A infância e parte da juventude de Sérgio Conceição, pelo menos até rumar ao F.C. Porto, aos 16 anos, foi assaz difícil. Nascido numa aldeia perto de Coimbra, numa família numerosa e de parcos recursos, cresceu com a força do talento e da perseverança na convicção de que um dia seria alguém.

Sem alternativa senão enfrentar de tenra idade uma vida dura - o pai morreu num acidente com a mesma mota que usava para o levar aos treinos no dia a seguir a tornar-se dragão e a mãe viria a falecer pouco depois -, teve na Académica um porto de abrigo. A Briosa, que lhe moldou o caráter e ensinou valores fundamentais.

É por isso que nunca esqueceu o clube, nem as suas origens, e o guardou num cantinho especial à espera desde momento de poder voltar, agora como treinador, pela porta grande e ser recebido como um bom filho, de regresso a casa de sempre.

A cidade já o tinha homenageado, deu até o seu nome a um estádio bem perto (Taveiro) de onde nasceu. A carreira, excecional, em Portugal, mas também em Itália, Bélgica e Grécia, ou ainda por todos os escalões da seleção nacional, assim o justificavam, é certo. Porém, conhecem-se-lhe outras facetas, que o tornam digno de admiração.

Solidário com as boas causas

O altruísmo é uma delas. «O Sérgio é capaz de assistir a um programa onde alguém precisa, por exemplo, de uma cadeira de rodas, e ligar para a produção, sob anonimato, a oferecer-se para a comprar. Já assisti a isso», conta Jorge Manuel Mendes, empresário, mas, acima de tudo, amigo do técnico da Briosa.

«Há quem o critique e nem o conheça verdadeiramente. As pessoas têm uma ideia completamente errada dele», afiança, lembrando o dia em que, perante o apelo do malogrado João Moreno, antigo presidente dos estudantes, comprou, também de forma anónima, a receita de um jogo por 60 mil euros.

«Pagámos aos jogadores e evitámos a descida de divisão», reforça, antes de definir de forma linear a ligação umbilical do antigo craque do F.C. Porto e Lazio ao emblema de Coimbra. «Foi um menino criado pela Académica. Nasce numa família, e é adorado como todos os filhos, mas esta chega à conclusão que não o pode mais sustentar e então ele tem de partir, para um dia voltar de forma pródiga.»

Extremamente devoto, Sérgio Conceição tem por hábito ajudar também a Colónia São Francisco de Assis, que se dedica a ajudar crianças desfavorecidas, situada em Eiras, Coimbra. O auxílio é prestado tanto em dinheiro, como em material. Também já doou à instituição a colaboração que um jornal lhe pagou pelos comentários sobre o último Europeu.

O agente não esconde que estamos, ainda assim, na presença de alguém capaz de gerar sentimentos contraditórios. «É uma questão de amor/ódio. Quem gosta dele vai estar ao seu lado com toda a força. Quanto aos outros, acredito que vai revelar-se e conquistá-los com o seu academismo, competência e qualidade de trabalho», vaticina.

«Se ele sempre se bateu a cem por cento por todos os clubes por onde passou, então, ao serviço daquele a quem o seu coração pertence, vai dar ainda mais», acrescenta, deixando transparecer que o jovem treinador há muito procurava retribuir tudo o que a Briosa fez por ele no passado.

A dívida de gratidão pode começar a ser paga já esta sexta-feira, em Braga.