Se um jogo da Seleção Nacional é uma manifestação de Portugalidade, então Cristiano Ronaldo é a alegria da coisa, mesmo que a figura da noite não tenha sido ele. Para o resto, temos o preço do combustível, o das casas nas principais cidades ou das assimetrias do interior. A presença do capitão português frente à Argélia iniciou uma celebração vermelha e verde bem mais assertiva do que habitual nas bancadas e que se prolongou relvado adentro até ao triunfo claro e justo sobre os africanos. O povo saiu satisfeito e com esperança.

Portugal, a equipa, despediu-se então de Portugal, o país. Haverá muito para dizer sobre o segundo, debrucemo-nos sobre o primeiro, que parte para a Rússia com uma exibição demonstrativa das diferenças entre um campeão europeu e um adversário africano com talento, mas cujas fragilidades vistas aqui explicam porque não está no Campeonato do Mundo.

Os jogadores que Fernando Santos dispõe permitem ao selecionador baralhar. Bastava olhar para os nomes do onze inicial para se perceber que a equipa podia jogar em dois dos sistemas mais habituais. Na verdade, ela variou entre um e outro, perante as carências defensivas da Argélia.

O plano parece ser este: a fechar, duas linhas de quatro. Nesta noite, com Ronaldo e Gonçalo Guedes na frente, Bernardo pela direita e Bruno Fernandes pela esquerda. Em processo ofensivo, o 16 português surgiu depois em zona interior, com Cristiano ora a descair na esquerda, ora em posição frontal. Guedes deu também mobilidade.

Depois disto, uma boa notícia para a seleção: William Carvalho parece estar a recuperar momento. Portugal teve uma excelente reação à perda e foi assim que empurrou a Argélia até à área defensiva. William teve um papel fulcral nisso, com a seleção a recuperar cedo e a trocar e a trocar bola até à zona de criação.

Quando o médio-defensivo português viu Bernardo Silva e lhe colocou a bola para o esquerdino assistir Guedes para o 1-0, já Portugal tinha exposto a Argélia a uma série de jogadas de perigo e golo iminente.

Portugal fazia uma exibição de campeão da Europa e o 2-0 resume-se a lógica. Ainda assim, a merecer destaque pelo desenvolvimento do lance. Raphael lançou Ronaldo, que foi à memória dos tempos de extremo puro buscar um cruzamento perfeito para a cabeça de Bruno Fernandes.

Umas palavras para os argelinos. Brahimi e Mahrez têm talento raro, mas a equipa de Madjer foi um adversário demasiado perfeito para os portugueses ganharem moral. Quando assustaram Patrício, já havia 3-0 no placard da Luz.

Isto porque a seleção portuguesa voltou para a segunda parte como se não tivesse saído da primeira. E assim, entre ondas mexicanas, cânticos de apoio e entusiasmo de cada vez que Ronaldo tocava na bola, quem estava na bancada viu Gonçalo Guedes tornar-se na figura do encontro e a ameaçar o lugar que foi de André Silva na qualificação.

Noutra belíssima combinação do ataque português, Raphael mostrou que também ele está melhor do físico, arrancou pela esquerda e serviu Guedes para um golo de cabeça que, diga-se, Portugal merecia porque é, e foi, incomparavelmente melhor do que os argelinos.

Obviamente, o jogo não terminou naquele minuto 55. Houve ocasião para ver outras escolhas de Fernando Santos. Como a relevância de ter sido Adrien a substituir William como âncora do meio-campo ou de ter sido Fonte a ir para junto de Pepe. Os suplentes desta quinta-feira tentaram manter a dinâmica, porque o público pedia mais um golo e ele andou perto.

Ronaldo, o tal com quem o povo se alegra por quase nada, também foi embora ao som de um sonoro aplauso, ultrapassado apenas pelos assobios a uma decisão do VAR, enquanto já perto do fim, Patrício disse a todos com uma grande defesa que também ele está bem, apesar de tudo.

A seleção teve uma despedida em paz. Patrício saiu de campo abraçado a Slimani e Ronaldo perdeu uns minutos no campo para entretar o povo mais um pouco, agora com o filho mais velho no centro das atenções.

Tudo em paz, tudo alegre neste Portugal, para já. O outro, o país, segue dentro de momentos e aguarda boas novas deste que agora parte para a Rússia.