O penálti assinalado por suposta mão na bola de Jonathan, que impossibilitou o Sporting de empatar na Alemanha, serviu para o clube fazer regressar à ribalta a discussão em torno de uma série de propostas que já apresentou para melhorar a arbitragem.

Esta semana, por exemplo, volta a falar disso no jornal do Sporting.

Ora o
Maisfutebol teve acesso ao documento com as propostas que o Sporting enviou para a Federação, documento esse que o clube garante nunca ter sido discutido, e publica as principais sugestões da SAD leonina (o documento tem 22 páginas apenas referentes à questão da arbitragem).

A essas propostas, de resto, acrescenta outra, que tem sido referida frequentemente pelos dirigentes leoninos: a introdução dos meios tecnológicos na arbitragem.

Mas fez mais do que isso: foi ouvir um homem do meio. Neste caso Pedro Henriques, que dá a sua opinião sobre cada uma das principais propostas leoninas.

O antigo árbitro internacional, e atual comentador da TVI para questões de arbitragem, concorda com a maioria das propostas do Sporting. Confira tudo:

1. Profissionalização dos árbitros em regime de exclusividade
O sistema de profissionalização que avançou através de um modelo piloto prevê que a arbitragem seja considerada como a atividade principal de um árbitro. O Sporting defende que o árbitro profissional deve dedicar-se em exclusivo, não podendo ter outra atividade: atualmente um árbitro tem de treinar quatro vezes por semana das 14 às 16 horas, pelo que acaba por ficar com tempo para ter uma atividade secundária. A proposta quer exclusividade, com árbitros bem pagos e bons prémios de desempenho.

Opinião de Pedro Henriques: «O Sporting não está a propor nada de novo. O modelo de profissionalização que está a ser implementado prevê bons ordenados e bons prémios, ou acham que 2500 euros por mês e mil euros por jogo é pouco na realidade portuguesa? A única coisa nova é a exclusividade, mas o modelo do Vítor Pereira foi feito na perspetiva de caminhar exatamente para aí.»



2. Divulgação das notas, das alterações das notas e da classificação dos árbitros
O Sporting defende que a classificação dos árbitros integrados nas competições profissionais têm de ser mais transparentes e públicas, acrescentando que a transparência credibiliza a arbitragem e todo o processo de promoções e despromoções. Por isso defende a divulgação das notas e dos relatórios dos observadores, bem como o anúncio público dos casos de análise de arbitragens em que a Secção de Classificações pede a intervenção da Comissão de Análise e Recurso.

Opinião de Pedro Henriques: «Em teoria é excelente. Quanto mais transparência houver, melhor. O problema é quando as classificações são divulgadas semanalmente... Vai haver polémicas e críticas, por exemplo quando um árbitro pior classificado for nomeado para um jogo importante. Concordo com a divulgação das notas e das alterações das notas, tenho dúvidas em relação à divulgação do ranking dos árbitros.»

3. Despenalização de jogadores através de imagens televisivas
Atualmente as imagens servem para penalizar os jogadores que cometeram uma infração grave não vista pelo árbitro: fazem-no através de processos sumários e sumaríssimos. O Sporting propõe que as imagens televisivas possam também despenalizar os jogadores, sobretudo em cartões vermelhos mal mostrados, acrescentando que isso não seria mexer na soberania do árbitro dentro de campo, apenas permitiria corrigir erros de avaliação: até porque o Conselho de Disciplina decide os castigos com base nos relatórios do árbitro e o recurso para o Conselho de Justiça não suspende o castigo.

Opinião de Pedro Henriques: «Concordo. Desde que todos os jogos tenham o mesmo número de câmaras e o mesmo número de repetições. Concordo que faz sentido, mas tem de haver equidade e uniformização de critérios. Caso contrário os grandes até poderão ser mais prejudicados, porque os jogos deles são muito mais escrutinados.»

4. Sorteio dos árbitros 
Sporting defende que o árbitro de um jogo deve ser encontrado através do sorteio puro entre três equipas de arbitragem previamente designadas pelo Conselho de Arbitragem, tendo em conta a dificuldade do jogo, a classificação do árbitro e a colocação dos melhores oito árbitros no sorteio dos oito jogos de grau de dificuldade mais elevada, sendo no entanto que nenhum árbitro pode apitar mais do que três jogos de um mesmo clube por volta do campeonato.

Opinião de Pedro Henriques: «Discordo. Desafio o treinador do Sporting, do Benfica ou do FC Porto a fazer o onze para um jogo por sorteio... Um treinador escolhe o onze com base em critérios táticos, técnicos e físicos. Um árbitro é a mesma coisa. Os jogos não todos iguais. Quando cheguei à primeira divisão existia o sorteio e um dos meus primeiros jogos foi o Salgueiros-FC Porto. Eu já tinha 35 anos, mas um jogo destes pode matar a carreira de um árbitro jovem e inexperiente. É como eu sempre digo, as pessoas honestas não duvidam da honestidade dos outros...»



5. Sorteio dos observadores dos árbitros e nota dada pelos clubes aos árbitros.
Sporting considera que se as notas que os observadores dão, e consequentemente a classificação, dos árbitros continuam a determinar o estatuto dos mesmos, então os observadores devem ser sorteados. O clube introduz também a proposta de, na nota dos árbitros, ser considerada também uma avaliação dada por cada clube à arbitragem, através do delegado ao jogo e no prazo máximo de 24 horas após o jogo.

Opinião de Pedro Henriques: «Acho que a nomeação também é o melhor. Há observadores mais experientes do que outros e que lidam melhor com a pressão do que outros... Por princípio prefiro a nomeação, até porque um observador competente e um incompetente num sorteio têm o mesmo mérito. Mas aceito que sejam sorteados por uma questão de transparência. Quanto ao delegado do clube dar nota, completamente contra. Quem quer que uma pessoa que é «ignorante» na questão da arbitragem e que é influenciada pela questão clubística dê nota?  Se é para mudar, por que não se propõe que a nota do observador valha 50 ou 60 por cento e que uma comissão de análise que observa todos os jogos da jornada dê também uma nota que valha os restantes 50 ou 40 por cento?»

6. Registo de interesses dos dirigentes federativos e dirigentes de clubes.
Atualmente já existe o registo de interesses dos árbitros, nos quais estes têm de mencionar os imóveis que possuem, os bens móveis suscetíveis de registo e até a referência a empréstimos que possuam. O Sporting defende que também os dirigentes federativos e os dirigentes de clubes e SAD deviam ser obrigados a fazer um registo de interesses. Tanto este livro como o livro de registos dos árbitros seriam entregues no Instituto de Desporto.

Opinião de Pedro Henriques: «Muito bem. Concordo em absoluto. Quando fiz a minha declaração de registo de interesses, uma das questões que coloquei é por que os presidentes não fazem o mesmo. Não que os árbitros não queiram fazer o registo de interesses, não têm nenhum problema com isso, mas tem de existir entre todos os agentes da estrutura do futebol profissional uma igualdade de circunstâncias. Seria uma forma de aumentar a credibilidade e a transparência do futebol.»

Depois, claro, há a introdução dos meios tecnológicos. Aquele que tem sido o cavalo de batalha do Sporting neste caso, só poderá ser determinado pelo Internacional Board. No entanto o Maisfutebol, dada a relevância da proposta e a atualidade, inclui-a neste trabalho.

Introdução de meios tecnológicos na arbitragem
O Sporting defende a introdução de meios tecnológicos na arbitragem através de uma televisão ao dispor do quarto árbitro, o qual deve intervir apenas em decisões importantes e como auxílio para o árbitro. O Sporting argumenta não partilhar a ideia que o erro do árbitro é bem vindo porque apimenta o jogo, acrescentando que se deve lutar pela verdade desportiva. Nesse sentido, lembra que as ligas alemã e holandesa são favoráveis à introdução dos meios tecnológicos.

Opinião de Pedro Henriques: «Completamente de acordo. Em determinadas circunstâncias, particularmente em casos de grandes penalidades em que não há dúvidas ou segundas leituras, em casos de golos obtidos em fora de jogo e em casos de agressões evidentes, a questão do vídeo-árbitro seria para mim muito bem vinda.»