O coração é um órgão singular: ele guarda tudo o que nos escapa das mãos. Quando se ama de facto alguma coisa, podemos tê-la ou não entre as mãos, mas ela vai viver para sempre no coração.

É mais ou menos o que acontece com a seleção do Irão.

Pode não ter os jogos nas mãos, mas guarda-os para sempre no coração. Entrega-se a eles com a alma inteira, dá-lhes todo o sangue que tem a correr nas veias, ama-os como se não houvesse amanhã.

Mesmo quando parece que os jogos se lhe estão a escapar entre os dedos, o Irão consegue sempre voltar a eles com uma paixão desmedida. Porquê? Porque o futebol lhe está no coração.

E não há melhor sítio para se ter o futebol: no coração, só pode ser amor.

Ora por isso Portugal já sabe que esta segunda-feira, em Saransk, a partir das 19 horas, vai ter pelo menos de querer tanto o futebol quanto o quer o Irão. De o desejar, de o estimar, de o respeitar, de o contemplar, de o acarinhar, de o mimar. Vai ter, numa palavra, de o amar.

Com o coração inteiro, a alma cheia e a pele de galinha.

Portugal tem de ser, mais do que nunca, Portugal. Uma seleção de sangue, suor e lágrimas. Uma equipa que dá tudo, que quer tudo, que sonha tudo. Portugal tem de ser um país inteiro.

Os jogos com Marrocos e Espanha mostraram que o Irão não era sorte que nós sonhávamos. Mesmo que durante a maior parte do tempo tenha de sofrer, a seleção asiática sabe fazê-lo bem. Sofre, sofre muito, sofre horrores. Mas nunca abandona o jogo. No fim, vai atrás da felicidade.

Foi dessa forma, aliás, que venceu Marrocos e foi dessa forma também que ameaçou empatar com a Espanha. Obrigou a seleção espanhola até a passar um mau bocado, e só não conseguiu um ponto por detalhes.

Quando entrar em campo, esta noite, já sabe que só a vitória lhe interessa. Portugal, por outro lado, pode jogar com dois resultados: o triunfo ou o empate. O Irão não. O Irão precisa de ganhar, e não é difícil imaginar que vai atrás dessa vitória com todas as forças do mundo.

Vai estar apoiado por entre 15 e 20 mil iranianos, que por estes dias têm enchido Saransk de cor e de rezas, e vai por isso jogar em casa: como o fez frente a Marrocos e frente à Espanha, aliás.

Não é difícil adivinhar, portanto, que este jogo não vão ser as favas contadas que se pensava.

Portugal precisa de ter um coração enorme, pelo menos do tamanho do coração do Irão, para não passar sustos desnecessários e nervosismos inoportunos. Os oitavos de final estão ao virar da esquina, mas é preciso querê-los muito. Com todas as forças.

Fernando Santos, já se sabe, conta com todos os jogadores disponíveis, depois das recuperações de Raphael Guerreiro e João Moutinho. O selecionador deve por isso apostar no onze habitual, embora seja possível que devolva Bruno Fernandes à equipa titular em detrimento de João Mário.

Também o Irão, de resto, se apresenta na máxima força. O central Cheshmi recuperou de lesão, já treinou normalmente e está apto a ser opção, embora não deva recuperar o lugar no onze.

Muita atenção, de resto, a Alireza, o extremo do AZ Alkmaar que foi o melhor marcador no campeonato holandês. Deve regressar ao onze e costuma ser uma seta apontada à baliza.

EQUIPAS PROVÁVEIS:

Irão:

Suplentes: Torabi, Amir, Mohammadi, Cheshmi, Rashid, Shojaei, Khanzadeh, Montazeri, Reza, Ansarifard, Dejagah e Ghoddos.

Portugal:

Suplentes: Anthony Lopes, Beto, Ricardo Pereira, Ruben Dias, Bruno Alves, Mário Rui, Adrien Silva, Manuel Fernandes, João Mário, Quaresma, Gelson Martins e André Silva.