Houve alturas em que o jogo parecia um jantar romântico, mas no final perdeu-se o sentimentalismo e ficou apenas o essencial: o jogo, portanto. Que o Sporting ganhou, é verdade, mas sem que em certos momentos evitasse ouvir uma ou outra assobiadela. O que explica tudo, portanto.

Por aqui já vê como o Sporting conseguiu até uma proeza rara este ano: ressuscitar um Olhanense que é por esta altura um amontoado de cacos.

A formação algarvia entrou no jogo animicamente destruída, foi cilindrada em toda a primeira parte, mas conseguiu reagir na segunda e devolver emoção ao jogo. Como é que isso é possível? É fácil de explicar: o Sporting encheu-se de fantasmas e falhou nos aspetos em que costuma ser mais forte.

Na capacidade de pressionar o adversário, por exemplo, mas sobretudo na capacidade de ganhar as segundas bolas. Foi apenas uma meia-hora, mas chegou para manchar a exibição.

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Nessa meia hora o Olhanense partiu desse pressuposto essencial (a capacidade de ganhar segundas bolas) para estar mais sobre o jogo. Subiu no terreno, jogou cada vez mais perto da baliza de Rui Patrício e obrigou até o guarda-redes a tornar-se essencial em três ocasiões.

Convém dizer de resto que houve alturas em que o parágrafo anterior parecia impossível de vir a fazer parte desta crónica. O que é um ótimo pretexto para referir que não foi bem a Olhanense que encontrou forças para reentrar no jogo: foi o Sporting que, altruísta, a puxou do fundo do poço.

Na primeira parte, por exemplo, a Olhanense apresentou-se como muito provavelmente a pior equipa que passou por Alvalade esta época. Ou se não a pior, pelo menos ao nível do Alba.

Retraída, dispersa, desconcentrada, só rematou uma vez: e já no período de compensações. O Sporting, esse, encheu a vista. Empurrado para a frente por um William Carvalho que voltou a mandar no jogo todo, e dinamitada pela capacidade técnica de Carlos Mané, o Sporting fartou-se de jogar à bola. 

Fez apenas um golo, num desvio à boca da baliza de Carlos Mané após excelente trabalho de Montero, mas criou oportunidades para construir uma goleada.

O mesmo Montero, por exemplo, fez um golo mal anulado, Marcos Rojo teve um cabeceamento que Belec salvou muito miraculosamente em cima da linha, André Martins rematou por três vezes com muito perigo. 

Destaques: William Carvalho muda tudo

O Sporting jogava pelas alas, fazia vários cruzamentos e tinha até o desplante de trocar a bola dentro da área em jogadas de agradável recorte técnico. Naquela altura tudo anunciava, como já se disse, uma goleadas das antigas . Era uma fase feliz da relação leonina com os adeptos, portanto, e que só tinha dois lamentos: as falhas na finalização e um amarelo parvo de Marcos Rojo que o deixa de fora da viagem a Vila do Conde.

A segunda parte, lá está, mudou tudo. A equipa afundou-se até fazer um muito nobre exercício de reanimação de um adversário que parecia sem sinais vitais.

Nessa altura a Olhanense impôs-se com um futebol musculado, feito de lançamentos longos e capacidade de luta, teve sempre mais força para ganhar as bolas divididas e conseguiu ate finalizar com perigo.

É certo que no fim garantiu a vitória magra, e para isso muito contrubuíram as entradas de Wilson Eduardo e Carrillo nos quinze minutos finais, mas não deixou de dar um tom cinzento a um reencontro que se queria conciliador depois da péssima exibição no dérbi com o Benfica.

Ainda não foi hoje que o Sporting fez as pazes com o futebol, portanto.

Houve muitos beijos nas bancadas, na noite em que os casais celebraram o dia dos namorados com o apelo dos ecrãs gigantes do estádio, mas faltou amor na relação entre a equipa e os adeptos: por instantes sobraram apenas amuos. 

Haverá outras noites mais felizes, seguramente.