Um texto que já vai tarde.

Os jogadores. Eles correm. Suam. Passam, ou não passam. Rematam. Falham, ou marcam. Erram ou acertam. Decidem jogos. Ganham jogos. Títulos.

Os treinadores. São eles que decidem quem corre, quem sua. Corrigem quem passa, quem remata e falha, para que a equipa possa marcar mais. Trabalham para anular erros e aumentar acertos. E, em cada ano que passa, voltam a escolher. Quem fica, quem sai. Quem entra. Eles ganham equipas, que têm de ganhar jogos. Festejar títulos.

Os presidentes assinam os cheques.

Fazem gestos com os pés na tribuna, como se rematassem.

Suam com os nervos, acenam que não com a cabeça, e dão murros na mesa.

Festejam como se marcassem eles mesmo os golos, estão nas fotografias da festa como se tivessem dado tudo em campo. Não deram.

Ninguém ganha nada sem os jogadores. Nenhum treinador, ainda menos qualquer presidente. Jorge Jesus percebeu-o, e talvez tenha-o percebido na sua plenitude precisamente esta época, depois de alguns erros seus também no passado, Bruno de Carvalho ainda não. Já lá vão cinco anos.

Lembro: são os jogadores que jogam. São eles que primeiro ganham e perdem. Os outros vêm depois.

Não sei se hoje ainda será igual, mas o que diziam de José Mourinho nos primeiros tempos é que o treinador português acrescentava x por cento a cada jogador, que passava a sentir-se o melhor do mundo. Isso fazia a diferença. Por ele, os jogadores eram capazes de tudo. Cada desses futebolistas tem uma espécie de turbo boost escondido, que só ele conseguia descobrir.

São os jogadores que ganham e perdem. Antes de todos os outros.

É provável que alguns adeptos ainda digam que o atual bom momento do Sporting não seria possível sem as destemperadas intervenções de Bruno de Carvalho. Talvez. Só que as consequências só são estas precisamente porque contrariam o presidente. Só existem porque há brio, e há que prová-lo contra tudo e todos, até internamente, em nome de um bem maior. O tempo dirá também se as consequências serão todas positivas e se não arriscam tornar-se a curto prazo, precisamente porque ficou uma ferida aberta por sarar.

Os jogadores são os grandes vencedores deste final de época, com Jesus a fazer melhor do que nunca o seu papel. Também ele, repito, terá aprendido algo com isto.

Bruno de Carvalho só não aprenderá se não quiser.