11 títulos de campeão da Europa depois, a lenda do Real Madrid não para de crescer. Aliás, não será grande risco dizer que Real Madrid e Liga dos Campeões se confundem tal é a ligação do emblema da capital espanhola a esta prova e à sua predecessora Taça dos Campeões Europeus. Uma lenda que começou a ser escrita por Di Stéfano e companhia e que agora continua a ser legitimada por Cristiano Ronaldo, Bale, Kroos e muitos outros, sob a liderança de outra antiga estrela do clube (Zinedine Zidane).

Ora, perante tudo isto, o Real Madrid-Sporting desta quarta-feira no Santiago Bernabéu será um daqueles duelos que nenhum jogador gosta de falhar. O palco excita; o adversário, pela mística, história e sobretudo pela tremenda qualidade das individualidades, também. Para o Sporting, não será apenas mais uma partida: esta é uma oportunidade de ouro de Jorge Jesus e seus pupilos mostrarem que o grande arranque de temporada não tem sido em vão…

Uma coisa é certa, porém: se o arranque de temporada dos leões está a ser forte, o do Real não o tem sido menos. Para começar, a 9 de Agosto, o emblema madrileno derrotou o Sevilha em Trondheim (3-2, após prolongamento), arrebatando mais uma Supertaça Europeia para o vasto museu do Chamartín. Depois, nas três primeiras jornadas da Liga espanhola, alcançou outras tantas vitórias: 0-3 em San Sebastián, frente à Real Sociedad, 2-1 na receção ao Celta e 5-2 frente ao Osasuna, no passado sábado, em jogo disputado no Santiago Bernabéu. É, portanto, um Real Madrid invicto aquele que se apresenta para um confronto frente a um Sporting que também venceu todos os jogos oficiais disputados neste arranque de temporada.

Um dos segredos para o início retumbante da formação espanhola poderá residir na manutenção da base da última temporada, em particular do grupo que concluiu a época a lutar pelo título de La Liga e a conquistar a Champions ao rival Atlético em Milão, acrescentando-lhe reforços esporádicos, em particular ex-canteranos que agora retornaram à casa-mãe, depois de terem sido emprestados ou vendidos a outros clubes de alto nível.

Nesse particular, há que destacar dois nomes: Álvaro Morata, avançado vendido há dois anos à Juventus por 12 milhões de euros e entretanto repescado por 30 milhões ao emblema transalpino e o virtuoso Marco Asensio, médio ofensivo que esteve emprestado na última temporada ao Espanyol, tendo sido um dos destaques da equipa catalã.

Fora estas incorporações e os regressos de Fábio Coentrão e Lucas Silva (que esteve para ingressar em Alvalade, mas que não terá concretizado a transferência por supostos problemas cardíacos detetados nos exames médicos), apenas se regista a subida do canterano Mariano Díaz à equipa principal, embora as utilizações do jogador hispano-dominicano se presumam esporádicas.

Quanto a vendas, o Real Madrid acabou por ter um inédito período de mercado veraneante no qual saiu com lucro acumulado, na sequência das transferências de Jesé para o Paris Saint-Germain, por 25 milhões de euros, de Denis Cheryshev para o Villarreal, por 7 milhões de euros e dos jovens médios Álvaro Medrán e Omar Mascarell para Valência e Eintracht Frankfurt, respetivamente, por um somatório de 2,5 milhões de euros. Há ainda a destacar a conclusão de contrato de Álvaro Arbeloa, ao fim de sete épocas consecutivas nos blancos, tendo o experiente lateral espanhol saído para o West Ham.

O 4-3-3 da praxe, só que agora com mais soluções

ONZE TIPO:

Zinedine Zidane continua a ter como sistema preferencial o 1-4-3-3, podendo optar em situações esporádicas por recorrer ao 1-4-2-3-1 ou ao 1-4-4-2. O Real demonstra ser uma equipa muito forte e com uma panóplia de soluções e variantes considerável tanto em ataque posicional como na transição ofensiva. Partindo daquela que deverá ser a equipa inicial frente ao Sporting, destaca-se a enorme criatividade e critério (com e sem bola) do duo Modrić-Kroos, escudados pelo incansável Casemiro nas costas. O croata é um autêntico estratega, rompe linhas, tanto em condução, como com um passe, distribui, cria, aparece em zona de remate e ao mesmo tempo equilibra a equipa. Já o alemão destaca-se pela forma como pressiona a oposição, como coordena as saídas de bola desde trás e como rege o jogo, a partir da sua excelsa visão de jogo, lançando passes médios e longos magistrais. Além do mais, pode ser uma arma a ter em conta na meia distância.

Se o meio-campo do Real Madrid é de toque, o ataque é veloz e feito de ruturas constantes, tanto em movimentos interiores como na busca da profundidade. Ainda com um Cristiano algo limitado pela lesão da final do Europeu, mas com o discernimento suficiente para aparecer em zonas de finalização e criar desequilíbrios em ataques rápidos, espera-se que seja a mota Bale a assumir o rasgo, acrescentando verticalidade nalguns momentos e capacidade de remate, a puxar para dentro, noutros. No centro do ataque, espera-se que Álvaro Morata mantenha o lugar. Avançado inteligente a procurar os espaços vazios e capaz de se associar aos companheiros de trás, vem buscar jogo, atraindo marcações e permitindo que Cristiano e Bale se possam mover em terrenos com menor densidade populacional. Além do mais, revela qualidade na finalização, embora o início de temporada nem esteja a ser particularmente espetacular nesse capítulo…

Há que relevar ainda o papel preponderante dos laterais nas ações ofensivas. Tanto Carvajal (ou Danilo) como Marcelo se projetam constantemente para o ataque, acrescentando mobilidade, largura, profundidade e qualidade de passe/cruzamento à equipa nos momentos de organização/transição ofensiva. São eles também e a sua marcada presença ofensiva que impelem o Real Madrid a ser uma equipa de vertigem. Apesar de tudo, e tendo em conta que são jogadores com disponibilidade física, rápidos e agressivos, recuperam a posição sem grandes dificuldades, conseguindo muitas vezes travar os movimentos dos adversários nos corredores laterais.

Ora e se o Real é uma equipa criativa, veloz e goleadora na frente, atrás procura organizar-se de forma correta e responde bem à perda, por norma. Alterna entre momentos de maior pressão sobre o portador da bola contrário e períodos de organização defensiva mais posicional. Um elemento-chave desde a segunda metade da última temporada nas garantias do equilíbrio defensivo da equipa é Casemiro. Muito forte no desarme, no controlo dos espaços e na marcação defensiva, o internacional brasileiro é neste momento um titular indiscutível do Real Madrid. Sem ele, a equipa perde consistência física e tática na organização defensiva do meio-campo, ficando um pouco mais exposta a movimentos entre a linha defensiva e do meio-campo por parte dos rivais.

No centro da defesa, vão mandando os imperiais Pepe e Sergio Ramos (embora este último, em particular, tenha algumas desconcentrações e abordagens tardias que lhe complicam a vida…), com o rápido e compenetrado Varane a mostrar predicados neste arranque de temporada. Em situação de cruzamento, a equipa madridista pode sofrer um pouco quando o rival atrai a atenção dos dois centrais, deixando o segundo poste mais livre para a entrada de outros elementos. Foi visível esse cenário, por exemplo, no encontro do último fim de semana com o Osasuna, embora seja importante destacar que tanto Danilo como Nacho (os laterais nessa partida) não sejam tão acutilantes a fechar os espaços como Carvajal e Marcelo.

O Sporting terá de procurar explorar algumas saídas posicionais de Sergio Ramos e as subidas dos laterais atacando com sagacidade esses espaços. Os movimentos de rutura de Joel Campbell ou Gelson Martins, bem como a presença de um homem de área (Bas Dost) para atrair os olhares dos centrais madrilenos poderão ser chaves para o Sporting conseguir levar um bom resultado do Santiago Bernabéu.

Finalmente, outro detalhe importante a ter em conta são, como é normal, as bolas paradas. Além da tremenda qualidade na cobrança de livres diretos por parte de jogadores como Cristiano Ronaldo ou Gareth Bale, há que ter em conta o exímio jogo aéreo dos centrais e avançados madridistas, no ataque aos livres laterais e pontapés de canto.

No fundo, a tarefa sportinguista é evidentemente complicada mas como pudemos ver não é impossível derrubar este Real Madrid. Será preciso para que tal aconteça, é certo, uma capacidade tática, defensiva e física acima da média, uma entreajuda notável entre todos os jogadores e uma capacidade de aproveitamento das jogadas ofensivas, tanto em ataque posicional como, sobretudo em contra-ataque, soberba. A ver vamos se a «master piece» de Jorge Jesus de leão ao peito na Europa enfim chega...

A FIGURA

Cristiano Ronaldo: Escusado seria dizer que o capitão da seleção portuguesa é a grande estrela deste Real Madrid. Apesar de ter atravessado um longo período em que esteve afastado dos relvados – mais concretamente desde a final do Europeu, a 10 de julho até ao sábado passado- não perdeu as qualidades que fazem dele o jogador mais determinante da equipa merengue. Veloz, embora ainda sem a potência do costume, com técnica de drible, passe e remate, aparece muito bem na área rival para finalizar seja de que maneira for (pé direito, pé esquerdo, cabeça…). É uma garantia de golo segura e um jogador cada vez mais inteligente no entendimento do papel que tem em campo e daquilo que já são as limitações normais de um jogador de 31 anos, sem a explosão dos tempos idos de Manchester. Do ponto de vista sentimental, este será um jogo de emoções fortes, por toda a ligação e carinho demonstrado para com um clube que contribuiu decisivamente para o processo de formação enquanto jogador.