Um telefonema quando estava a cortar a relva trouxe Laszlo Boloni para o Sporting. Claro que a contratação do treinador romeno não se resumiu a essa ligação de um misterioso homem do futebol mundial, cujo nome o treinador nunca revelou. Ao fim de encontros com os dirigentes de Alvalade, Boloni tomou a decisão de deixar a seleção romena, que orientava. Transferia-se para Lisboa e logo no estágio percebeu que nem tudo iam ser facilidades.

Ainda em Rio Maior, fez um teste físico à equipa. Comparou resultados com a seleção B da Roménia e assustou-se. No final da pré-época, algumas certezas e muitas dúvidas. Até que chegou o arranque do campeonato, frente ao FC Porto. Um triunfo por 1-0, golo de Niculae, aumentou as expectativas. Mas nada fazia prever o que viria a seguir.

«Não conhecia Boloni, cheguei ao clube no mesmo dia que ele e foi um trabalho que foi crescendo. Tivemos muitas dificuldades no início». Rolão Preto, o adjunto escolhido pela direção leonina, resume ao Maisfutebol os primeiros tempos do Sporting 2001/02, que tentava recuperar o título perdido para o Boavista.

«Já falava Francês, não como agora, e o Boloni estava a adaptar-se ao país e à Língua.» Primeiro problema identificado: um treinador novo a tentar passar a mensagem pelo adjunto. «Era muita carga física, sentíamos que não andávamos», conta o capitão Pedro Barbosa, ao Maisfutebol. Segundo problema apontado e Niculae, herói do Clássico, a desperdiçar uma grande penalidade no Restelo. O Belenenses castigou os leões com um 3-0 . Boloni estava agastado com a defesa e a pressão aumentava. Ia piorar.

Depois do setor recuado, chegou a vez de o ataque ficar a zero com o Alverca, que marcou um. Em Alvalade! Ao fim de três jogos, a classifcação ditava um Sporting antepenúltimo e já a quatro pontos do líder Benfica.

«Cheguei, bati e fiz, né»

O Sporting reinventou-se. «Nessa altura, depois da derrota com o Alverca, o campeonato parou, por causa da seleção. Permitiu-nos respirar e ganhar fôlego. Depois, chegou o Jardel e eu voltei à equipa.» Pedro Barbosa recorda como o ciclo se inverteu. No fecho do mercado, chegava Super Mário e a nação verde e branca virou o foco para um avançado que tinha números históricos pelo FC Porto.

«Estive com um pé no Marselha e depois muito perto de voltar ao FC Porto. Mas acabei no Sporting.» Jardel faz questão de referir a história ao nosso jornal. Ainda que com um peso desaconselhável a qualquer desportista, Boloni lançou-o. Emagrecer Jardel não era prioridade.

«O meu primeiro jogo foi com a U. Leiria. Cheguei, bati penalty e fiz, né.» Fez, fez golo e a nação verde e branca entusiasmava-se, ainda que o leão trouxesse apenas um ponto do Lis. Só que o leão arrancou para uma primeira série positiva de resultados e havia iniciou-se uma relação umbilical entre dois jogadores: João Pinto, que não jogou em Leiria, e Jardel.

«Papai João. Tinha a mesma relação com ele que com o Drulovic. Identificámo-nos muito bem.» As primeiras palavras de Jardel são repetidas ao Maisfutebol do mesmo modo que as disse em 2001/02. As últimas são confirmadas por João Vieira Pinto.

«Entendemo-nos muito rapidamente. Nem precisávamos de falar em campo: ele sabia como eu metia a bola. Normalmente, procurava uma bola suave, ao segudno poste, porque a tendência da defesa é reforçar a cobertura no primeiro. Ele, sendo alto, com aquela movimentação e jogo de cabeça, aproveitava isso muito bem».

O próprio Boloni reconhece: este era um problema resolvido. «O Spehar não foi suficientemente bom, o Niculae não era avançado-centro. Foi importante encontrar uma defesa forte e comprar o Jardel», lembra ao Maisfutebol. No final desse ano, a entrada de rompante de SuperMário no onze foi justificada assim, em livro: «Porque é o Jardel!»