Desta quarta-feira a quatro meses, o mundo do futebol estará em suspenso à espera de ouvir o apito para o pontapé de saída do França-Roménia, jogo de abertura do Euro 2016, o primeiro com 24 seleções.

 

A 10 de junho arranca o maior Europeu de sempre e Portugal, como se sabe, volta a marcar presença. Aliás, não falha um desde o Inglaterra 96. O apuramento, iniciado da pior maneira com Paulo Bento, mas remediado bem a tempo pela dupla Ilídio Vale-Fernando Santos, ficou para trás.

 

Apesar de Fernando Santos ter constituído o seu núcleo duro, testou vários jogadores (mais de 15 estreias na sua alçada) e alargou um grupo que era bem mais restrito há dois anos, por altura do Mundial. Naturalmente, o processo tem os seus prós e os contras, embora os entraves negativos sejam daqueles que os treinadores costumam dizer que gostam: escolher entre a fartura.

 

Reunimos 60 jogadores que podem ser consideradas as opções mais fortes para estarem no Europeu. Mas neste barco só cabem 23. E estes quatro meses podem revelar-se decisivos para muitas escolhas.

 

O relógio está em contagem decrescente…

 

Guarda-redes

Rui Patrício será, tudo indica, o titular no Euro

 

Se nada de anormal (entenda-se, lesões) acontecer, Rui Patrício continuará a ser o dono das redes nacionais no Europeu, posição que assumiu ainda no consulado de Paulo Bento e que se manteve com Fernando Santos. Só não é totalista na Liga, pelo Sporting, devido à expulsão frente ao Tondela, na 18ª jornada. Ao todo, tem 31 jogos na corrente época.

 

Anthony Lopes parece também com lugar seguro. Aos 25 anos, vai na terceira época como titular absoluto do Lyon (32 jogos em 2015/16) e deve estrear-se numa fase final de uma grande competição.

 

A terceira vaga teria Beto como candidato mais forte, mas a época não lhe está a correr de feição (4 jogos, todos até setembro). Uma lesão no joelho direito ainda na fase inicial obrigou-o a uma paragem prolongada. Voltou agora em janeiro em busca de recuperar o tempo perdido e garantir uma vaga na terceira fase final da carreira, depois do Euro 2012 e Mundial 2014.

 

Eduardo (30 jogos no Dínamo Zagreb) é outra opção a ter em conta. Já foi chamado por Fernando Santos, é um elemento importante no seio do grupo e tem a experiência do seu lado (titular no Mundial 2010 e presença no Euro 2012 e Mundial 2014).

 

Opções menos prováveis mas que já mereceram a atenção de Fernando Santos são Hugo Ventura, que é titular indiscutível no Belenenses (31 jogos) e Marafona (20 jogos), que trocou recentemente Paços de Ferreira por Braga e pode perder protagonismo face à concorrência de Matheus.

 

Laterais direitos

 

Vieirinha e mais quem?

 

Normalmente são chamados dois jogadores para esta posição, embora um lateral polivalente possa ajudar e abrir uma vaga necessária para um elemento de outras características. De qualquer forma, Vieirinha parece ser a opção primordial de Fernando Santos. Adaptado com sucesso à posição de lateral direito no Wolfsburgo, pegou de estaca na equipa. Este ano soma 21 jogos e dois golos, os mesmos que fez na época passada em 46 aparições. Rodagem não lhe falta portanto.

 

Cédric adaptou-se bem a Inglaterra e já soma 22 jogos no ano de estreia no Southampton. Vice-campeão do mundo sub-20 em 2011, pode ter em França a primeira experiência numa fase final na seleção A.

 

Além destes dois, as opções mais fortes, há um grupo de mais…seis jogadores, que por motivos diferentes, tentam mostrar a Fernando Santos que podem merecer uma chamada. Desde logo José Bosingwa. O lateral de 33 anos foi recuperado pelo selecionador, que lhe deu a titularidade em dois jogos da fase de apuramento (Arménia e Sérvia), mas uma grave lesão voltou a fazê-lo desaparecer. Em novembro rescindiu com o Trabzonspor e em janeiro…regressou ao clube turco. Fez o primeiro jogo da época no fim de semana passado e precisa de uma ponta final fulgurante para ganhar espaço na comitiva.

 

Também uma lesão fez outra opção perder espaço. Falamos de Nelson Semedo (11 jogos e 1 golo em 2015/16). Começou a época em grande na defesa do Benfica, foi chamado para os últimos jogos da fase de apuramento, lesionou-se e, desde então, não conseguiu voltar ao onze encarnado. Culpa de André Almeida (23 jogos) que tem a polivalência do seu lado, esteve no último Mundial mas ainda não mereceu a confiança de Fernando Santos. Será no Europeu?

 

Outro jogador com currículo na seleção que está a fazer uma época em bom plano é João Pereira, do Sporting. Soma já 25 jogos e é uma opção a ter em conta pelo selecionador que também nunca o chamou.

 

Mais remotas serão as hipóteses de Ricardo Pereira que tem sido até lateral esquerdo no Nice (15 jogos), ou Ivo Pinto, que integrou a primeira convocatória de Fernando Santos e desapareceu. Esta época fez 21 jogos no Dínamo Zagreb e mudou-se para a Premier League, onde foi titular nos últimos dois embates do Norwich.

 

Laterais Esquerdos

 

Fábio Coentrão recupera em pleno para o Euro?

 

O alarme soou pela fratura no pé sofrida por Fábio Coentrão. O lateral do Mónaco (18 jogos e 3 golos) seria, em condições normais, o dono do lugar na lateral esquerda da defesa, mas será preciso ver como recupera.

 

Eliseu é a alternativa mais forte, pois mesmo não sendo um jogador consensual soma já 29 jogos esta época no Benfica, apenas menos quatro do que em toda a temporada passada.

 

Há ainda a ponderar outras hipóteses. Desde logo Antunes, que está em bom plano no Dínamo Kiev, onde já superou os números da temporada transata: conta 22 jogos e dois golos. Vai mostrar-se nos oitavos de final da Liga dos Campeões.

 

Raphael Guerreiro foi outra opção de Fernando Santos na fase de apuramento e corre para garantir uma vaga. No Lorient já fez 22 jogos e dois golos na presente temporada.

 

Há ainda três outras hipóteses mais remotas. Tiago Gomes foi chamado por Fernando Santos quando estava no Sp. Braga, mas a mudança para a II Liga francesa, para o Metz, não o terá beneficiado em termos de visibilidade. Demorou a conquistar o seu espaço, mas já é dono do lugar, com 17 jogos.

 

Outro titular indiscutível é Mário Rui, no Empoli, uma das surpresas da época em Itália (7º lugar). Leva já 27 jogos mas tem contra si o facto de nunca ter sido chamado por Fernando Santos.

 

Por fim, olhando para a seleção sub-21, salta à vista o nome de Rafa, que mudou-se recentemente do FC Porto B (22 jogos e 5 golos) para a Académica (3 jogos e 1 golo). Bons números mas que muito dificilmente chegarão para garantir uma vaga em França.

 

Defesas Centrais

 

A boa época no Sporting será suficiente para Paulo Oliveira?

 

Há claramente quatro nomes acima dos demais nesta posição, o que não quer dizer que não haja outras boas opções fora desse grupo.

 

Pepe (17 jogos no Real Madrid), Bruno Alves (25 jogos e 1 golo no Fenerbahce) e Ricardo Carvalho (31 jogos e 1 golo no Mónaco) constituem o núcleo duro de opções para o centro da defesa na era Fernando Santos. Todos eles acima dos 30 anos e a caminho do último Europeu da carreira.

 

José Fonte tem sido, quase sempre, o quarto central. Também ele com 32 anos, soma 31 jogos e dois golos no Southampton, clube onde lidera a defesa pela sexta época consecutiva.

 

A este quarteto de trintões surgem algumas ameaças também bem credíveis. Desde logo, e para contrastar, o jovem Paulo Oliveira, do Sporting, vice-campeão da Europa sub-21. É o líder da defesa leonina, com 29 jogos já realizados esta época.

 

Luís Neto, do Zenit, tem já 20 jogos nas pernas e é outro candidato a ter em conta.

 

Menos provável seria uma aposta em Daniel Carriço, do Sevilha, que mereceu já a confiança do selecionador, mas que só começou a jogar, verdadeiramente, em janeiro, depois de uma lesão no joelho sofrida em agosto. Soma oito jogos e um golo.

 

Por fim, o que dizer de um regresso de Rolando? Já foi um nome habitual e consensual nas convocatórias, mas algumas opções de carreira roubaram-lhe tempo e espaço. Nunca foi chamado por Fernando Santos, mas conseguiu afirmar-se em Marselha, onde já leva 17 jogos, sendo que é titular indiscutível desde a 18ª jornada da Liga francesa.

 

Médios defensivos

 

Miguel Veloso vem de duas fases finais a jogar, mas agora tem concorrência fortíssima

 

Fernando Santos deverá levar dois jogadores com características para jogar na posição mais defensiva do meio campo e a verdade é que há dois nomes que parecem acima de outros dois, entre as opções para o lugar.

 

William Carvalho pode não estar a realizar a melhor temporada de sempre no Sporting, mas tem já créditos firmados. Foi o melhor jogador do último Europeu Sub-21, é um homem da confiança de Fernando Santos e tem, esta época, já 22 jogos e dois golos.

 

Na sua sombra (ou até à frente…) está Danilo Pereira, do FC Porto. Ao contrário de William, tem realizado uma boa época no ano de estreia num grande. É dos melhores elementos do FC Porto atual (31 jogos e 4 golos) e se mantiver o rendimento muito dificilmente ficará fora das opções para o Europeu.

 

Miguel Veloso, que jogou naquele lugar nas últimas duas grandes competições em que Portugal participou, também esteve em bom plano no Dínamo Kiev até à paragem do campeonato (19 jogos e 3 golos). Respondeu com um golo importantíssimo, na Albânia, à chamada de Fernando Santos e tem a polivalência do seu lado, pois também pode atuar como lateral esquerdo.

 

Por fim, Ruben Neves. O médio portista foi utilizado por Fernando Santos nos amigáveis com Rússia e Luxemburgo, mas, até pela idade, deve ter de esperar por outra oportunidade que, a manter o ritmo (26 jogos e um golo esta época) certamente irá surgir.

 

Médios centro

 

Há espaço no barco do Euro para Renato Sanches?

 

De longe a posição onde a concorrência será mais feroz. Não será nada fácil a Fernando Santos escolher o grupo de médios centro que levará para o Europeu e a abundância de soluções pode até fazer o selecionador alargar o leque dos três/quatro que habitualmente integram as convocatórias.

 

Apresentamos uma lista com nove nomes e a ideia que resume tudo é que qualquer um deles poderá muito bem integrar a convocatória final sem que possa ser considerada uma grande surpresa.

 

João Moutinho (29 jogos e um golo no Mónaco) é indiscutível. Bernardo Silva, seu colega de equipa, pelo estatuto que já granjeou também dificilmente ficará de fora. Este ano conta já com 35 jogos e cinco golos.

 

A partir daqui é o…salve-se quem puder! Tiago foi opção regular no apuramento mas está lesionado desde novembro. Procura recuperar a tempo daquela que deveria ser a última fase final da carreira. Tem 18 jogos e um golo esta época no Atlético Madrid.

 

Ainda em Espanha, André Gomes pode ser «vítima» da má temporada do Valência, apesar dos 23 jogos e dois golos, pois há concorrência feroz vinda dos três grandes.

 

O Benfica apresenta Pizzi num excelente momento e com a vantagem de atuar também como extremo (29 jogos e 6 golos). Há ainda o fenómeno Renato Sanches (19 jogos e dois golos) que pegou de estaca e torna impossível que o seu nome não seja, pelo menos, tido em conta.

 

O Sporting responde com uma bem oleada parceria entre Adrien Silva (31 jogos e 7 golos) e João Mário (31 jogos e 2 golos), sendo que este último tem sido o preferido de Fernando Santos.

 

Por fim, há ainda André André, do FC Porto, que, tal como Danilo, vai emergindo numa época em que o dragão desilude (26 jogos e 6 golos) e também tem sido presença regular nas escolhas do selecionador.

 

E isto não incluindo Raul Meireles, que estava parado desde outubro mas voltou ao ativo esta terça-feira e soma 13 jogos ao todo. Não teve foi qualquer oportunidade com Fernando Santos. 

 

Não está fácil, não é?

 

Extremos

 

Ronaldo já espera para saber quem são os outros 22...

 

Tal como no leque de centrais, para o grupo habitual de quatro flanqueadores, há quatro candidatos que se destacam.

 

Cristiano Ronaldo, quem mais? O capitão e craque maior da seleção é presença indiscutível, podendo, contudo, ser «desviado» para o lugar de ponta de lança para abrir uma outra vaga aqui. Os números totais da época até ao momento? 29 jogos e…30 golos.

 

E se Ronaldo é indiscutível, Nani também. Aos 29 anos e depois do regresso ao Sporting, aventurou-se no Fenerbahce e está a dar-se bem. Conta 28 jogos e 8 golos na equipa de Vítor Pereira.

 

Também na Turquia está Ricardo Quaresma, jogador resgatado por Fernando Santos nesta fase de apuramento. O extremo do Besiktas participou em 21 jogos e fez 3 golos em 2015/16.

 

O outro nome que fecha o tal grupo do quarteto mais provável é Danny. Mesmo que o rendimento na seleção nunca tenha sido brilhante, é presença regular no onze de Fernando Santos. No seu Zenit já igualou os cinco golos de toda a época passada em apenas 24 jogos.

 

A correr por fora surgem outros nomes que importa ter em conta. A excelente temporada de Rafa Silva no Sp. Braga (32 jogos e 6 golos) será suficiente para lhe dar um espaço que já foi seu no grupo do Mundial 2014? E Varela (20 jogos, 1 golo) fará valer a sua experiência para merecer uma chamada?

 

Caso Fernando Santos opte por surpreender ainda mais, três nomes surgem à cabeça. Ivan Cavaleiro já viveu períodos mais fulgurantes, mas foi já opção na seleção principal. Não é titular do Mónaco na Liga francesa desde outubro mas conta com 16 jogos e dois golos (ambos na Liga Europa) para amostra.

 

Também Gonçalo Guedes já perdeu algum gás. Aliás, foi na sua melhor fase no Benfica que mereceu a chamada de Fernando Santos. Desde dezembro que não é titular na equipa de Rui Vitória, somando, porém, um bolo total de 26 jogos e quatro golos esta época.

 

Por fim, mesmo que nunca tenha sido chamado à seleção A, é impossível passar ao lado da boa época que está a fazer Gelson Martins no Sporting. Aos 20 anos leva já 31 jogos e cinco golos na atual temporada. Seria uma grande surpresa vê-lo no Europeu, mas é bom que o seu nome vá sendo analisado.

 

Pontas de lança

 

Eder, habitual titular, só marcou um golo em 2015/16...

 

A posição mais problemática. Portugal vive um período de escassez de soluções para esta posição. Éder, que tem sido a primeira hipótese de Fernando Santos, falhou em Inglaterra (nem um golo em 15 oportunidades no Swansea) e marcou à segunda pelo Lille, antes de sair lesionado. Conseguirá uma ponta final esclarecedora em França que o faça chegar num bom momento ao Europeu?

 

É que as alternativas não são muitas. Olhando para o que têm sido as escolhas de Fernando Santos, destaca-se a dupla do Championship. Lucas João tem 7 golos em 33 jogos pelo Sheffield Wednesday. Não é, de facto, o mais entusiasmante dos pecúlios. Nelson Oliveira está a fazer um pouco melhor no Nottingham Forrest: oito golos em 24 jogos.

 

Depois, há Rui Fonte que não é titular indiscutível do Sp. Braga mas consegue seis golos em 23 oportunidades e já mereceu uma chamada de Fernando Santos. Olhando para os vice-campeões da Europa sub-21, salta à vista o nome de Gonçalo Paciência, mas a época de estreia na Liga, ao serviço da Académica, não está a ser brilhante a nível de golos: apenas três em 21 jogos.

 

Numa espécie de «regresso ao passado», há a considerar as hipóteses Hélder Postiga e Hugo Almeida. Ambos procuraram em janeiro reabilitar a carreira. Postiga deixou a experiência exótica na Índia e assinou pelo Rio Ave em busca de minutos. Tem a seu favor a experiência e conhecimento da equipa. Uma boa ponta final poderia levar Fernando Santos (que até o chamou para a receção à Arménia) a ponderar a sua convocatória.

 

Já Hugo Almeida está há mais tempo afastado da seleção A mas tem um ritmo de jogo superior: 12 jogos e dois golos pelo Anzhi e, agora, um golo em três jogos pelo Hannover.

 

Por fim, duas soluções internas que, não tendo pedigree nas principais seleções nacionais, têm a seu favor aquilo que se pede aos avançados: golos. Bruno Moreira, do Paços de Ferreira, é o melhor marcador português da Liga, com 13 golos, e se somarmos todas as competições leva já 17 em 22 jogos. E André Claro, do V. Setúbal, que é o segundo melhor marcador luso da Liga, com 9 golos (10 em todas as competições, num total de 25 jogos).