Todos os adjectivos são escassos para qualificar um jogo intenso, recheado de golos e com a participação de duas equipas ambiciosas na conquista dos três pontos. O velho Vidal Pinheiro foi a combinação perfeita do futebol espectáculo com doses bem abonadas de suspense no marcador, tal foi a entrega exemplar de todos os intervenientes. Ninguém baixou a cabeça, ninguém repousou os braços, ninguém se deu por contente com a realidade do presente. 

Tantos ingredientes juntos só poderiam dar origem a um encontro louco com contornos sublimes à medida que o tempo ia passando, ou seja, a marcha do resultado adquiria novos números, aproximações constantes e remates certeiros para gostos distintos. Houve emoção e derrame de suor, porque os adversários foram como guerreiros famintos em busca do golpe final, capaz de conferir a tão alvejada glória. Autor da derrocada: Feher. 

E com isto, o Braga amealhou pontos preciosos e aproximou-se do líder Boavista. O campeonato torna-se cada vez mais emotivo com a conquista do título a merecer várias interrogações. Este parece ser um ponto fundamental, numa altura em que o Benfica soma desaires e vê a possibilidade de participar numa competição europeia como algo de muito complicado. Por isso, os bracarenses têm legitimidade para sonhar com tudo e mais alguma coisa. 

Vitória histórica 

Para já, há que falar do conjunto minhoto por variadíssimos motivos. O primeiro deles tem a ver com um factor puramente histórico: 16 anos depois os bracarenses voltam a ganhar no reduto do Salgueiros. Aliás, ao longo da época a tradição tem deixado de ser aquilo que era e o Braga vence em terrenos onde nunca tinha carimbado resultados positivos. A Amadora é o exemplo disso mesmo. 

Mas vamos ao que interessa. A filosofia de Manuel Cajuda parece ter consequências práticas na forma de jogar da equipa e mesmo nas questões de carácter psicológico. Os jogadores apresentaram-se de uma forma desinibida, alheios à importância do desafio, personalizados pela glória. Não houve nervos, nem quebras, apesar do Salgueiros ter chegado ao empate. 

Ao longo da semana, o treinador comparou a sua equipa ao Corunha e parece ter ganho resultados com a analogia. Não é impossível, nem parece ser um oásis, um grupo talhado pelo talento ter aspirações superiores ao terceiro lugar. Ainda não perdeu com os chamados quatro grandes e respira confiança e saúde física, logo a surpresa pode acontecer a qualquer momento. 

Golos de bola parada 

O Braga entrou em campo com um desenho interessante, que consistia em marcar cedo para evitar males maiores e tolher o Salgueiros perante tamanha capacidade de finalização. Certo. Os protagonistas interpretaram à risca o pedido de Cajuda e pisaram a relva dispostos a tudo para garantirem a tranquilidade. Via-se isso nas jogadas, nos passes e nos remates. Tudo era feito com intenção. 

Zé Roberto surgiu como desequilibrador, capaz de fazer a diferença nos lances de bola parada. Marcou dois golos de livre e ofereceu o primeiro remate certeiro da noite a Odair, mas o melhor ainda estava para vir. Quando todos se davam por satisfeitos com o empate, o instinto de Feher reapareceu no prolongamento, a emendar de forma sublime um centro fantástico de Luís Filipe. E o treinador não cabia em si de contente, nem ele nem o vasto número de adeptos que se deslocou à cidade do Porto. 

Erros do Salgueiros 

Do Salgueiros resta dizer que teve o pássaro na mão, mas deixou-o fugir por culpa própria e também pela força da palavra crua: «azar». Esteve a perder por 3-1, virou o marcador até à igualdade e também esteve perto da vitória, à custa do sacrifício e da eficácia das melhores unidades. Especialmente de Bodunha, defesa que mostrou ter argumentos de ponta-de-lança ao marcar dois golos. 

Mas tudo se complicou por uma razão simples. Quando o adversário tem um jogador capaz de fazer a diferença nos lances de bola parada (Zé Roberto), os defesas devem evitar cometer faltas. E isso não aconteceu. Por isso o Braga marcou três tentos na sequência de jogadas de laboratório, graças ao poder de finalização da estrela brasileira na hora de colocar a bola no solo e olhar a baliza de frente, mesmo com a barreira a tapar o melhor ângulo. 

Da arbitragem nada de mau a dizer. Duarte Gomes esteve em bom plano. Justo no aspecto disciplinar e atento ao desenrolar dos lances. O jogo teve um juiz à altura, o que costuma ser pouco vulgar nos tempos modernos.