O Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol não deu provimento a um recurso do Sporting, que procurava ser ilibado da culpa e ver ser-lhe retirada um multa de dois mil euros aplicada por causa do caso Cardinal.
 
Ora esta é a notícia mais evidente, e que pode perceber melhor neste texto aqui.
 
Mas houve mais que ressaltou do acórdão do Conselho de Justiça. Sobretudo a tipificação de todos os passos dados por Paulo Pereira Cristóvão durante o processo (que é também um crime) para culpabilizar José Cardinal de falsas práticas de corrupção.
 
De acordo com a investigação, foram dados 59 passos: em todos eles Pereira Cristóvão atuou sozinho e por decisão individual.
 
1. Criação de uma base de dados de todos os árbitros
 
Começou em junho de 2011, quando pediu a Eurico Gomes, funcionário da SAD do Sporting, uma lista de todos os árbitros e assistentes habilitados para dirigir jogos da Liga.
 
A partir daí pediu a Liliana Caldeira, secretária do Sporting, que detalhasse todas as informações dos árbitros e assistentes (nome, data de nascimento e profissão) em duas folhas excel.
 
Mais tarde fez chegar essa mesma lista a uma funcionária da Autoridade Tributária que era casada com com uma pessoa próxima dele: esta juntou às informações anteriores informações adicionais como número de contribuinte, nib, rendimentos, bens móveis e imóveis e identificação do cônjuge de todos os árbitros e assistentes.
 
A secretária Liliana Caldeira criou então três documentos: árbitros, assistentes e observadores, sendo que digitando o nome se tinha de imediato todas as informações.
 
Paulo Pereira Cristóvão guardava então estas informações em sua casa.
 
2. Furioso com nomeação de José Cardinal
 
Ora quando no dia 16 de dezembro de 2011 José Cardinal foi designado para ser assistente no Marítimo-Sporting, dos quartos de final da Taça de Portugal, Pereira Cristóvão ficou furioso: diz a investigação que o vice leonino não esquecia a derrota do Sporting em casa com a Olhanense, na primeira jornada, em que teria ficado por marcar um penálti, nem tão pouco a derrota na final da Taça da Liga, com o penálti inexistente de Pedro Silva.
 
Por isso Pereira Cristóvão decidiu que faria tudo para que José Cardinal não estivesse no jogo da Madeira, imaginando um esquema através do qual seria depositado dinheiro na conta do árbitro assistente para o incriminar de corrupção.
 
3. Dinheiro saiu da conta da Sporting Património e Marketing
 
Solicitou a Patrícia Martins Loureiro, diretora financeira da Sporting Património e Marketing, três mil euros. Pereira Cristóvão justificou 1236 euros através de faturas e prometeu justificar o restante mais tarde.
 
Depois ordenou à secretária que fosse ao aeroporto comprar um bilhete de avião para o Funchal para o dia 20 de dezembro de 2011 em nome de Rui Martins.
 
Rui Martins, refira-se, era um antigo funcionário da empresa de Pereira Cristóvão.
 
4. A viagem de Rui Martins à Madeira
 
De seguida chamou o próprio Rui Martins à instalações da SAD do Sporting e ordenou-lhe que viajasse para o Funchal, onde deveria fazer um depósito de dois mil euros no balcão de um banco em determinada conta. Deu-lhe dois mil euros em dinheiro e o NIB da conta de José Cardinal.
 
Rui Martins cumpriu o plano: foi levado ao aeroporto pela secretária, viajou para o Funchal, chegou às 10.14 horas e dirigiu-se de imediato a um balcão da Caixa Geral de Depósitos. Fez o depósito em dinheiro, saiu com o talão e informou Pereira Cristóvão.
 
Ao final do dia voltou a Lisboa, no aeroporto tinha a secretária da Sporting Património e Marketing, que o levou para Alvalade: chegaram às instalações da SAD às 22.22 horas.
 
A secretária imprimiu então uma folha com um texto escrito em Word.
 
«Senhor doutor Godinho Lopes O senhor é sério e merece a informação Estou farta de privar com um homem que vive na podridão e na corrupção. Veja um exemplo da impoluta equipa de arbitragem que vai ter no jogo do Marítimo Acho que o resto tem a mesma tabela Não interessa quem sou e só me interessa que o senhor ajude a limpar este lixo da sociedade Faça o que quiser com esta prova que me chegou às mãos»
 
Colocou a folha impressa dentro de um envelope, com o talão do depósito feito na Madeira, e entregou-o a Rui Martins. Este seguiu de imediato para a residência de Pereira Cristóvão e entregou o envelope ao vice leonino.
 
5. Tentativa de enganar Godinho Lopes
 
No dia seguinte, pouco depois das 9 horas, Pereira Cristóvão já estava em Alcochete, onde esperou por Godinho Lopes. O presidente chegou pouco depois e Pereira Cristóvão entregou-lhe o envelope. Godinho Lopes ligou então a Fernando Gomes, presidente da Federação, a informar do conteúdo recebido e o vice regressou a Lisboa.
 
Fernando Gomes pediu a Godinho Lopes que lhe fizesse chegar o envelope, pedido a que o presidente do Sporting acedeu enviando de imediato o motorista à sede da Federação.
 
Entretanto José Cardinal tomou conhecimento do depósito, pediu excusa do jogo Marítimo-Sporting e doou os dois mil euros à Associação de Paralesia Cerebral do Porto.
 
6. Denúncia na Polícia Judiciária do próprio Pereira Cristóvão
 
Pereira Cristóvão ligou nesse mesmo dia a Pedro Fonseca, Coordenador da Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária, deu-lhe conhecimento do envolope e enviou-lhe fotocópias de tudo. Fernando Gomes, por outro lado, entregou o envelope recebido de Godinho Lopes também na PJ e na Procuradoria-Geral da República.
 
Pereira Cristóvão ordenou a Rui Martins que deitasse fora a roupa usadas na viagem e ordenou à diretora financeira que lhe devolvesse os recibos entregues para receber os três mil euros, justificando o valor com «despesas confidenciais».
 
Pereira Cristóvão tentou não só incriminar José Cardinal e o Marítimo, como quis que as autoridades criminais abrissem um procedimento contra ambos.
 
No entanto algo correu mal e a investigação das mesmas autoridades criminais terão chegado à descoberta dos procedimentos acima descritos.