O Sp. Braga volta a marcar passo na abertura da fase de grupos da Champions. Força de vontade ajuda mas não chega. Com 65 por cento de posse de bola e 35 remates, a formação arsenalista chegou ao final do encontro a zero. O Cluj, com eficácia alicerçada em nomes negligenciados pelo mercado português, garantiu os três pontos (0-2).

Mário Felgueiras e Rafael Bastos. Dois protagonistas, a mesma causa. Ex-arsenalistas com motivação extra para o encontro num Estádio AXA pouco composto (menos de dez mil espectadores). A crise ajudará a explicar esse facto.

A experiência não é argumento para justificar a derrota, face aos nomes apresentados pelo treinador arsenalista.

Rafael Bastos bisou na primeira parte, Mário Felgueiras defendeu tudo na segunda. 24 intervenções do guardião português. Um número impressioante!

O Sp. Braga entra com o pé esquerdo, a exemplo do que aconteceu há dois anos. Seguem-se visitas a Galatasaray e Man. United. Missão complexa perante tal cenário.

Dez portugueses de início

José Peseiro recuperou Nuno André Coelho e satisfez a vontade popular, juntando Márcio Mossoró a Ruben Micael. O Sp. Braga acrescentou portugueses ao onze, apresentando seis nomes que orgulham o povo e deixarão certamente Paulo Bento satisfeito.

Ainda assim, a formação arsenalista não teve grande retorno das novidades apresentadas. Nuno André Coelho integrou um setor defensivo que acumulou erros gritantes ao longo do encontro, enquanto Ruben Micael provou ser demasiado parecido, e talvez incompatível, com Mossóro.

Criticar um treinador que mexe e perde é fácil. Redutor até. Convém acrescentar elementos para a análise e recordar a dinâmica de Lima no centro do ataque, embora Éder seja um talento com demasiado potencial para desperdiçar. Sobretudo, perceber como algumas unidades influentes da equipa apresentam níveis baixíssimos de inspiração.

Alan e Hugo Viana, os dois capitães de equipa, destruíram quase tudo que dantes criavam. Erro após erro, nervosismo crescente a que nem os mais experientes e consagrados escapam. Alan, que recuperara as tranças para levantar a moral, percebeu que nem o cabelo serve de amuleto. Saiu ao intervalo.

Com um Sp. Braga em cima do adversário, precisando de maior presença na área, José Peseiro viria ainda a prescindir de Hugo Viana. Quando a inspiração falta, não há nome que resista.

O Cluj, que se alimenta com regularidade no futebol português (quatro lusos no onze), agradeceu a noite de desacerto e garantiu um triunfo importantíssimo. Aproveitou o que Ioan Andone anunciara como combustível para a equipa: o desejo de vingança nos relvados nacionais.

Duas doses de Bastos

Rafael Bastos e Mário Felgueiras, brasileiro e português que vestiram a camisola do Sp. Braga, acabaram por fazer isso mesmo. O primeiro, arsenalista por meros seis meses e oito jogos em 2010, esperou pelo seu segundo golo para transmitir o que lhe ia na alma. E assim, sem necessidade, provocou os adeptos locais.

O Sp. Braga, que aproveita os talentos desperdiçados por outros, acaba por acumular igualmente alguns exemplos de fraco aproveitamento. Rafael Bastos é um criativo com inegável qualidade. Não perdoou na sequência de um contra-ataque, agradecendo o passe de Sougou (ex-Académica) e deixou três adversários pelo caminho para assinar o 0-2.

Mário Felgueiras fez o resto. O guarda-redes português, o mesmo que ocupou a baliza minhota na 3ª pré-eliminatória da Champions em 2010/11, frente ao Celtic, acumulou defesas de bom nível ao longo do encontro, sustendo a resposta dos arsenalistas.

35 remates, 24 defesas de Mário Felgueiras! Algumas intervenções de grande nível do guardião, a par de evidente falta de eficácia dos arsenalistas. A escassez de jogo pelos flancos deixou marcas.

65 por cento de posse de bola. Mas tê-la para quê? Não basta.