O Benfica sai melhor do clássico.

Fica a precisar de três vitórias em quatro jogos, isto se o rival vencer os seus quatro.

Na Luz, a estratégia que resultou foi a de Jesus, embora se possa introduzir aqui a ideia de que os encarnados perderam boa oportunidade de resolver já as contas do título. De fazê-lo em casa, perante o seu público e no frente a frente com um rival que até terá chegado com algumas dúvidas de Munique.

O Benfica bloqueou o FC Porto, que bloqueou o Benfica.

Mas, no final, a sensação é a de que Jesus anulou Lopetegui outra vez.

Este é o resumo de um clássico sem grandes oportunidades de parte a parte, e com os dragões com mais posse de bola e um pouco mais de fluidez do meio-campo para a frente.

O empate aceita-se, obviamente. E para quem gosta de resumir os jogos à justiça e à injustiça dos resultados também se concluirá que este terá sido o mais justo.

O 0-0 significa que o Benfica pode perder um dos quatro jogos que faltam e fazer a festa. Ou, mais concretamente, aponta para a visita ao Gil Vicente, na próxima ronda, como o jogo com maior peso na caminhada. Vencer em Barcelos significa que o Benfica precisará apenas de bater depois Penafiel e Marítimo em casa para ser campeão.

A igualdade deixa Lopetegui mais desconfortável – e desconfortável não quer dizer necessariamente que a saída seja inevitável se falhar o título, sublinhe-se – no banco do FC Porto, apesar da (muito) boa Liga dos Campeões. A possibilidade de não ganhar um único troféu, somada ao desgaste da sua imagem, com polémicas com árbitros e rivais à mistura, e ao facto de não ter conseguido vencer o maior rival em nenhum dos jogos poderão pesar contra si. No entanto, essa será uma discussão lá mais para a frente, e que terá certamente vários capítulos. 

No plano oposto, Jesus poderá estar a preparar-se para prolongar a sua era.

Num cenário de desvalorização sucessiva do plantel, como o que se tem verificado com as múltiplas vendas, e que não deverá desaparecer a curto prazo, um técnico que desenrasca como Jesus continua a fazer sentido.

A confirmar-se o bicampeonato, não fará sentido nos lados da Luz deixar escapar quem tem sustentado todo o processo de renovação contínua, juntando-lhe sucesso desportivo. Não sendo perfeito, longe disso, Jesus continua a ser escolha menos arriscada para Vieira e companhia. Mas o assunto também não é certamente para agora e há variáveis que até o próprio clube poderá não controlar.

Do clássico cinzento de hoje, sai um Benfica ligeiramente melhor do que estava. Um Jesus por cima de Lopetegui. E, sim, com o tempo a correr a seu favor.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».