O público da Seleção Nacional é um público particular, já se sabe.

Desinfetado daquela rivalidade doentia que tantas vezes polui o futebol português, é um público feito de muitas senhoras, muitas crianças, um público que vai à bola pela festa.

Por norma aos vinte minutos já está a fazer a ola mexicana e entra numa agitação de cada vez que a bola invade os últimos quarenta metros.

É um público especial, lá está.

Mas é um público também que reconhece e celebra provavelmente como nenhum outro o talento de Cristiano Ronaldo. A euforia de cada vez que o capitão nacional pega na bola é deliciosa. Sente-se um bruáááá vindo das bancadas que só pode ser bom sinal.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Esta noite estiveram 57 886 alminhas entusiasmadas na Luz, o que é muita gente para acarinhar Cristiano Ronaldo. Talvez por isso, porque o carinho recebido rebentava pelas costuras, o capitão nacional fez questão de brindar cada uma com uma grande exibição.

Ronaldo, vamos ser claros, esteve em tudo o que Portugal fez de melhor.

Delicioso, por exemplo, o trabalho aos 32 minutos, a tirar Paulo Vinicius da frente com uma troca de pés e um arranque fulgurante, a criar o desequilíbrio que permitiu a Raphael Guerreiro assistir André Silva para o primeiro golo.

Curiosamente o jovem avançado marcou o quinto golo em seis jogos pela Seleção. Está em grande, portanto.

Voltando a Ronaldo, porém, importa dizer que depois disso fez dois golaços. Mais o primeiro do que o segundo, até, mas sem dúvidas dois belos golos.

Primeiro aproveitou uma assistência de calcanhar de André Silva para rematar de pé esquerdo fortíssimo, depois na marcação de um livre exemplar fez o terceiro da noite.

Pelo caminho chegou ao 70º golo em 137 jogos pela Seleção: o que dá uma média ligeiramente superior a um golo por cada dois jogos. Lapidar, obviamente.

Mas houve mais: houve por exemplo um pontapé de bicicleta após grande passe de João Mário e houve um cabeceamento que ficou a centímetros do poste.

Cristiano Ronaldo pintou a manta, portanto, e Portugal abriu o sorriso rasgado. É tão fácil ser feliz, não é?

Ora empurrado por um grande Ronaldo, a Seleção Nacional fez uma exibição francamente boa. Segura, equilibrada e com momentos entusiasmantes. A Hungria é um candidato ao apuramento para o Mundial 2018, mas esta noite não o pareceu. De todo.

Tanto assim que só fez um remate com perigo: já muito perto dos noventa minutos.

Antes disso, só deu Portugal.

Capitão artilhada e com momento solene: confira os destaques do jogo

A Seleção foi organizada e pressionante, agressiva na disputa de bolas e veloz pelos flancos, onde estão sempre os recursos nacionais mais criativos para criar desequilíbrios. Quaresma e João Mário, bem apoiados por um Raphael Guerreiro inspirado (sim, Portugal preferiu o lado esquerdo), foram nesse sentido dois agitadores constantes.

Claro que mais atrás houve um André Gomes e um William Carvalho imperiais, a mandar completamente no jogo. Na frente, de resto, houve um André Silva mortífero, que fez um golo e uma grande assistência, e por isso justificou o enorme aplauso que recebeu à saída do Estádio da Luz.

No início do jogo surpreendeu a ausência de Bernardo Silva do onze, ele que é um dos portugueses em melhor forma, mas no fim do jogo ninguém se lembrará disso. 

Ninguém se lembrará de Bernardo Silva por uma razão simples: porque foi uma bela noite da Seleção Nacional. Muita posse de bola, procura constante da baliza adversária e golos, três golos.

Foi a quarta vitória em cinco jogos, que permite manter a perseguição à Suíça, com menos três pontos, mas com um confronto direto em casa que pode valer o primeiro lugar: até porque a diferença de golos é muito favorável.

Nesta altura convém voltar ao início para dizer que tudo começou em Ronaldo: o líder desta equipa, o ídolo deste povo.

Capitão vai em frente, tens aqui a tua gente.