Não terá sido apenas por partilharem o mesmo nome (Bartolomeu), que o presidente do Leiria resolveu contratar o polaco Bartosz Slusarski. Mais uma vez, o dirigente provou saber do ofício quando é chegada a hora de escolher jogadores, como provam os mais recentes feitos deste ponta-de-lança que chegou à cidade do Lis no último defeso proveniente do modesto Groclin.
No espaço de uma semana, Slu ¿ abreviatura encontrada pelos colegas para melhor pronunciarem o seu nome ¿ apontou o golo que valeu a primeira vitória da história do U. Leiria em Setúbal, logo na estreia a titular; ontem, com mais dois remates certeiros, «abateu» um borrego com oitos anos, o tempo que os leirienses já levavam sem conseguir vencer a Académica em casa.
No total, são três golos nos últimos dois jogos. Nada mau para quem tem como recorde pessoal os 8 tentos rubricados na época de 2002/03, em 28 jogos, ao serviço do Lech Poznán, clube onde foi formado. «É claro que ficou muito contente, mas penso que é mais importante ainda para o clube e para os adeptos», admite o polaco, que tem um hábito invulgar, sobretudo para um ponta-de-lança: «Não gosto de contar os meus golos. Nem ligo. Isso é olhar para trás e eu prefiro olhar para a frente, para o próximo adversário, neste caso, o Belenenses. Sei muito bem como é o futebol. Hoje, estou na mó de cima, amanhã não sei como será. É evidente que quero marcar muitos, mas há que ter os pés bem assentes na terra.»
Hábitos pacatos
Slusarski é o exemplo típico de um autodidacta. Quando viajou para Portugal, trouxe dois dicionários (Polaco-Português e Inglês-Português) na bagagem e rejeitou a ajuda de um professor. A estratégia começa agora a dar resultados. «Passado o primeiro mês, já lia os jornais e via televisão. Peço sempre para que me falem em português: na rua, nas lojas, com os meus companheiros. Se falarem devagar, já percebo quase tudo. Estou a progredir de dia para dia», confessa, num misto entre a língua de Camões e a de Shakespeare.
Além dos problemas de expressão, houve outro aspecto que lhe atrasou a adaptação à sua nova realidade. «Os primeiros tempos foram difíceis porque joguei pouco, estava à espera de uma oportunidade. Agora, sinto-me muito melhor», garante o avançado leiriense, cujos hábitos de vida são bastante pacatos para um jovem de 24 anos.
A Internet ¿ ficou a conhecer mais um sítio, o Maisfutebol ¿, a televisão e a leitura fazem parte das suas rotinas quando não está a treinar ou em estágio. «De vez em quando, dou um passeio pela cidade, que é muito tranquila e vou lavando as vistas. Ainda não deu para ter a certeza, mas acho as raparigas polacas mais bonitas do que as portuguesas! [gargalhadas]», observa o artilheiro do Lis, que perante a nossa discordância promete rever a sua tese depois de conhecer melhor o país.
Quando as saudades apertam, Slusarski conta com a ajuda do telemóvel para encurtar distâncias e também com as visitas dos irmãos (Michael, mais velho, e Anna, mais nova). «O pior é quando estou em casa. Sinto falta da família e dos amigos. Da comida, nem tanto. Gosto muito do vosso bacalhau, por exemplo», revela, admitindo que o facto de estar agora a jogar e a marcar golos o ajuda a não pensar tanto na sua querida e¿ fria Polónia: «O clima aqui é muito bom. E dá para jogarmos no Inverno, ao contrário do que acontece no meu país. Só acho o Verão um pouco quente de mais para o meu gosto.»
Fraquinho pelo Sporting
«Criado» no Lech Poznán, o homónimo do presidente leiriense ainda se lembra dos golos de Juskowiak ao serviço do clube. Talvez seja por isso que ficou com alguma simpatia pelo Sporting, ampliada quando teve oportunidade de jogar em Alvalade, há alguma jornadas. «Nesse encontro comecei no banco e fiquei impressionado com o estádio e os adeptos. Depois, entrei para jogar 20 minutos. Foi espectacular», descreve o polaco mais conhecido actualmente em Leiria.