*Enviado-especial ao Euro 2016 
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A dois dias da estreia de Portugal no Euro 2016 são naturais as perguntas e as conversas sobre a equipa que Fernando Santos irá fazer alinhar em Saint Étienne frente à Islândia. Até mesmo opiniões divergentes surgem frequentemente.

O selecionador será, neste momento, aquele que menos hesitações terá, mas não é de esperar, pela forma que tem de estar nas conferências de imprensa, que revele as suas ideias já formadas sobre as primeiras opções que vai tomar no Campeonato.

O MAISFUTEBOL olhou para os últimos dois anos, tentou encontrar tendências e, apesar de não ficarem esclarecidas todas as dúvidas, há uma certeza para o que aí vem. A ler no fim, se gosta de saltar etapas.

O sistema

Em declarações recentes, Fernando Santos confirmou a ideia que tem sido transversal aos últimos jogos da Seleção: Portugal irá apresentar-se no Euro 2016 num 4x4x2, por vezes em linha e em outras mais próximo de um losango.

As duas unidades mais ofensivas assentam na sua mobilidade para descobrir espaços a partir de uma zona mais central, podendo um deles, à vez, cair nas alas. O único ponta de lança de raiz, Éder, deverá ser opção de gestão ou de recurso em jogos complicados.

Os dois médios-ala não só ajudarão a fechar espaços interiores, como podem aparecer muitas vezes aí a construir. Na prática trata-se de transpor o que João Mário fez durante a maior parte da temporada no Sporting, mas desta vez nos dois flancos, com a aposta em André Gomes ou em Rafa. Ou até, eventualmente, em Renato Sanches, desviando o jovem dos terrenos centrais que pisou nos últimos meses no Benfica.

Raphäel Guerreiro é um dos jogadores que tem crescido nos últimos jogos.

O grupo

O jogo com a Noruega, no Dragão, denunciou a ideia de que Sanches pudesse estar a ser pensado para o lado direito do meio-campo, na eventualidade de não ter ou querer fazer descansar João Mário, a unidade do meio-campo que nesta altura parece ser absolutamente certo no onze, ou mesmo André Gomes ou Rafa, que também pode entrar na rotação dos dois da frente. Nesse sentido, o selecionador tem duas opções para cada posição, exceto a de guarda-redes em que tem três.

No entanto, o jovem médio contratado pelo Benfica apareceu de novo no meio na segunda parte do jogo com a Estónia, ajudando a equipa a aumentar o ritmo, juntamente com William Carvalho, e também a subir as linhas de pressão. Mostrou que está a atravessar de novo bom momento, mais confiante, e que a Seleção pode, em certos momentos, ir beber à sua energia.

Um esquema de dois por posição (exceto guarda-redes) daria algo do tipo:

Rui Patrício, Anthony Lopes e Eduardo; Vieirinha e Cédric; Pepe e Fonte; Ricardo Carvalho e Bruno Alves; Eliseu e Raphäel Guerreiro; William e Danilo; João Mário e Renato Sanches; Moutinho e Adrien; André Gomes e Rafa; Cristiano Ronaldo e Éder; Nani e Quaresma.

Obviamente que os jogadores não são iguais e oferecem diferentes soluções ao técnico, sendo mais ou menos ofensivos, mais ou menos dotados tecnicamente, mais ou menos fortes fisicamente, ou mais ou menos posicionais. No entanto, o grupo poderá ter sido organizado dessa forma.

João Moutinho ainda tenta voltar à melhor forma.

O onze-base

Ainda existem algumas dúvidas sobre qual o 11 inicial que Fernando Santos apresentará no dia 14. Começa nos laterais, face também à maior procura de interioridade por parte dos alas, se forem, como se espera, João Mário e André Gomes. Os mais ofensivos Vieirinha e Raphäel Guerreiro levarão a melhor sobre os mais defensivos Cédric e Eliseu? Um deles apenas? Ou nenhum?

Isto porque com tanta gente a pisar espaços interiores a Seleção talvez precise de encontrar alguma largura, e isso poderá ser feito através dos seus laterais.

O jovem do Lorient, que está a caminho do Dortmund, parece ter conseguido criar a dúvida no selecionador, à semelhança do que se passa no outro lado. Sendo, no entanto, um técnico de consensos, o ponto de partida para uma discussão sobre opções é que Fernando Santos começará quase certamente com ideias mais conservadoras no primeiro jogo, procurando as soluções que lhe dão confiança há mais tempo. Isto em teoria.

À frente, na posição 6, nova hesitação poderá surgir ao técnico: Danilo, que será solução ainda para central, numa emergência, ou William Carvalho? O primeiro parece ainda partir na frente, depois de ter sido dos poucos que se salvou na época do FC Porto, mas o sportinguista pode ter a seu favor a aposta num meio-campo mais rotinado com os colegas João Mário e eventualmente Adrien, que também ainda terá de ganhar a corrida a Moutinho, à procura do ritmo certo.

Na esquerda, André Gomes parece bem na frente de Rafa, na procura de um meio-campo de posse de bola, com o bracarense a poder ser usado para ajudar a desequilibrar pela explosão. Renato Sanches, como já se disse, parece em crescimento dentro da própria Seleção e a querer intrometer-se na luta por um lugar entre as primeiras opções, embora a médio prazo, e que poderão existir numa das faixas.

Portugal pode beber a certa altura da energia de Renato Sanches

Lesões à parte, a zonas central da defesa está definida, enquanto a de ataque tem agora um grande ponto de interrogação, com Ricardo Quaresma a apresentar-se numa forma tal que pode deixar de ser apenas o joker jogado durante as partidas – não só ao fazer descansar um dos elementos da frente, mas também para esticar o jogo, com desequilíbrios diferentes dos provocados por Nani e Ronaldo – para passar a ser opção válida para entrada imediata no onze em vez do jogador do Fenerbahçe.

Se o que fez é suficiente para destronar aquele que tem mais minutos somados pela Seleção desde o Mundial 2014 (1317) só Fernando Santos poderá responder.

A decisão não é fácil. E talvez a conferência de segunda-feira esclareça parte das dúvidas.

O onze-base poderá andar à volta deste:

Rui Patrício; Vieirinha (Cédric), Pepe, Ricardo Carvalho e Eliseu (Raphäel Guerreiro); João Mário, Danilo, João Moutinho e André Gomes; Nani (Ricardo Quaresma) e Cristiano Ronaldo.

Entre parêntesis () as possíveis alterações

Se olharmos para os minutos somados, incluindo amigáveis, temos o seguinte 11 para um 4x4x2 parecido com o ultimamente usado:

Rui Patrício (1260); Vieirinha (717), Fonte (786), Pepe (913) e Eliseu (968); André Gomes (569) Danilo (857), Moutinho (1015) e Danny (613); Nani (1317), Cristiano Ronaldo (926)

Ricardo Carvalho (708) foi muito penalizado por lesões, Danny está lesionado e jogou em posições diferentes mas poderia entrar aqui, João Mário (563) é dos próximos na lista, face a uma afirmação mais tardia.

Um novo ciclo

São apenas 11 os jogadores da lista final de 23 que estiveram no último Campeonato do Mundo. Menos de metade, e dois deles são guarda-redes: Rui Patrício e Eduardo; Bruno Alves, Vieirinha (aqui como extremo), Pepe, João Moutinho, Nani, Cristiano Ronaldo, William Carvalho, Rafa e Éder.

Ao fim de 20 jogos, um ciclo terminado frente à Estónia no Estádio da Luz e que inclui 12 particulares, 52 futebolistas foram chamados por Paulo Bento (1 encontro) e Fernando Santos (19).

De todos eles, Nani foi aquele que mais minutos somou: 1317. Seguiram-se Rui Patrício (1260), João Moutinho (1015), Eliseu (968), Cristiano Ronaldo (926), Pepe (913), Danilo (857), Fonte (786), Bruno Alves (724) e Vieirinha (717).

Apesar de ter sofrido algumas lesões, Ricardo Carvalho deverá continuar no 11

Ideias que não vingaram

O 4x3x3 morreu à entrada para o Euro 2016, muito por força das várias lesões que surgiram em selecionáveis, mas não só.

Éder foi aposta inicial de Paulo Bento no arranque da qualificação com a Albânia, mas perdeu espaço com Fernando Santos para o até aí proscrito Danny, com o ataque de Portugal a equilibrar-se num trio muito móvel e que contava ainda com Cristiano Ronaldo e Nani.

Hélder Postiga ainda voltou para a Arménia, recuando Danny no campo. Hugo Almeida também regressou para o particular com Cabo Verde, em que não houve Cristiano Ronaldo, e foi estreado Bernardo Silva.

Fábio Coentrão jogou no meio-campo com a Sérvia, posição que repetiu na visita à Arménia.

Éder voltou ao 11 no particular com a Itália, marcou e ficou entre as primeiras escolhas para a França. Saiu a seguir com a Albânia, já com Bernardo no 11. Recuou Nani. Miguel Veloso esteve nesse meio-campo, tal como Danilo, que já era aposta desde o embate com os transalpinos.

O 4x3x3 morreu no primeiro jogo de preparação na reta final para França, frente à Bulgária. Passou a vingar o 4x4x2, com Ronaldo e Nani como homens mais avançados.

As lesões de Danny e Bernardo Silva, em momentos diferentes, ajudam a sustentar a rotura.

Rafa é talvez dos jogadores de quem se espera ainda mais.

Conclusão

As dúvidas foram criadas pela subida de rendimento daquelas que eram, há algum tempo, segundas escolhas, mais do que por demérito de quem tem jogado mais. A competitividade está ao rubro em vários setores, e só pode beneficiar a equipa.

O que Cédric, Raphäel Guerreiro e Ricardo Quaresma têm feito é um bom sinal para o que aí vem. Mesmo Renato Sanches, Adrien e William prometem fazer vida difícil aos colegas de posição, e de repente podemos ter um grupo saudavelmente muito competitiva.

Algo estagnado parece Rafa. É altura de subir níveis, e o jovem avançado do Sp. Braga ainda não conseguiu confirmar totalmente na Seleção o que tem mostrado na Liga. No entanto, apesar do seu caso, há muitos bons sinais para Fernando Santos.