DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

Era uma terça-feira do verão de 1990, e Marco Aurélio lembra-se como se fosse hoje. No fim de doze horas de viagem num avião, sem dormir que a ansiedade não dava para isso, o brasileiro de 23 anos chegou à ilha da Madeira.

Tinha acabado de ser campeão brasileiro pelo Vasco da Gama, mas não estava bem no Brasil: a inflação galopante deixava-lhe pouco dinheiro no bolso.

Por isso trocou o Rio de Janeiro por Portugal: assim de repente, sem hesitações e sem saber ao que vinha. Veio apenas porque queria casar e precisava de dinheiro para assentar a vida em alicerces fortes. O convite do União da Madeira pareceu-lhe uma oportunidade.

«Cheguei à Madeira, dirigi-me à sede e assustei-me: o edifício estava em ruínas. Tinha ardido», recorda por entre uma gargalhada. «Pensei:
Meu Deus, onde me vim meter


Em boa verdade o cenário era realmente assustador, mas foi apenas uma ameaça.

«São coisas que recordo com muito carinho. Era um clube de gente boa. O presidente Jaime Ramos, o treinador Rui Mâncio, eram pessoas que ferviam em pouca água mas tinham um coração enorme. Fui muito feliz no União da Madeira.»

O Benfica, o FC Porto... e por fim o Sporting

Ninguém fica quatro anos num sítio onde não se sente bem: Marco Aurélio cumpriu quatro temporadas e sentiu que era altura de partir quando o União desceu à II Divisão.

Seguiu-se o Sporting, e cinco temporadas que são, no fundo, o topo da carreira do central brasileiro. Mas a viagem de Marco Aurélio para Alvalade não foi uma linha reta.

«Antes surgiram o Benfica e o FC Porto. Do FC Porto eu só soube depois de assinar pelo Sporting, através de um dirigente do União da Madeira. Do Benfica foi diferente, do Benfica falaram comigo diretamente», recorda em conversa com o Maisfutebol.

«O Gaspar Ramos, que na época era dirigente do Benfica, ligou-me a dizer que estavam a tentar contratar-me, mas o União estava a dificultar a transferência. Queria muito dinheiro. Pediu-me que eu falasse com o presidente Jaime Ramos para tentar desbloquear o impasse. Eu fui falar com o presidente, mas ele naquele estilo durão disse logo: não, não, não, nem pensar

Naquela altura, e apesar de ser contemporânea de Pimenta Machado, havia pessoas para quem um não era um não, e Jaime Ramos era uma delas. Por isso a coisa não se fez.

Seguiu-se então o Sporting, e aí sim, a coisa fez-se.

«Deus prepara sempre as coisas para nós e a verdade é que não me via a jogar noutro clube. Ele preparou as coisas para eu jogar no Sporting. Apesar de não termos ganho o que merecíamos, não mudava uma vírgula na minha carreira. Jogava mais cinco anos no Sporting se fosse preciso. Sou sportinguista de coração.»

«Jogar no Sporting é muito gostoso»

A concentração, a leitura de jogo, o ar de profissional inatacável e a aquela passada larga que parecia chegar mais longe com um passo do que os adversários com dois, de imediato conquistaram o Sporting. Em cinco épocas foi sempre titular.

«Quando cheguei a luta era feroz. O Sporting tinha o Valckx, que era internacional holandês, o Naybet, internacional marroquino, e o Vujacic, internacional sérvio. Três jogadores de seleção. Os dois primeiros tinham estado no Mundial um mês antes.»

«Mas o Carlos Queiroz chamou-me e disse-me: aqui não há titulares e suplentes. Tu entras ou sais da equipa pelo que fizeres no campo. Aí eu pensei: negão, depende de você. Então o Valckx foi colocado a trinco e o Vujacic a lateral esquerdo. Eu fui titular com o Naybet no centro da defesa e mantive-me cinco temporadas como titular», referiu.

Ganhou apenas uma Taça de Portugal e uma Supertaça, apenas, mas garante que foi feliz.

«É muito bom jogar no Sporting, muito gostoso. Lisboa é uma cidade que acolhe muito bem. Às vezes ia ao Porto, ter com amigos, mas não conseguia adaptar-me. A minha cidade é Lisboa e o meu clube é o Sporting.»

Recorde um jogo (e um golo) de Marco Aurélio: