O Benfica junta a Taça ao Campeonato, e soma a 11ª dobradinha da história.

Se na Liga os encarnados deixaram que o FC Porto se aproximasse até ficar, posteriormente, um forte travo de falta de comparência do rival nos encontros decisivos, a Taça foi ganha igualmente num registo mais racional e num encontro mais equilibrado do que a diferença de argumentos fazia prever.

Se a forma então pode ter deixado um pouco a desejar, a verdade é que a dupla-conquista, em ano de tetra, sublinha a distância de consistência considerável que FC Porto e Sporting ainda têm de sprintar para se colocarem a par.

O campeonato esteve, como já disse, nivelado por baixo. O Benfica quebrou até ficar ao alcance dos rivais, quando chegou a ter uma vantagem valiosa, e estes, por sua vez, falharam. Foram ainda piores.

A expetativa era maior em Alvalade, mas também o projeto Espírito Santo, sobretudo na meta imposta a curto prazo, falhou. O treinador foi despedido, e chegarão outra cara e, eventualmente, outras ideias. O plantel, que tem qualidade, embore precise obviamente de maior tempo de maturação e diversos ajustes, será colocado também no banco dos réus.

No Dragão, a dúvida cai agora sobre a política desportiva que se segue: será de nova rotura ou de continuidade?

À margem do campeonato, a equipa de Rui Vitória chegou mais longe do que FC Porto e Sporting nas restantes competições nacionais e só teve rival na Europa nos portistas, com eliminação de ambos nos oitavos de final da Liga dos Campeões. 

Portugal vai agora entrar no defeso, e acredito que será aqui que se jogará grande parte do sucesso na nova época.

No momento em que se fecha a atual, o emblema da Luz aparenta ainda superioridade e deter o estatuto de maior candidato a novo título, agora um eventual penta. Apresenta uma estrutura competente e sóbria, um treinador que procura consensos, uma boa base para um plantel a continuar sólido e o moral de quatro anos sucessivos de sucesso. Terá igualmente os rivais debilitados pelos anos de fome.

Há, contudo, um mercado pelo meio, que pode voltar a baralhar contas. Os influentes e estruturais Ederson, Lindelof e Nélson Semedo serão os mais apetecíveis para os maiores clubes europeus, mas, num clube declaradamente vendedor como o Benfica, outros como Grimaldo, Pizzi, Raúl Jiménez e o próprio Jonas também poderão ser assediados. Até as declarações daquele que poderia ser de novo número 1, o brasileiro Júlio César, estão por explicar.

O clube tem sabido antecipar saídas nos últimos anos, e este parece não ser exceção. Kalaica tem estado em banho-maria na equipa B, Pedro Pereira chegou em janeiro, ao mesmo tempo que Hermes, embora o lateral-esquerdo tenha passado muitos meses sem jogar, e Filipe Augusto. Seferovic já confirmou que irá representar o Benfica e há ainda nomes que poderão subir da formação, como João Carvalho ou Diogo Gonçalves, por exemplo. Faltará um guarda-redes, a acreditar que Augusto e Horta conseguiriam entrar numa rotação com Pizzi, ou eventualmente substituí-lo em caso de saída.

Só o tempo dirá o que vai acontecer, e confirmar se existirá, ou não, uma reaproximação de forças entre os três grandes de Portugal.

Os números mostram que a hegemonia do Benfica tem-se acentuado. A inversão do ciclo iniciou-se não há quatro anos, mas em 2009-10, no primeiro ano de Jorge Jesus na Luz. Seguiram-se, é verdade, três épocas de títulos para o FC Porto, mas o constante empobrecimento do plantel azul e branco, cada vez com menos referências, só resultaram no fecho do tri com um autêntico milagre: aquele remate de Kelvin, que deu o bicampeonato a Vítor Pereira.

Se na temporada de André Villas-Boas, não houve discussão sobre a superioridade portista total, nos dois anos seguintes o Benfica deu a sensação de ter perdido o que os portistas tinham acabado de ganhar. Ou seja, que houve grande responsabilidade sua nos festejos do rival. Vítor Pereira terá apenas adiado o que se seguiria.

Desde a época de 2009-10, o Benfica conquistou 15 troféus em 31 possíveis. O FC Porto arrecadou nove, o Sporting dois, tantos quantos o Sp. Braga. Académica, V. Guimarães, Moreirense os restantes.

A tendência é esmagadora se formos apenas aos últimos quatro anos, os do tetra. São 11 em 15 possíveis para os encarnados, falhando duas Taças de Portugal (Sp. Braga e Sporting), uma Supertaça (Sporting) e a Taça da Liga deste ano (Moreirense).

O ciclo de hegemonia do Benfica:

2009-10 – Liga; Taça (FC Porto); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 1/4 LE (Liverpool)

2010-11 – Liga (FC Porto); Taça (FC Porto); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 3º LC, 1/2 LE (Sp. Braga)

2011-12 – Liga (FC Porto); Taça (Académica); Taça da Liga; Supertaça (FC Porto); 1/4 LC (Chelsea)

2012-13 – Liga (FC Porto); Taça (V. Guimarães); Taça da Liga (Sp. Braga); Supertaça (FC Porto); 3º LC, final LE (Chelsea)

2013-14 – Liga; Taça; Taça da Liga; Supertaça; 3º LC, final Liga Europa (Sevilha)

2014-15 – Liga; Taça (Sporting); Taça da Liga; Supertaça (Sporting); Grupo LC

2015-16 – Liga; Taça (Sp. Braga); Taça da Liga; Supertaça; 1/4 LC (Bayern)

2016-17 – Liga; Taça; Taça da Liga  (Moreirense); 1/8 LC (Dortmund); Supertaça por decidir

Muito pode obviamente mudar em meses, e o futebol da equipa esteve longe de ser exuberante durante a maior parte da última temporada. Ao dia em que acaba a época, a diferença é notória e uma boa base para o que aí vem.

Caberá à direção encarnada responder com qualidade às saídas e às lacunas que o grupo encarnado mesmo assim mostrou. Ou a próxima Liga ainda começará ainda mais nivelada, sobretudo se os rivais finalmente corresponderem.

O desafio não é fácil, mas em teoria o problema terá começado a ser resolvido há meses. Veremos se de forma correta.