Portugal baixou a cabeça e escondeu o sorriso.

A Seleção Nacional foi eliminada do Mundial por um Uruguai que, percebeu-se mais tarde, está muito longe de ser um bicho papão.

Bem pelo contrário. É uma equipa perfeitamente ao alcance dos portugueses.

Para quem carrega o título de campeão europeu, não é bonito nem fica bem. É até bastante feio.

Mas o futebol de Portugal nunca foi bonito, nem ficou bem neste Mundial. Foi um futebol sem paixão e sem fogosidade. Não teve atração, não teve fogo, não teve emoção.

Por isso a seleção deixa este Mundial vergada ao constrangimento de uma eliminação precoce e com o descrédito de abandonar a Rússia sem mostrar a credibilidade conquistada no Euro 2016. Sem mostrar enfim a autoridade que um momento invulgar derramou sobre a equipa nacional.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

No fundo Portugal voltou a ser Portugal: uma equipa a quem uma eliminação nos oitavos de final de um Mundial não envergonha. Porque sempre foi assim.

A Seleção Nacional, aliás, só jogou verdadeiramente durante 45 minutos nestes mais de vinte dias na Rússia. Foi esta noite, curiosamente. Na segunda parte do jogo com o Uruguai.

Depois de Fernando Santos retirar Bernardo Silva da direita e o colocar ao centro, no apoio a Cristiano Ronaldo, então sim Portugal jogou bastante melhor. Carregou, insistiu, fintou, passou, rematou. Quando teve a corda na garganta, aí sim, Portugal mostrou que podia mais do que aquilo.

Foi tarde? Foi, sim senhor.

Foi tarde sobretudo porque as equipas não se constroem assim: não se improvisam num momento de aperto. As equipas trabalham-se, motivam-se, soltam-se, provocam-se.

É um processo longo e que geralmente costuma levar a um aumento de confiança.

Ora este Portugal teve uma falta de confiança gritante. Que não passou com os jogos, curiosamente. Sobretudo porque os jogadores não se libertaram do peso da insegurança. Pareciam sempre demasiado ansiosos, temerários, céticos. Falhavam passes fáceis, tinham medo de subir no terreno, não davam profundidade ofensiva. Jogavam por dentro e libertavam na ala, subiam no terreno e voltam para trás. Uma sequência de passes completamente inócua e inofensiva.

Perante isto o Uruguai sentia-se sentado no sofá de casa a comer pipocas quentinhas.

Posicionava-se bem defensivamente e controlava o adversário sem sofrer. Era, no fundo, apenas uma questão de ocupar bem os espaços e obrigar Portugal a andar às rodas. Sem mais.

Mas quem diz o Uruguai pode dizer Marrocos ou o Irão. Nenhuma equipa sofreu verdadeiramente nas mãos de Portugal. A Seleção Nacional não magoou ninguém, não ameaçou, não fez tremer.

As coisas mudaram ligeiramente na segunda parte deste jogo, como já se disse, mas foi demasiado tarde. Quando Bernardo Silva pegou na bola e levou o jogo para a frente, passando por um, outro e mais outro, para depois abrir na direita ou na esquerda, ao centro ou mais para trás, empurrando a equipa para frente, quando Bernardo Silva fez isso tudo, enfim, já era demasiado tarde.

Pepe ainda fez o empate, mas logo a seguir o Uruguai voltou a marcar. No primeiro golo tinha sido Raphael a falhar, neste segundo golo foi o próprio Pepe. Os erros individuais foram fatais.

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Mas o que fica é que Portugal esteve quase sempre em desvantagem. Porque quando precisou, o Uruguai marcou e colocou-se na frente do resultado. Com um futebol direto e muito prático.

Depois foi só pedir a Portugal que fosse melhor. O que não foi possível.

A Seleção Nacional deixa assim a Rússia com dois empates, uma vitória e uma derrota. Seis golos marcados e seis golos sofridos. Pior do que isso, deixa o Mundial nos oitavos de final. Quando ainda há tanta competição para jogar, para desfrutar, para sentir e para viver.

Se fosse há uns anos era normal. Hoje volta a ser também normal. Portugal voltou a ser Portugal.

Não foi apenas a equipa que voltou a ser Portugal, aliás. Nós também. Todos nós. O país inteiro. A Seleção jogou sempre sem o apoio dos portugueses: em todos os jogos, mesmo com países mais distantes da Rússia e com situações políticas mais débeis, esteve sempre sozinha. Completamente goleada no apoio por adversários de Marrocos, do Irão, até do Uruguai.

Foi enfim um Portugal melancólico, temerário e abandonado.

Por isso baixa a cabeça, esconde o sorriso e regressa a casa. Adeus e até já. Em Lisboa.