O dia 10 de junho de 1995 foi de festa para o Sporting: treze anos depois, a equipa leonina voltou a ganhar um troféu. Na circunstância a Taça de Portugal.
 
Foi o último jogo de Figo e Balakov pelo Sporting, e Iordanov vestiu a pele de herói ao fazer os dois golos do triunfo sobre o Marítimo (2-0) num Jamor pintado de verde. Houve porém mais histórias que sobraram desse jogo.
 
Vujacic, por exemplo, traz uma marca ainda hoje no braço.
 
«Veja», atirou, enquanto mostrava uma cicatriz no punho do braço esquerdo.

«Sim, ainda a tenho, ainda está aqui.»
 
Tudo aconteceu quando correu para agarrar uma bola, com pressa de fazer o lançamento lateral: pelo caminho cruzou-se com um cão da polícia, que o agente deixou com demasiada trela solta.

O montenegrino foi então mordido, gritou de dor, mas não parou de correr e fez o tal lançamento lateral que tinha pressa em executar.
 
«Mas essa foi a única coisa má do jogo, porque de resto ganhámos a Taça», recordou. «É o meu único título conquistado pelo Sporting, mas joguei três vezes a final da Taça, penso que merecíamos ganhar mais vezes, mas enfim.»
 
«Mesmo no campeonato, acho que devíamos ter ganho o título, tínhamos uma grande equipa com Figo, Balakov, Paulo Sousa, entre outros, mas não o conseguimos... outras equipas foram mais fortes fora de campo.»


 
Vujacic não precisa de medir as palavras e culpa os escaldantes anos noventa, cheios de polémicas e teorias da conspiração, para explicar o jejum de títulos.
 
«Sinto muita honra por as pessoas do Sporting se lembrarem de mim. Sou um verdadeiro sportinguista, foi o único clube em que joguei em Portugal», frisou.
 
«Surgiu até a hipótese de jogar noutros clubes aqui em Portugal mas tomei a decisão de vestir só a camisola do Sporting. Muito honestamente, o problema foi que nunca quis jogar contra o Sporting com outra camisola.»
 
Chegou a Portugal, recorde-se, em 1993, numa altura em que a guerra dos Balcãs tornava insuportável a permanência dos jogadores na Jugoslávia.
 
Surgiu com grande projeção: era o capitão do Partizan de Belgrado e era titular da seleção jugoslava. Por isso chegou, viu e venceu.
 
Fez-se de imediato titular do Sporting e foi sempre um habitual do onze. Com Bobby Robson no centro da defesa, após a chegada de Carlos Queiroz, e para integrar Marco Aurélio e Naybet no onze, foi adaptado a lateral esquerdo.
 
Apesar de já ter 29 anos ficou quatro épocas em Alvalade.
 
«O que vim cá fazer? Vim matar saudades. Passar o fim de ano com a minha mulher, na minha velha Cascais, onde vivi quatro anos. Já há muito tempo que não vinha a Portugal e tinha saudades», contou ao Maisfutebol e a O Jogo.
 
«Estou feliz por estar aqui, fui ver o jogo com o Estoril, o Sporting jogou bem e vi uma equipa muito talentosa, com muito bons jogadores, com grande futuro.»


 
«Estive com o presidente Bruno de Carvalho, ele convidou-me a assistir a este jogo e deu-me dois presentes: uma camisola com o meu nome e uma maquete do novo estádio. Estou muito contente por fazer parte deste Sproting, apesar de trabalhar como olheiro do Manchester United já há nove anos. Mas aqui encontro sempre amigos.»
 
É verdade, Vujacic é hoje um dos responsáveis máximos do recrutamento do Manchester United. É olheiro chefe do clube em catorze países, a maior parte dos quais no sul e no leste da Europa. Portugal, garante, não é um deles.
 
«Não, não, nada disso. Estou aqui apenas de férias.»
 
Falar com Vujacic é falar também de um jejum de títulos de campeão: uma realidade que o Sporting experimenta com uma indesejada frequência.
 
O clube já leva, por exemplo, uma sequência de doze anos sem ser campeão.
 
«Sim, é verdade, mas se esta equipa permanecer junta vai conseguir ganhar alguma coisa para o Sporting. Tem muita qualidade e é um grupo jovem.»
 
«Se gostei de alguém em particular? Gostei de vários jogadores, mas como trabalho para o Manchester United não posso dizer nomes.»
 
Vujacic sorri e despede-se. Cheio de pressa para chegar à loja do cidadão antes das 19.30 horas: a tempo de renovar o cartão de cidadão português...

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