A minha Seleção Nacional é a de 2000. A melhor de sempre, encantou todos os que a viram jogar.

Portugal era o Brasil da Europa. Podíamos deliciar-nos com Figo, Rui Costa, João Pinto, Nuno Gomes, também Paulo Sousa. Havia Vítor Baía, Sérgio Conceição, Fernando Couto, Jorge Costa, Pauleta, Capucho, e outros que não foram ao Europeu, como Pedro Barbosa, e que ainda podiam ter acrescentado mais qualidade se necessário.

Rico em talento, charmoso com a bola, inclinado para o ataque. A equipa de uma geração, habituada a jogar junta, desde lá atrás, complementada aqui e ali com experiência e um ou outro jogador surgido entretanto. Foi eliminada com um penálti de Zidane – será que não perdeu aí grande parte da inocência? – e as suas maiores figuras teriam uma última oportunidade, destruída por Charisteas, quatro anos depois.

Cristiano Ronaldo começava o seu trajeto, a Seleção ganhava músculo, rigor, energia e até algum pragmatismo no pós-FC Porto campeão europeu, com jogadores como Costinha, Maniche, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira e Nuno Valente. Deco, também dos dragões, emprestava a magia que tanto deliciara as bancadas do Dragão e todas as outras pelo país fora, sem no entanto alcançar a mesma influência.

Esse já não era o Brasil da Europa, apesar de ter um brasileiro naturalizado, e de até ter aumentado a quota a médio prazo. Era uma equipa sobretudo focada e competitiva, e que ainda assim falhou o primeiro título.

A alta competitividade manteve-se. Portugal não falha uma fase final desde 2000, e em 2016, sem a sua fabulosa Geração de Ouro e sem a geração dos campeões europeus pelo clube, e com uma equipa envelhecida e muito experiente, conquistou o troféu. O primeiro título sénior não foi conseguido sem felicidade, por muito que Fernando Santos diga que até queria defrontar os outros, do lado mais complicado do quadro.

A fase de apuramento para o Campeonato do Mundo começou com Portugal no meio-campo suíço, a criar muitas dificuldades à equipa da casa, mas acabou com a derrota, a única até aqui. Aqueles minutos iniciais pareciam querer mostrar um Campeão da Europa a apontar para as divisas, e também por isso acredito que o 2-0 final tenha acabado com algum deslumbramento transferido da festa do Stade de France.

2000 já não voltará, e a poesia desse futebol não regressará tão cedo, se é que isso acontecerá algum dia. 

O Campeão Europeu terá percebido em Basileia que não podia jogar como um Campeão Europeu.

Mais vale descobrirmos a coerência de um futebol mais organizado e com menos rasgos de talento, mas que certamente ainda beneficiará um pouco da irreverência que chegará em breve dos sub-21. Não quer dizer isto que os triunfos eliminem as questões, ou as críticas.

Será que não estamos a ver Bernardo Silva tempo a menos em campo, ele que talvez seja o mais virtuoso de todos os jogadores desta equipa?

Por que será ainda que estamos longe de antever uma linha de sucessão a uma defesa muito perto do seu limite?

A culpa também é do futebol que temos, e da falta de oportunidades aos jovens, mas a formação, entre clubes e seleções, também não está a conseguir descobrir jogadores com potencial para chegar rapidamente ao topo. A não ser que surja um fenómeno que faça bypass a tudo o que se conhece teremos em breve uma defesa bem mais frágil do que o desejável.  

Portugal sai de Budapeste a depender de si, e de um triunfo frente à Suíça – porque em Andorra só tem de correr bem – para garantir vaga direta para uma fase final. Perante o seu público, a Hungria não foi um adversário cómodo, mostrou-se agressiva também em excesso e, embora tenha sido uma equipa órfã de um pensador – Zoltan Gera tem 38 anos, e tem andado fora das convocatórias mais recentes – e sem a dinâmica de Kleinheisler ou até com um Nagy a não corresponder às expetativas pós-Euro, foi controlada por inteiro pela equipa das quinas. Portugal reagiu bem ao jogo mais direto e físico, e saiu por cima. Há aqui mérito evidentemente.

Claro que a equipa de Fernando Santos poderia ter sido mais envolvente – eventualmente com outros laterais –, mais capaz de aproveitar o espaço deixado à frente da área, apresentar maior capacidade para romper linhas, e até ser mais objetivo quando lá conseguia entrar, mas mostrou consistência suficiente para se sentir que está muito perto do apuramento.

O romantismo do futebol português acabou, e a Seleção mesmo assim está perto da 10ª qualificação consecutiva para uma fase final. Não é o tempo de Rui Costas, Figos, João Vieira Pintos, mas é o futebol que temos. Mais pragmático, controlado, doseado, até mais cerebral. Por ser diferente, menos empolgante, menos artístico, não tem de ser necessariamente mau. Desde que competente.