Em vésperas de receção ao Sporting, Jorge Simão deixa o comando técnico do Sp. Braga, tal como havia acontecido com José Peseiro na primeira volta antes da visita a Alvalade.
Esta semana, no Minho, terra do vira, os braguistas vivem um déjà vu fora de tempo. E depois de uma espécie de vira o disco e toca o mesmo, agora, Salvador optou pelo lado B.
Abel Ferreira, que então subiu da equipa B para ocupar o lugar como interino (para conseguir uma surpreendente vitória por 1-0 em casa dos leões), é agora chamado a assumir em definitivo o lugar de treinador principal.
O cenário já previsto para a próxima época – entretanto Abel renovou até 2020 – mas foi antecipado com o pedido de demissão de Jorge Simão, que na hora da despedida «evocou princípios» e sublinhou ter colocado o lugar à disposição numa altura em que «é já impossível atingir a meta dos 65 pontos».
Duas trocas de treinador numa época é, naturalmente, sinal de fracasso, como reconhece José Nuno Azevedo, antigo capitão do Sp. Braga.
«A saída de Peseiro precipitou-se com a eliminação na Liga Europa e na Taça de Portugal, porque no campeonato as coisas estavam a correr bem. A mudança, porém, não foi feliz. Houve também algumas razões para o insucesso: deficiências no plantel, excesso de lesões. Quando um treinador não planeia a época e entra a meio torna-se mais complicado. O contexto que Jorge Simão encontrou não era fácil», afirma ao Maisfutebol o histórico lateral-direito dos arsenalistas, que representou clube entre 1992 e 2003.
65 pontos: Simão falhou bitola de Peseiro
Quando Simão saiu de Chaves e foi apresentado em Braga, a 20 de dezembro, encontrou uma equipa que tinha acabado de alcançar o pódio da Liga, ultrapassando o Sporting. Quatro meses depois, a equipa está no quinto lugar, a cinco pontos do rival Vitória de Guimarães.
Os resultados na Liga pioraram com a troca de treinadores: José Peseiro conseguiu 26 pontos em 13 jornadas, mais do que os 22 que Simão conseguiu em 16 – enquanto Abel conquistou os três pontos em Alvalade na jornada 14, a única jornada em que orientou a equipa. O registo de pontos caiu significativamente: de 2,07 pontos conquistados por jornada para 1,37 – pelo meio, como referido, Peseiro foi eliminado da Taça de Portugal e da Liga Europa, enquanto Simão perdeu a final da Taça da Liga diante do Moreirense.
A prestação no campeonato estabeleceu as diferenças e faz concluir que o Sp. Braga ficou a perder com a troca de treinadores: se Simão mantivesse a bitola de Peseiro, até conseguiria atingir os 65 pontos a que se propôs aquando da sua chegada a Braga. O objetivo tornou-se matematicamente inalcançável no último fim de semana, com a derrota em Paços de Ferreira (3-1).
O Sp. Braga soma neste momento 51 pontos, quando estão apenas 12 em disputa. Tem apenas menos três pontos do que na época passada por esta altura, com Paulo Fonseca; em que terminou o campeonato com 58, mas fez uma boa campanha europeia e venceu a Taça de Portugal.
Três treinadores numa época, como em 2007 e 2008
O trajeto de Simão foi atribulado. No mercado de Inverno, o treinador foi a Chaves buscar o trio Battaglia, Paulinho e Assis, colocando de lado outras opções do plantel bracarense, afastou ainda o defesa-central André Pinto, capitão que tardava em renovar, protagonizou algumas conferências de imprensa inusitadas e, sem resultados, teve de enfrentar a contestação dos adeptos.
António Salvador, que em dezembro último afirmava Simão como «um treinador à Braga», deixava nas últimas intervenções transparecer que já não contava com o técnico para a próxima época.
Faltava encontrar timing para o desenlace, que acontece a quatro jornadas do final do campeonato, a um mês das eleições no clube, em que Salvador defronta António Peixoto, ex-guarda-redes de futsal conhecido por Pli, que se realizam a 27 de maio.
A mais recente «chicotada» em Braga aconteceu em 2013/14, quando Jorge Paixão substituiu Jesualdo Ferreira. No entanto, ter três treinadores na mesma época não é uma situação singular neste campeonato (Arouca, Estoril, Belenenses, Moreirense e Nacional também o fizeram em 2016/17), como não é algo inédito na era Salvador, que chegou à presidência do Sp. Braga em 2003. Em 2006/07, Carlos Carvalhal, Rogério Gonçalves e Jorge Costa passaram pelo comando técnico; em 2007/08, a época começou com Jorge Costa, mas a equipa seria orientada por Manuel Machado e terminaria com António Caldas, que subiu da equipa B.
Desta vez, a solução volta a recair sobre o técnico da equipa B, mas a aposta é, pelo menos, a médio prazo. E faz sentido para José Nuno Azevedo: «Valorizou-se o trabalho positivo na equipa B com uma promoção que é natural. Agora, há que ter paciência com o Abel. Tal como os jogadores, os treinadores têm de ser avaliados por uma sequência de jogos. Mas na primeira oportunidade que teve, ele correspondeu contra o Sporting, agora, de novo com o mesmo adversário e a jogar em casa pode voltar a correr bem.»