou no regresso a Portugal, mas o médio rumou à Grécia para ser a grande aquisição do Panathinaikos. Chegou em 2000/01, saiu a meio da última temporada, acusado de divergências com a equipa técnica, depois de um jogo na Liga dos Campeões.

Chegou a Espanha. Finalmente, a Espanha. Para um clube de Barcelona, o Espanhol. Esteve em nove jogos, oito dos quais como titular. Por problemas físicos, mais uma vez não conseguiu melhor.

Longe vai o ano de 1991 em que Artur Jorge o lançou na Selecção, num encontro frente à Espanha (1-1). Perto dos 32 anos, diz adeus à «equipa das quinas» um dos muitos rostos de uma geração de ouro. Obrigado, Paulo Sousa!

Currículo:

Paulo Manuel Carvalho Sousa

Posição: médio-defensivo

Internacionalizações: 51.

Golos marcados pela Selecção Nacional: 0

Palmarès: campeão nacional português em 1991; vencedor da Taça de Portugal em 1993; campeão nacional italiano em 1995; vencedor da Taça de Itália em 1995; vencedor da Taça dos Campeões Europeus em 1996 e 1997; vencedor da Taça Intercontinental em 1997.

De 1989/90 a 1992/93 - Benfica

1993/94 - Sporting

De 1994/95 a 1995/96 - Juventus

De 1996/97 a meio de 1997/98 - B. Dortmund

De 1997/98 a meio de 1999/2000 - Inter Milão

1999/2000 - Parma

De 2000/01 a meio de 2001/02 - Panathinaikos

2001/02 - Espanhol