Já muito se escreveu sobre Rui Vitória, eu próprio em algumas ocasiões. No entanto, depois de bater um recorde do campeonato com 44 anos, é justo que sublinhe novamente o trabalho de excelência que está a realizar no Benfica.

Vale também colocar por aqui todos os parêntesis: 

(É muito cedo!)

(As diferenças são muito curtas...)

(O futebol é feito de muitos momentos e obstáculos.)

É tudo verdade.

Acabe como acabar – e é realmente o que interessa! – a verdade é que o contexto da última temporada era extraordinariamente difícil e, com ou sem tiros nos pés dados do outro lado da Segunda Circular, o treinador soube levar a equipa a um título que chegou a parecer uma ténue miragem. Esta época, basta que se contem as lesões que já teve de ultrapassar dentro do grupo – e sobretudo em algumas das suas principais figuras – e olhar para a posição que ocupa na tabela, para praticamente deixar de ser necessário dizer muito mais.

Se olharmos para o seu percurso na Luz, encontramos momentos em que o discurso tornou-se demasiado pobre e repetitivo e algumas decisões parecem desprovidas de lógica ou contexto, mas teremos, agora que passou algum tempo, de encará-las como dores de crescimento próprias. Rui Vitória também precisou ele mesmo de estabilizar.

O técnico do Benfica é, já se sabia, um homem de consensos e tem sabido gerir com mestria as dificuldades que se lhe depararam à frente. Parece-me também que tem sabido gerir os vários momentos, cada jogo isolado do anterior e do seguinte. Não fossem os empates com Vitória de Setúbal e Besiktas, que tiveram características próprias, e o arranque seria nesta altura ainda mais impressionante.

Muitas vezes sem grande expressão artística, outras bem perto no limite, o Benfica é o atual líder da Liga, tendo também na Liga dos Campeões voltado a colocar-se em boa posição de apuramento num grupo que tem obrigação de ultrapassar.

A nível individual, a destacar Grimaldo, Fejsa e Pizzi, mas também o crescimento de Gonçalo Guedes, Nélson Semedo e Cervi nos últimos encontros. Ederson parece também ter ajudado na estabilidade defensiva, tal como a voz de comando de Luisão.

A faltar ainda Jardel, Rafa e Jonas às opções não parece fora de tom sugerir que os encarnados ainda têm margem de crescimento. 

Uma sociedade que está a dar frutos.

A norte, o FC Porto também se isolou no segundo lugar. Apesar da péssima primeira parte do jogo de Brugges, compensada com a recuperação depois, os dragões têm conseguido somar resultados que vão alimentando a expetativa de uma época melhor do que as anteriores.

Nuno Espírito Santo terá estabilizado já nos vários setores, tirando uma ou outra alteração pontual, e sobretudo encontrado a dupla que mais serve a um novo estilo de transição mais rápida, um maior preenchimento de zonas centrais do terreno e um jogo por vezes mais direto. Jota é muito mais compatível com um André Silva em estado de graça – valeu a pena a aposta, certo? – do que Adrián López ou Depoitre.

Depois de mais uma jornada – Paços de Ferreira, na Luz, para os encarnados; Vitória Setúbal, no Bonfim, para os dragões –, e de poderem carimbar a continuidade nas provas europeias frente a Dínamo Kiev e Club Brugge, os dois rivais defrontar-se-ão no Dragão num clássico de importância considerável para o futuro do campeonato.

Um momento pouco usual nas salas de imprensa.

Volto aqui a Nuno Espírito Santo. Se acredito que a mensagem que tentou passar na sala de imprensa não tenha sido a apropriada para parte dos destinatários, neste caso os presentes no Dragão e mesmo para a maioria dos adeptos em casa, e até o conteúdo faça lembrar muito a psicologia de auto-ajuda que circula hoje em dia um pouco por todo o lado, é de enaltecer que tenha manifestado abertura para explicar as suas ideias, coisa rara nos tempos que correm. Temo que a reação viral de escárnio, por culpa de uma má escolha do tema, iniba ainda mais os técnicos de falarem tanto do que gostamos: de bola, pura e simplesmente.   

Por sua vez, Renato Sanches somou um prémio de prestígio à ainda curta carreira. O Tuttosport nomeou-o Golden Boy, ou seja melhor sub-21 do ano, o que corresponde às expetativas de muitos analistas do futebol europeu e também do clube que o contratou, o Bayern. É verdade que o jovem médio não pegou de estaca num meio-campo tão recheado de talento e num futebol tão diferente do português, mas é compreensível. Na Luz havia a necessidade, em Munique pode esperar-se. Não será mau para o jovem internacional, que já tão importante tinha sido no Euro-2016 para o título português, ganhando tempo para corrigir algumas lacunas no seu jogo. Para já, as expetativas não baixaram.

Fantástica esta Premier League! Manchester City, Arsenal e Liverpool com vinte pontos, Chelsea e Tottenham com 19. As equipas de Guardiola e Pochettino a fraquejar. As de Wenger, Klopp e Conte a mostrarem argumentos. O United de Mourinho, a grande desilusão, já a seis pontos do topo. A competição está ao rubro, e a cada semana surgem vários jogos espetaculares. A tudo isto, somam-se as ideias que Guardiola, Klopp e Conte acrescentaram ao cada vez mais melhor campeonato do mundo. A grande distância.

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LUÍS MATEUS é o Diretor do MAISFUTEBOL e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».