Justo. Ganhou quem mais quis ganhar, quem nunca abdicou da sua filosofia até ao último fôlego.

O jogo, clássico ou não, tem 90 minutos, e na primeira parte o Benfica foi a melhor equipa. Bem a sair da pressão imposta pelo FC Porto, a gerir os tempos com a bola nos pés, faltou-lhe um pouco de presença na área e, quando a teve, discernimento. Aqui, falo de Pizzi, na cara de Casillas e da melhor oportunidade da primeira parte.

No segundo tempo, o FC Porto foi abrindo clareiras no meio-campo dos encarnados, com Fejsa a perder naturalmente fulgor, mas sobretudo com os restantes jogadores perdidos na incapacidade em continuarem fiéis ao plano: repito, gerir os tempos do jogo, com a bola, que estava a dar tão bom resultado antes. Passou a entregá-la longa, cada vez mais, à procura das corridas, quase sempre estéreis, de Raúl Jiménez. Se já não havia tanto pulmão, depressa se esgotou o que restava.

Faltou Jonas, sim, até nesse papel mais cerebral. Mas não explica tudo.

O Benfica abdicou da construção que é característica do seu jogo, o rival reafirmou-se na vertigem que faz parte do seu ADN. O FC Porto foi a equipa que mais tempo se manteve fiel à sua filosofia de ataque. 

Sérgio Conceição não quis deixar nas mãos dos outros o seu próprio destino, e as substituições que fez procuraram sempre acrescentar mais força na frente. Viu-se recompensado numa bomba de Herrera, que também foi crescendo com o jogo, no último minuto.

Rui Vitória escolheu o caminho contrário.

Os dragões voltam a ser os grandes candidatos ao título, e têm o caminho aparentemente livre, apesar das naturais dificuldades que irão enfrentar sobretudo nos Barreiros e em Guimarães. Tudo somado, o futuro campeão parece que vai ser aquele que se construiu à volta de uma ideia, e se manteve fiel à mesma até ao fim.