O Uruguai é o adversário de Portugal nos oitavos de final do Campeonato do Mundo. O jogo realiza-se em Sochi, no sábado, e a tarefa não será nada fácil para a Seleção Nacional.

Os resultados conseguidos até aqui pela Celeste Olímpica, bicampeã mundial em 1930 e 1950, mostram as suas principais forças: o score de 5-0 atribui-lhe o estatuto de seleção que ainda não sofreu golos (a par da Croácia), e a origem de cada um dos cinco remates certeiros destaca a eficácia predatória nas bolas paradas. Três cantos, um livre indireto e outro direto.

Tudo sobre os jogadores uruguaios, um a um

A velha raposa Óscar Tábarez está no cargo desde 2006. Resiste até a uma doença que lhe provoca problemas de locomoção, e o obriga quase sempre a usar canadianas. É um verdadeiro poço de conhecimento.

O ADN da Celeste está marcado há muito, tanto que ninguém tem muitas dúvidas quando lhe chamam a Itália da América do Sul. No entanto, este Uruguai tornou-se menos pujante no meio-campo, talvez até menos agressivo e menos físico, desde que sentiu a necessidade de renovar, face ao envelhecimento de futebolistas como Walter Gargano, Diego Pérez e Arévalo Rios.

Há hoje mais criatividade, até mais velocidade, embora seja uma equipa ávida em recuperar a bola em todo o campo e em partir veloz para a baliza contrária. O dinamismo acrescentado por Nández (Boca Juniors), Vecino (Inter), Bentancur (Juventus) e até Valverde (Deportivo) transformaram um pouco o estilo de jogo da equipa, que pode assim optar por um jogo menos vertical do que no passado recente, embora mantenha parte da intensidade.

A dúvida Giménez e o médio esquerdo por encontrar

Na defesa e no ataque, encontramos duas duplas de classe mundial. À frente de um guarda-redes muito experiente como é Muslera, Diego Godín e José Maria Giménez transplantaram do Atlético de Madrid o entendimento e a coesão para o eixo defensivo da seleção. Frente a Portugal, contudo, manter-se-á a dúvida em torno do segundo, a contas com problemas físicos que o fizeram perder desde logo o embate com a Rússia. Perdendo Giménez, Tábarez terá, em princípio, duas opções: apostar no sportinguista Coates (que ocupou a vaga com os russos) ou reinventar-se com três defesas, em 3x1x4x2. Inimigos número 1 dos guarda-redes, os diabólicos Luis Suárez e Edinson Cavani prometem não dar descanso aos rivais, nem sequer quando forem estes a levar a bola. Depois, com esta nos pés, um momento de distração pode ser fatal. Explosivos. Espertos. Cirúrgicos. Cínicos. Capazes de decidir um encontro a qualquer instante.

Se o jovem e muito maduro Nahitan Nández (capitão do Peñarol com 21 anos e hoje estrela do Boca Juniors) parece ter o lugar assegurado como médio direito (ou médio interior direito se Tábarez mudar de início ou durante uma partida para um losango ou até para um 3x5x2), o mesmo não se pode dizer do lado contrário. Nos três encontros, o selecionador colocou/experimentou em campo outros tantos futebolistas: Arrascaeta, Cristián Rodríguez (ex-Benfica e FC Porto) e Laxalt. E há ainda Urretaviscaya, também antigo futebolista dos encarnados, à espera de uma oportunidade.

No meio, Bentancur. E Vecino ou Torreira, seja a estratégia menos ou mais defensiva. Ou ambos, se for necessário dar ainda mais consistência. Há também aí uma meia-distância que pode causar calafrios a Fernando Santos e companhia. Os extremos ou alas dão profundidade, até permitindo um futebol mais direto com passe longo, mas também fazem apoios por dentro para uma construção mais associativa. Uma versatilidade que antes não existia.

As bolas paradas, um perigo sempre presente.

Atacar os laterais, e jogar pelo chão

Numa perspetiva portuguesa, poderá estar nos laterais Varela e Cáceres a maior instabilidade da defesa uruguaia. No caso do último, que não teve época fácil e somou duas lesões graves, tratar-se-á de eventual falta de ritmo, no primeiro alguma fragilidade para reagir a uma maior pressão. Em termos posicionais, ambos têm momentos em que aparecem demasiado projetados, deixando os centrais mais a descoberto nesse espaço.

Também a oscilação emocional característica dos jogadores sul-americanos poderá ser trunfo a jogar, mas aí Portugal terá de ser capaz de mexer esses cordelinhos mantendo-se a si próprio sereno e construtivo. Cruzamentos para a área não terão, à partida, grande eficácia, face ao poderio das torres celestes, tornando a bola junto à relva muito mais aconselhável. Nas bolas paradas ofensivas portuguesas, movimentos em direção ao primeiro poste podem arrastar grande parte das unidades uruguaias aí presentes e deixar o segundo poste a descoberto.

Em conclusão, o Uruguai é hoje um eixo central fortíssimo, da defesa ao ataque, capaz de tratar melhor a bola no meio-campo e de servir melhor os predadores que tem no ataque. O alerta deve ser máximo.

Um onze provável: