Fábio Costa é o protagonista do mais recente Depois do Adeus. O antigo lateral direito tem 32 anos, é atualmente motorista profissional de táxi mas não esquece os cinco anos de convivência com Cristiano Ronaldo no Sporting.

Ronaldo chegou a Alvalade em 1997, Fábio em 1998. Saíram ambos em 2003. Um trepou até ao topo do futebol mundial, o outro teve de desistir da carreira para procurar a subsistência financeira longe do futebol.

«Sou uns meses mais velho que o Ronaldo, era do ano acima, mas como ele andou sempre adiantado acabámos por jogar quatro ou cinco épocas juntos. Partilhámos os tempos em Alvalade, na Academia, na escola, e fico feliz por estar a ter o que ele merece», conta Fábio Costa, ao Maisfutebol.

O ex-jogador do Sporting garante que Cristiano Ronaldo demonstrou sempre uma grande preocupação pelo bem estar da sua família: «Com 14/15 anos, o Ronaldo já tinha contrato profissional e mandava o dinheiro para ajudar a sua família na Madeira. Sempre foi uma criança muito rebelde, como eu e o Paim, mas com ideias fixas e um grande coração.»

Fábio Costa recorda vários episódios com o avançado do Real Madrid. Um deles leva o antigo lateral a sorrir, pensando no altruísmo demonstrado por Ronaldo.

«Lembro-me que ele estava sempre num grupinho que ia a um restaurante, ao pé de Alvalade, buscar a comida que sobrava dos jantares. Não eram restos, eram hambúrgueres, coisas assim, que os jovens gostam. O Ronaldo, quando chegava, fazia questão de ir a todos os quartos distribuir a comida, mesmo por aqueles que não tinham ido com ele. Isso demonstra o seu caráter», salienta.

Como explicou o motorista de táxi, nessa altura os jovens ainda não tinham a Academia de Alcochete e ficavam em instalações situadas no Estádio de Alvalade, por baixo de uma das bancadas: 10 quartos, 4 camas em cada um, dezenas de jovens com o mesmo sonho.

O motorista de táxi que jogou com Cristiano Ronaldo

Em campo, Cristiano Ronaldo já demonstrava caraterísticas especiais, embora não fosse o jogador em maior plano de evidência na equipa de juvenis, por exemplo.

«Tenho vários jogos que fiz com ele gravados. Lembro-me sobretudo de uma fase final do campeonato de juvenis e de uma curiosidade: embora o Ronaldo tivesse imenso potencial, que todos reconheciam, quem dava mais nas vistas, nessa equipa, eram os extremos, o Paulo Sérgio e o Edgar Marcelino. O Ronaldo jogava no centro do ataque, via-se menos, mas distinguia-se pela postura, pela mentalidade», reconhece.

Durante a conversa com o Maisfutebol, Fábio Costa mencionou outro nome conhecido dos adeptos portugueses: Fábio Paim. Os dois cresceram num bairro social em Alcoitão e cruzam-se com frequência.

Enquanto Fábio Costa trabalha como motorista de táxi, Fábio Paim procura relançar (uma e outra vez) a sua carreira de jogador. Em dezembro de 2016, assinou pelo Sintra Football, da Divisão de Honra da AF Lisboa: «Moro ao lado do bairro e ainda vejo o Fábio Paim por aqui com frequência.»

«Quando se vem de um meio como este, é difícil fugir a tentações, a influências. O Paim teve acesso prematuro a valores altos, algo que mexe com uma criança que vem do bairro. De repente aparecem-te 50 mil ‘amigos’. Não duvido que ele no Sporting foi bem aconselhado, mas depois a situação descambou», resume Fábio Costa, desejando as maiores felicidades ao seu amigo, que tem atualmente 29 anos.