Houve um tempo, não muito distante, em que José Couceiro estava do outro lado da «barricada». O treinador do F.C. Porto foi director-geral do Sporting em 1998, mas sem grande sucesso, pelo que a sua saída do cargo não demoraria muito tempo. O clube vivia tempos conturbados, com muitas manobras de bastidores e José Roquette a jogar em vários tabuleiros de influência. Couceiro não foi feliz nessa viagem, como ainda não teve motivos para sorrir de dragão ao peito.

Neste regresso a Alvalade, o Maisfutebol falou com uma das pessoas que mais esteve ligada a essa passagem pelo reino do leão. Carlos Manuel foi o treinador escolhido por José Couceiro para combater a crise de resultados vivida em 1997/98. A equipa tinha passado pelas mãos de Octávio Machado, Francisco Vital e Vicente Cantatore e, em Janeiro, surgiu a hipótese de contratar «Carlão», que orientava o Salgueiros. Com ele, foram para Alvalade os jogadores Leão e Renato, enquanto outros eram colocados a treinar na equipa B, por orientação superior.

Apesar dos poucos meses que passou como treinador do Sporting [saiu no final da época, em quarto lugar], Carlos Manuel só tem elogios para o «patrão» José Couceiro. «Foi uma experiência óptima, em que houve, apesar de tudo, idoneidade e seriedade numa relação que considero boa», aborda, explicando, de imediato, como decorreu o seu processo de contratação: «O José telefonou-se, fomos a casa do presidente e definimos os pormenores do contracto com total tranquilidade. Na saída foi tudo muito igual, sempre com as melhores intenções. Era um excelente director-geral e, se calhar, merecia ter continuado no cargo».

A relação foi fácil, porque tratava-se de «um homem que esteve sempre ligado ao futebol, pois tinha sido atleta e presidente do sindicato de jogadores». Viveram juntos «dias bons e alguns maus», mas Carlos Manuel não aponta o dedo a Couceiro quando se fala nos jogadores que já não podiam ser convocados, como Afonso Martins ou Pedro Martins. Prefere falar na aposta nos jovens Patacas, Caneira e Simão, que deram uma nova alma ao leão e permitiram alcançar o quarto lugar. O esvaziamento de poderes de Couceiro começou a surgir durante a época de 1998/99, já com Mirko Jozic a treinador, e a saída tornou-se inevitável. Paulo de Abreu era o novo homem forte do futebol.

Tempos díficeis

Carlos Manuel cedo percebeu em José Couceiro aptidões de treinador. «Foi sempre uma pessoa que pensou nisso e talvez esperasse a altura certa para assumir o risco», referiu, analisando a situação actual, em que os resultados não têm sido muito positivos: «Eu já passei pelo mesmo e sei o que está a passar. Ele não é o único responsável nisto tudo, pois trata-se de algo que tem a ver com o momento actual do clube. O Porto também pode passar por fases menos boas, nomeadamente após dois anos de grandes conquistas. Existe uma crise, mas penso que Couceiro vai conseguir ultrapassá-la, pois por cima dele também tem pessoas que percebem de futebol e podem ajudá-lo».

Quanto ao resultado do desafio desta segunda-feira, «Carlão» confessa que será sempre um jogo de tripla, «muito difícil para os dois». «Até se pode dizer que o Sporting está a jogar melhor, que é muito forte em casa, mas também não consegue ser consistente, enquanto o F.C. Porto pode sempre fazer a diferença. É complicado lançar um prognóstico e até nem sei se o empate seria o melhor resultado para o Benfica», revela, entre risos, não escondendo a sua alma encarnada.