O Bayern pagou 40 milhões por Javi Martínez em 2012/13, 37 por Mario Götze e Arturo Vidal, respetivamente em 2013/14 e 2015/16. Renato Sanches virá logo atrás e poderá inclusive tornar-se o reforço mais caro de sempre dos bávaros mediante o cumprimento de determinados objetivos.

Nem todos obviamente serão fáceis, mas o que o Benfica recebeu como valor-base de um clube que não entra em grandes loucuras – terá pago os mesmos 35 agora por Hummels, que talvez seja o melhor central da atualidade – será, na realidade, um bom negócio.

Se percorrermos a lista um pouco mais para baixo, Douglas Costa levou o clube de Munique a desembolsar 30 milhões na última época, tal como Manuel Neuer em 2011/12 e Mario Gomez em 2009/10. Valores do site especializado transfermarkt.

Partindo do princípio que o valor de mercado de um jogador é o que estão dispostos a dar por ele, acredito que ambos os emblemas se terão conseguido proteger ao ponto de tornar o acordo justo. O Benfica acredita nas expetativas criadas à volta do médio, o Bayern concordou que, se corresponder, se passar de uma promessa a um dos melhores do jogo, valerá a pena pagar mais pelo cumprimento dessas mesmas expetativas.

Renato é, aos 18 anos, o português mais caro de sempre a sair diretamente de Portugal para o estrangeiro.

É, aos 18 anos, o terceiro sub-20 do recorde de transferências, atrás de Anthony Martial, Lucas Moura e Luke Shaw. Estará ao nível de Marquinhos e de… Wayne Rooney, quando o internacional inglês deixou o Everton pelo Manchester United há 12 anos.

As pessoas vão dividir-se entre os que acham muito e os que acham ainda pouco, e entre os que entendem que será cedo e outros os que se precipitam a dizer antes agora do que nunca.

Haverá também os que insultam, que invadem facebooks e as redes sociais, que fizeram parte de uma campanha absurda levada ao extremo contra um jovem a lutar pelo seu espaço e em nome de um clubismo bacoco. Mas esses foram perdendo a guerra, batalha atrás de batalha, com o equilíbrio que o futebolista foi mostrando. Não esteve sempre bem, cometeu erros, inclusive nesta expulsão na Madeira, depois de ter visto um primeiro amarelo, mas mostrou-se sólido o suficiente para continuar a ser importante numa equipa que ajudou a catapultar para níveis mais exigíveis.

Para mim, a questão do ser cedo diz respeito ao jogador. E à equipa. Não ao negócio.

No que diz respeito ao atleta, aí sim parece cedo. Está longe de ser um futebolista feito cinco meses depois da estreia e precisa de continuar a ter sobre si os olhos de um treinador que acredite muito nele, como acreditou Rui Vitória. Carlo Ancelotti, homem de consensos, foi, de acordo com o Bayern, o responsável pela sua contratação e terá a certamente a experiência necessária para lidar com o assunto, mas fica a dúvida se não teria sido Guardiola um melhor mestre para as suas lacunas, face à maior liberdade que o italiano confere aos seus jogadores. Também dependerá do que Ancelotti quiser fazer na Baviera, ele que montou muitas equipas em árvore-de-natal, com três médios de contenção, dois médios ofensivos mais centrais e um ponta de lança.

Para o Benfica, que demorou muitas semanas a solucionar a posição 8, para já a situação está longe de estar coberta. Com Pizzi na ala, a construir por dentro e a fechar por fora, Talisca a ser pouco agressivo e Samaris construtivo de menos para jogar ali, fica por tapar um buraco no próximo meio-campo. 

Dois temas a que só será possível responder no início da próxima época.

O período de cinco meses desde o primeiro encontro continua, no entanto, a mostrar ainda o quão curto é o tempo de maturação de um jovem formado no Seixal no plantel principal. Um que se afirme de forma inquestionável como Renato. Antes, já saíram sem ter sequer esse estatuto.
 

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».