Texto: Rita Pereira

37 anos, muitos minutos nas pernas. Os quilómetros corridos são mais ainda, mas a afirmação é clara: «Ainda não sinto o peso da idade». As exibições no Chipre mostram-no e o golo marcado esta semana demonstra que Silas está para durar.

O jogador português, que joga no Ethnikos Achnas, participou nos sete jogos que a equipa disputou no campeonato cipriota. Joga os noventa minutos sem acusar grande desgaste. «Isso é muito relativo». São aprendizagens feitas com o tempo, garante.

«Com o passar do tempo um jogador aprende a correr. Há muitos jogadores que são jovens, estão preparados para correr, mas correm muito mal. Com a idade, aprendemos a aguentar melhor os 90 minutos», afirmou em conversa telefónica com o Maisfutebol.

Um jogo completo não parece ser difícil para o médio que em Portugal jogou no Atlético, Marítimo, União de Leiria e Belenenses. Por isso, o fim da carreira ainda está longe. Silas confessa que ainda não pensa nisso e que o «bom rendimento» e «o facto de fazer jogos completos» são razões para continuar a jogar.

«Quero regressar a Portugal, mas só no final da carreira, nunca para jogar», garante o médio, que fala de um «estigma» existente no nosso país. «Em Portugal há poucos jogadores com mais de 33 anos e com a minha idade não há nenhum a jogar no principal campeonato porque há esse estigma. Mas isso é um mito», explica.

Chipre, «quase como estar em casa»

Silas chegou ao Chipre na temporada 2010/2011 para jogar no AEL. Na cidade de Limassol esteve duas temporadas e conquistou o campeonato cipriota, o único título da carreira. Passou pelo AEP e cumpre a segunda época no Ethnikos Achnas.

O clube luta pela manutenção, conta o jogador português, confiante na obtenção do objetivo: «Aqui, qualquer equipa pode ganhar a qualquer equipa». O cenário não se adivinha fácil, ainda assim. O Ethnikos ocupa a 12ª posição e soma apenas quatro pontos.

Silas garante que viver no Chipre não é muito diferente de viver em Portugal, até porque os dois países têm muitas semelhanças. «O clima é parecido, um pouco mais quente, mas parecido. A comida também é muito parecida. A única coisa mais diferente é a mentalidade. Mas não há nada de extremismos, nem nada de muito radical.»

No campeonato cipriota jogam vários portugueses e por isso Silas considera que estar no Chipre «é um bocado como estar em casa». Com jogadores como Orlando Sá, Henrique e Ricardo Fernandes, os portugueses formam «uma pequena comunidade, o que facilita muito a integração».

«Sinto que estar aqui ou estar em Portugal não é muito diferente», confidencia.

Jesus e Mourinho, os treinadores exigentes

Na época 2001/2002, o médio jogava na União de Leiria e recebia as orientação de José Mourinho. O técnico viria a rumar ao F.C. Porto. «Nunca se pode colocar em causa a qualidade do Mourinho. É um treinador que sabe muito, muito inteligente e perspicaz. É muito exigente e pressiona os jogadores», caracteriza Silas.

Em Leiria, Mourinho já «exigia muitos jogadores», tentando «impedir que estes cometessem erros». O atleta revela que esta exigência «por vezes pode originar conflitos», porque «nem sempre os jogadores estão dispostos a acatar as decisões do treinador».

«A ideia que retive dele é que é um treinador que dá tudo o que tem a quem lhe dá tudo o que tem. Foram só alguns meses, mas fizemos coisas muito boas», lembra.

Nas temporadas que passou no Belenenses, Silas foi treinado por Jorge Jesus entre 2006 e 2008 e não tem dúvidas de que «foi um dos melhores treinadores» que já teve. «O mister Jesus sabe muito de futebol e vive para o futebol», afirma. Sobre o momento do treinador do Benfica, Silas considera que o técnico está a evidenciar um «desgaste natural» de quem já está há muito tempo num clube, com os mesmos jogadores.

«É possível trabalhar bem com jovens portugueses»

Apesar dos mais de 4600 quilómetros que separam Portugal e Chipre, Silas continua a acompanhar o campeonato português. Para o médio, a qualidade do campeonato nacional «é mais baixa», o que em nada está relacionado com a crise e a falta de investimento em jogadores estrangeiros.

«É possível trabalhar bem com jovens portugueses. Basta ver os casos de Guimarães, Estoril, Gil Vicente e até mesmo o Sporting», explica. O facto de as equipas portuguesas jogarem apenas «para não perder» e não se preocuparem com o «espetáculo» é a razão apontada por Silas para uma diminuição da qualidade do campeonato português.

«Há pouca paciência por parte dos clubes e isso reflete-se no desempenho das equipas. Esquecem-se é que para chamar público é preciso investir no espetáculo e não pensar apenas nos resultados», afirmou o médio.

Questionado sobre o possível vencedor, não tem dúvidas de que «o FC Porto está em melhores condições do que os outros», porque tem uma «vantagem confortável». No entanto, «o Sporting é um sério candidato ao título» porque «mostra um futebol com muita qualidade». Sobre o Benfica, Silas não tem dúvidas que «não pode perder muitos mais pontos» se quiser continuar a lutar pelo título.