E agora para algo completamente diferente. Da glória na UEFA à crua realidade interna, impõem-se palavras diferentes para o Sp. Braga de Jorge Costa. Venceu o Est. Amadora, é um facto, mas a actuação e a atitude da equipa, nomeadamente na primeira parte, devem ter levado o novel técnico ao desespero. Uma partida interessante, onde a equipa de Faquirá não merecia ter saído derrotada, nomeadamente pela excelente lição táctica que deu na «pedreira». E além de duas grandes penalidades, o árbitro Elmano Santos ainda deu uma de Marc Batta, lembram-se? Aquele juiz francês que expulsou Rui Costa na Alemanha e destruiu o sonho da qualificação da selecção nacional para o Mundial de 1998. Desta vez, foi Wender a vítima.
Não é coisa nova, aliás acontece com alguma frequência. Após a excitação do feito na Europa - a eliminação do Parma nos 16-avos-de-final da Taça UEFA -, chegam os sintomas de ressaca, não raras vezes insuportáveis. Neste caso, não se pode falar em enjoos, cabeça pesada, dores musculares e cansaço excessivo, mas talvez os danos colaterais não sejam assim tão distintos, quando aplicados a uma equipa de futebol.
De facto, o Sp. Braga apresentou-se sem qualquer dinamismo ou discernimento perante o Est. Amadora. Viu-se, antes, um conjunto desconexo, desconcentrado, por vezes bocejante. Ora, é certo que a Liga portuguesa não tem níveis sequer comparáveis a uma prova europeia, mas trata-se, em primeira análise, de uma prova profissional e extremamente competitiva. De resto, estamos certos que nela não há lugar para crises de hedonismo ou ataques egocêntricos. E quem se atreve a tais atitudes arrisca-se a passar muito mal. Foi o que aconteceu em Braga com o Sporting local.
Condescendência minhota, aproveitamento estrelista
É certo que Jorge Costa se viu privado de várias peças importantes. Aos lesionados Vandinho, Madrid, João Pinto - teoricamente, o trio que ocuparia os lugares do meio-campo - e Maciel, o recém-empossado técnico teve que juntar o nome de Zé Carlos que, à última hora, desapareceu da convocatória. Ainda assim, é complicado compreender uma entrada tão confrangedora em jogo, por parte dos arsenalistas.
Sem velocidade e num estilo irritantemente relaxado, o Sp. Braga foi concedendo condescendentes veleidades ao Est. Amadora que, muito bem, não se fez rogado. Onze minutos, golo de José Fonte, no seguimento de um pontapé de canto. E a defesa do Braga a olhar. E só na marcação de uma grande penalidade, já depois de Wender ter desperdiçado outra, o Sp. Braga empatou. Ao minuto 36, Paulo Jorge sossegava as parcialmente as bancadas da «pedreira».
E ao cair do pano, cabeçada de Wender e três pontos na mão
O Sp. Braga reentrou ligeiramente melhor. Acima de tudo, com outra postura. Sem jogar bem, longe disso, a equipa começou a jogar mais pelos flancos e teve um Wender diferente, para melhor. Uma melhoria, ainda assim, insuficiente para abanar com a sólida estrutura defensiva do Estrela. Os três homens de combate no meio-campo (Marco Paulo, Luís Loureiro e Daniel) contaram sempre com a ajuda do inesgotável Rui Borges e, apesar do domínio bracarense, o jogo parecia estar condenado a uma igualdade.
Mas Jorge Costa arriscou nos últimos quinze minutos e foi premiado pelo arrojo. Abdicou de um médio (Castanheira), apostou em Davide que se colocou ao lado de Chmiest e o ansiado golo da vitória surgiria mesmo ao cair do pano. Wender, ao segundo poste e sem marcação, aproveitou para cabecear para a baliza do desamparado Paulo Lopes, um dos melhores em campo.
A arbitragem de Elmano Santos foi globalmente correcta, apesar de alguns lances de dúvida. Nas duas grandes penalidades assinaladas, será necessário recorrer às imagens televisivas, pois são lances de difícil análise. Já na expulsão a Wender, pareceu excessivamente rigoroso. Uma atitude «à Batta», na hora da substituição do extremo.