O campeão da Europa mostra músculo e respira saúde.

Os mais pessimistas aproveitarão para lembrar já aqui, antes que se diga mais alguma coisa, que foi a Hungria e há obviamente nesse raciocínio uma boa parte de razão. Não foi como bater a França em França e na final; trata-se apenas da Hungria. So what?

A mesma Hungria, ou pelo menos uma boa parte dela, que esteve perto de atirar a Seleção para fora do Euro-que-acabou-por-vencer, mostrando organização, competência e um atirador-furtivo acima da média. Uma Hungria perigosa, se deixada a fazer o seu jogo. Claramente ao alcance, mas perigosa.

Não se trata de voltarmos agora a desarrolhar o espumante e a desafiar o bom-senso com uns passinhos de dança, deve apenas sublinhar-se a competência.

É igualmente verdade que Portugal ainda corre atrás da Suíça, depois de uma derrota importante para trazer a equipa de volta à Terra e apagar o estado de euforia, mas que não deixou de ser penalizadora por obrigar a jogar sem margem de erro daí até ao final do apuramento. De uma ponta à outra, sem poder relaxar.

Este 3-0 a um concorrente direto, ou aspirante a esse estatuto, retira praticamente aos húngaros o bilhete de uma viagem sem escala para o Campeonato do Mundo e, ainda mais relevante, mantém os portugueses a depender de si próprios. É para aí que correm, para a receção à Suíça, que pode virar o Grupo B precisamente no seu epílogo.

Os três golos garantem nove de vantagem para gerir no primeiro critério de desempate, de que Fernando Santos precisará se tudo se decidir, como se espera, nesse derradeiro embate e a sua equipa levar a melhor. E aí bastará o 1-0, se nada de anormal acontecer ate lá.

Antes, há as viagens à Letónia e, sobretudo, em setembro, à Hungria, onde a equipa de Bernd Storck jogará a última das cartadas para, pelo menos, ainda lutar pelo play-off. Será um conjunto magiar ainda mais ferido, e sem nada a perder. A exigir muita atenção.

Até ver, a Seleção respira saúde. Na defesa, à frente do dono e senhor do lugar Rui Patrício, apresenta-se um trio estável e experiente, que vai resistindo aos problemas físicos que de vez em quando apoquentam Pepe e Raphäel Guerreiro, e são várias e boas as opções para a direita, desde Cédric a Nélson Semedo, passando por João Cancelo. Há dois 6 bem delineados, e opções de convergência e divergência daí para a frente num miolo com soluções para duas equipas completamente diferentes. André Gomes surge como o simplificador de um futebol que muitas vezes pecou por não ser mais objetivo. Ninguém no grupo torna as coisas tão simples como ele.

Ricardo Quaresma vive novo fôlego, parece ter ganho anos ao passado, tal como Cristiano Ronaldo beneficia da irreverência do miúdo ao seu lado, que ainda tem muito por onde crescer. É verdade que o capitão sempre marcou muito, mas agora terá readquirido uma fluidez que acentua a imagem de predador também na própria Seleção. 70 golos, e um recorde a aproximar-se.

Há ainda a classe de Bernardo Silva – a quem quase todos entregariam a titularidade antes da partida com os magiares –, a velocidade de Gelson, as promessas deixadas por Renato e muitos miúdos prontos a dar o salto desde os sub-21. Até o rejuvenescimento parece programado para ser gradual, começando a desenhar-se um novo grupo, talvez o mais completo que esteve nas mãos de um selecionador português. Será já para a Rússia?

No meio de tudo isto, e em cima de uma formação de onde continua a brotar talento, sustentado depois pelas B e pelas seleções jovens, onde aparece Rui Jorge como o homem dos últimos retoques, está Fernando Santos. É a ele que cabem os consensos, é ele que nunca quebra o protocolo, que pensa nas hierarquias, nos equilíbrios do grupo. Sem revoluções.

Portugal parece no bom caminho para dar continuidade a uma nova presença numa fase final e, lá estando, terá certamente mais desta vez do que a fé do selecionador a que se agarrar.

Primeiro, contudo, há que lembrar: a Seleção só está a meio-caminho.