Sinfonia completa: pontapé de bicicleta afinado em dó, grande penalidade disparada em ré, simulação de corpo e finalização simples dedilhadas em mi. Cristiano Ronaldo foi Wolfgang Amadeus Mozart, génio maior da Seleção Nacional, compositor e executante de mais uma orquestração de mestre. Três golos às Ilhas Faroé, e vão 78 por/para Portugal.

E se houve um vislumbre de Mozart em Ronaldo, então William Carvalho foi Antonio Salieri, o rival eterno na busca fratricida pela perfeição na clave de sol. Um golo num belo golpe de cabeça e uma assistência afinadíssima para Cristiano fechar o «hat trick».

Curiosamente, neste saudável cumprir de obrigação da Seleção, os destaques vão direitinhos para os dois homens que atravessam um maior período de inatividade. Cristiano por estar a cumprir cinco jogos de castigo em Espanha, William por ter sofrido uma mialgia e ser atingido pelo vírus do mercado de transferências.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA VISTA AO MINUTO

Tudo normal, tudo belo no Estádio do Bessa, com a única nota fora de tom a ser o golo do anónimo Rógvi Baldvinsson, em cima do intervalo. Um belo golo, aliás, num pontapé de primeira, após o enésimo lançamento lateral longo e um desvio de cabeça do incansável Edmundsson.

Antes e depois dessa nódoa na partitura lusitana, a melodia não saiu disto: bola nos pés portugueses, a derivar da esquerda para a direita, com mais velocidade do que imaginação e cruzamentos trás de cruzamentos para a defesa dos homens das Faroé.

Cédric mais aventureiro do que Eliseu, William fantástico no passe curto e longo, João Moutinho muito interventivo no meio, com Bernardo Silva e João Mário a não darem a explosão necessária nas alas.

PORTUGAL: a análise, um a um

O adversário, humilde, cumpriu na íntegra o papel de entregue à degola. Frágil e inexistente no ataque, entregue à sua pouca sorte com a bola, valente no processo defensivo, numa muralha branca enorme, a lembrar outras guerras e outros tronos.

Cenário visto e revisto em fases de qualificação para Europeus e Mundiais, palco desnivelado na peleja de David e Golias. Uma equipa obrigada a fazer golos, muitos golos, quanto mais cedo melhor; e a outra, condenada à partida a ser figurante no espetáculo, quase como um intruso na festa de um desconhecido.

Pois bem, a festa foi de Cristiano Ronaldo, um desportista capaz de projetar o nome e os golos pelo planeta afora, ao mesmo ritmo e à mesma dimensão das pautas de Mozart. Três golos, excelentíssimos senhores, e mais duas assistências. Uma para o William, o Salieri de serviço, e outra para o reaparecido Nélson Oliveira.

5-1, um bom aperitivo antes da dura viagem a Budapeste.