AA e sub-21 falharam nos objetivos. Os homens de Fernando Santos não venceram a Taça das Confederações, enquanto os de Rui Jorge não ultrapassaram fase de grupos do Europeu. Os mais velhos caíram nos penáltis frente ao sempre confiante Chile, os mais novos não conseguiram anular as consequências da derrota perante a Espanha, talvez o maior favorito apesar de não tê-lo confirmado no jogo decisivo.

Junto aqui neste artigo as duas seleções porque o futuro de ambas está interligado.  

Escrevo aqui sobre as duas porque ambas, sem a terem defrontado, viram a Alemanha festejar no final.

Pete Davies avisou-nos há muitos anos que «o futebol é um jogo simples». Trata-se de «vinte e dois jogadores que correm atrás de uma bola durante 90 minutos e no final ganha a Alemanha». Gary Lineker repetiu-o, a frase ficou sua, e tornou-se dos dogmas do futebol. «No final ganha a Alemanha», em versão reduzida.

Davies e Lineker assentavam a mesma ideia naquela força inesgotável, física e sobretudo mental, que conseguia quase sempre superiorizar-se ao maior talento, à maior técnica dos adversários. Já não se trata só disso. Hoje em dia, é também um projeto único, uma ideia de jogo, que somados ao resto colocam a Mannschaft ainda mais perto de vencer.

Joachim Low levou à Rússia uma equipa de segunda linha, ainda muito jovem, e fez a festa. Stefan Kuntz perdeu alguns jogadores para este primeiro grupo, mas chegou à Polónia e também venceu. Ficamos à espera de saber ainda o que irá passar-se no Europeu sub-19.

Esta opinião sobre a prestação de ambas as seleções portuguesas não é, no entanto, negativa. É um sobe, com algumas reservas.

Apesar de não ter vencido a competição, o terceiro lugar da Seleção principal tem valor. Foi apenas eliminada num desempate por penáltis, e Fernando Santos mantém um registo inatacável, à exceção da derrota na Suíça, no arranque do apuramento para o Campeonato do Mundo e que ainda pode ser anulada. O bronze na Rússia é, até prova em contrário, o sublinhar do título continental conquistado em Paris, da manutenção de Portugal entre a elite dos mais fortes. É assim que o vejo.

Também não se pode falar de um mau desempenho dos sub-21, apesar da eliminação precoce. A derrota com a Espanha foi demasiado penalizadora numa prova com um novo modelo, e catalisador para este tipo de injustiças. Para trás, ficam cinco anos sem derrotas, um trajeto imaculado e que merece ainda todos os elogios.

Juntei aqui estas duas seleções porque acredito que da sua fusão e do eventual aparecimento de uma ou outra revelação a curto prazo sairá a Seleção do futuro.

É verdade que a Alemanha tem uma liga mais competitiva e um maior campo de recrutamento, e com tanto já conquistado não seria uma Confederações a menos que iria desencadear o fim do mundo em Berlim, mas, ao participar da forma que participou e com o sucesso que teve, terá aumentado a distância para os seus principais rivais, incluindo Portugal. Que melhor sinal de vitalidade poderia ter dado que não este? Low ganhou vários nomes para o futuro, incluindo algumas peças que lhe faltavam no puzzle. E, com o modelo montado, um modelo dinâmico e dominador, que ainda foi capaz de beber de Guardiola a certa altura, só precisou de substituir peça por peça. Não teve de abdicar de nada.

Isso leva-nos à questão: apesar de ter conquistado bem menos e de partir de um menor campo de recrutamento e com menor qualidade não faria sentido que Fernando Santos estivesse a pensar já um pouco mais além do que o próximo ano? Mesmo que não fosse um adeus definitivo a alguns jogadores não teria sido lógico já ter experimentado coisas novas?

Não sou dos que acha que Portugal joga muito feio. Sei que está longe daquele futebol quase poético da Geração de Ouro, mas em todos os encontros a Seleção tem aqui e ali apresentado alguns bons momentos que se podem multiplicar noutros contextos, mediante a afirmação de alguns jogadores e a entrada de outros, mais jovens e irreverentes. Isso acontecerá naturalmente com a tal fusão.

AA e sub-21 juntos não resolverão, no entanto, um dos principais problemas da Seleção principal: o eixo central da defesa. E será aí que terá de estar o foco de clubes e federação nos próximos tempos. O bom central português escasseia, e as próximas gerações terão grande pressão para resolver a lacuna.

A Taça das Confederações teve vários vencedores. A Alemanha, a todos os níveis. Um Chile igual a si próprio, com as mesmas armas, mesmo sem Sampaoli. Um Portugal de bronze. A Rússia, enquanto organizador, num bom teste para o Mundial, apesar das várias barreiras, sobretudo a linguística.

Dentro da Seleção Nacional, também houve uns mais vencedores do que outros. Desde logo, no grupo dos primeiros está Rui Patrício, senhor de mais um grande torneio, bem acompanhado por Cédric. O lateral foi dos mais regulares, embora tenha pecado um pouco na definição no último terço, sobretudo nos cruzamentos. Ganhou a corrida a Nélson Semedo, que apesar de apresentar maiores soluções de ataque, sobretudo com a presença em terrenos interiores, mostrou-se mais frágil defensivamente.

Pepe voltou a ser decisivo, e o melhor entre os centrais, embora Bruno Alves não tenha comprometido e Fonte tenha recuperado de um primeiro jogo muito fraco. Neto tem contra si o autogolo, mas mostrou sobriedade e muita concentração. À esquerda, e com um Raphäel Guerreiro debilitado aparentemente desde o início, Eliseu voltou a mostrar-se eficaz.

No meio-campo, muitos irão apontar o dedo a André Gomes, mas continuo a perceber a utilidade tática que tem para Fernando Santos. Pena aqueles remates desperdiçados em zona frontal frente ao Chile, que mereciam um pouco mais de velocidade e qualidade de execução. Pizzi, sobretudo pela primeira parte do segundo jogo frente ao México, reivindicou mais minutos. Adrien poderá também ter ganho de vez o lugar a João Moutinho. William e Danilo irão continuar a sua batalha, dependendo do que a equipa precisa especificamente para o desafio seguinte.

Cristiano Ronaldo não foi avassalador, mas merece obviamente nota positiva, tal como André Silva – estranha a saída do onze para a estreia e a gestão do avançado por parte de Fernando Santos no jogo com o Chile, numa altura em que era preciso na área face a estratégia passar por cruzamentos pelo ar – e Bernardo Silva, um dos nomes sobre claramente a Seleção pode assentar o seu crescimento, e que foi penalizado pela lesão no terceiro encontro, frente à Nova Zelândia.

Gelson Martins ainda não está no ponto, mas já é desequilibrador, sobretudo quando colocado sobre a direita. Ricardo Quaresma continua com números de excelência, apesar das muitas perdas de bola e definições com equívocos.

No plano oposto, João Moutinho e Nani. Não serão réus, porque não há motivo para tal, mas atravessam momentos mais cinzentos da carreira. O médio não foi porto de abrigo quando foi preciso, o avançado foi dos homens da frente o que apresentou menor rendimento, e o golo marcado nem chega para disfarçá-lo.

Vejo com naturalidade nomes como Rúben Semedo, Bruno Fernandes e até Podence, ou outros que já lá andaram como João Cancelo, Paulo Oliveira, Renato Sanches ou Gonçalo Guedes, fazerem parte da solução de uma equipa nacional mais equilibrada e mais forte. Assim os próximos meses os protejam.

P.S. O video-árbitro também merece o sobe com reservas, embora tenha deixado a competição pior do que chegou, sobretudo nos jogos em que mais importava não falhar. Portugal até terá saído beneficiado de algumas não-decisões. Importa, parece-me, clarificar de uma vez por todas quando o árbitro recorre ao sistema e se daí tirou apoio para a sua conclusão. Isso deverá ser visível nos seus gestos. Ou então assumir que aquele lance foi da exclusiva responsabilidade do juiz. Se não vale criticar apenas porque sim, o mesmo se aplica a quem o defende. Melhorar continua a ser preciso.