Analistas ouvidos pela Agência Lusa alertam para a situação financeira «muito debilitada» das SAD em Portugal, que estão todas muito endividadas, e referiram que o problema surgiu logo na sua criação.

O economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, advertiu que as se encontram fortemente endividadas, o que arrisca a sua capacidade de solvência. Alguns analistas falam mesmo em falência técnica.

Numa perspetiva de dividendos a receber, referiu, as SAD nunca pagaram dividendos, nem se espera que o façam ou possam fazer.

Numa perspetiva de valorização do capital próprio, acrescentou, «percebe-se que a trajetória de resultados dos exercícios ao longo do tempo é negativa, já houve necessidade de aumentos de capital para injeção de tesouraria e não é objetivo central das SAD o lucro e a valorização do seu capital».

«O endividamento explícito e implícito das SAD é de grande dimensão, conferindo riscos de insolvência importantes. Portanto, é difícil, do ponto de vista meramente económico-financeiro, compreender a compra de ações de uma SAD numa perspetiva de longo prazo», acrescentou.

O diretor de negociação do Banco Carregosa, João Queiroz, concorda com a necessidade de se olhar para a situação financeira das SAD, mas lembrou que o problema surgiu logo de início, desde que surgiu o formato das SAD.

«Por isso é que são mais observadas e seguidas por um tipo de investidor menos avesso ao risco, mais complacente», adiantou, lembrando o formato de «bola de neve de empréstimos obrigacionistas», ou seja, pedir um empréstimo obrigacionista para reembolsar o empréstimo anterior.

As emissões obrigacionistas são, segundo os analistas, um instrumento muito utilizado pelas três sociedades ligadas a clubes de futebol (Porto, Sporting e Benfica) e destinam-se normalmente a investidores individuais (adeptos, simpatizantes, sócios do clube), mas não só, investidores estratégicos ou os que estão à procura de taxas de rendibilidade elevadas , já que este tipo de investimento paga um juro acima do oferecido pelos depósitos e tem-se apresentado como um investimento historicamente seguro.