Quando entrar em campo neste sábado, para defrontar o Rio Ave, três dias depois de completar 29 anos, Rui Patrício irá consolidar ainda mais o seu estatuto na história do Sporting, tornando-se o sexto jogador do clube a cumprir 400 jogos oficiais pela equipa principal.

À sua frente já só estão cinco mitos incontornáveis do emblema de Alvalade: Hilário (471), Damas (444), Manuel Fernandes (433), João Azevedo (410, se incluirmos os jogos para o Campeonato de Lisboa, prova relevante no calendário nacional até 1947) e Oceano (401). Em condições normais, Patrício terminará a época à frente de Oceano e Azevedo, tendo apenas à sua frente um pódio de ilustres.

Recorde o que escrevemos a propósito dos 300 jogos de Rui Patrício

Caso permaneça em Alvalade, e sem problemas físicos, o campeão europeu poderá então tornar-se, em 2018, o guarda-redes com mais presenças pelos leões, superando o registo de Vítor Damas, que permanece até hoje como a maior referência das balizas do Sporting - e não só.

Um penálti a abrir

Numa carreira que, em termos absolutos, tem como incontornável ponto alto a conquista do Europeu de seleções, em julho passado, é justo dizer que o currículo de troféus conseguidos por Patrício no Sporting - duas Taças de Portugal e duas Supertaças, nenhum título de campeão - não faz justiça ao seu impacto desde que entrou em cena no futebol sénior, com apenas 18 anos, a 16 de novembro de 2006.

O contexto é conhecido mas vale a pena ser lembrado: recém-sagrado campeão nacional de juniores, Rui Patrício era o terceiro guarda-redes do plantel leonino em 2006/07. As lesões simultâneas de Ricardo e Tiago fizeram-no saltar para a titularidade no jogo com o Marítimo, relativo à 10ª jornada.

A estreia não podia ter corrido melhor: não só deteve, com um mergulho para a sua esquerda, uma grande penalidade cobrada por Kanu aos 75 minutos (a primeira de 12 defendidas pelo Sporting, sem contar desempates), como manteve a baliza leonina inviolada, algo que viria a repetir em mais 150 ocasiões.

Paulo Bento, que o conhecia bem da formação, não teve dúvidas em lançá-lo, mas também não teve dúvidas em poupar nos elogios, deixando claro que, apesar do entusiasmo provocado nos adeptos leoninos, a jovem sensação das balizas teria de continuar a crescer e esperar a sua vez.

Continuando a jogar pelos juniores, treinando com a equipa principal, Rui Patrício teve de esperar um ano para conquistar a titularidade, com um Mundial de sub-20 pelo meio, e a saída de Ricardo e a queda em desgraça do internacional sérvio Stojkovic. A 24 de novembro de 2007, com 19 anos e nove meses, a baliza do Sporting passava a ter um novo dono, a tempo inteiro: Patrício esteve em 398 dos 455 jogos seguintes do Sporting, (87%) e em 280 das 289 jornadas de Liga (97%).

Recordista na Europa: tudo começou em Manchester

Três dias depois desse empate com o Leixões veio nova prova de fogo, com a estreia europeia em Old Trafford: derrota tangencial com o Man. United (1-2), a chegar num livre direto de Cristiano Ronaldo, nos descontos, mas a não apagar uma convicção manifestada pela enviada-especial do Maisfutebol, Berta Rodrigues, e por quase todos os espectadores desse jogo: mesmo perdendo o jogo, o Sporting tinha ganho um guarda-redes para muitos anos.

Começava aí, também, a mais extensa carreira de um jogador do Sporting em jogos europeus: são 79 jogos repartidos entre Liga dos Campeões, Liga Europa/Taça UEFA e pré-eliminatórias, à frente dos 72 de Anderson Polga e dos 59 de Liedson. Tal como Vítor Damas, Patrício tem como melhor registo na UEFA uma meia-final (Liga Europa, 2011/12) e ainda o sabor agridoce de ter integrado a primeira equipa do Sporting a passar uma fase de grupos na Liga dos Campeões, para sofrer em Munique a sua derrota mais pesada em provas da UEFA.

Cinco momentos incontornáveis

Para além da inesquecível estreia nos Barreiros, já referida, eis mais cinco momentos que ajudaram a fixar Patrício nas memórias dos adeptos do Sporting.

18 de maio de 2008, Sporting-FC Porto, 2-0

Aos 20 anos, no Jamor, a primeira final e o primeiro troféu, conquistado diante do FC Porto. Dois golos de Tiuí, no prolongamento, fizeram do avançado brasileiro o herói improvável de um jogo em que Patrício assina uma intervenção decisiva, perante um isolado Lisandro Lopez, ainda com o marcador em branco. Três meses mais tarde, no reinício da época, Patrício faria ainda melhor, defendendo um penalti de Lucho Gonzalez na decisão da Supertaça para os leões.

4 de agosto de 2009, Twente-Sporting, 1-1

Obrigado a discutir o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, o Sporting fica-se por um empate sem golos em casa, na primeira mão diante do Twente. No segundo jogo, os holandeses adiantam-se cedo no marcador, e no resto do tempo o Sporting tenta, sem sucesso, o golo que vale a passagem. Até que, já em período de descontos, o espírito de Alkmaar-2005 reencarna em Patrício, que sobe à área num canto. E depois acontece isto:

15 de março de 2012, Manchester City-Sporting, 3-2

A velha história de David contra Golias, pelo menos em termos financeiros. Mas depois de uma vitória surpreendente em Alvalade (1-0), graças ao calcanhar de Xandão, o Sporting assina uma primeira parte magistral no Etihad, marcando por duas vezes. Depois o City entra com tudo e marca uma, duas, três vezes. Patrício tenta pôr água na fervura, e no último lance do jogo, no mais improvável dos duelos, garante o apuramento com a ponta dos dedos, desviando uma cabeçada de… Joe Hart.

30 de setembro de 2014, Sporting-Chelsea, 0-1

Depois de um ano de ausência nas provas da UEFA, o Sporting volta ao lago dos tubarões, que é como quem diz à fase de grupos da Champions. No primeiro jogo em casa, diante do todo-poderoso Chelsea. O desequilíbrio de forças é brutal, mas a exibição de gala de Rui Patrício impede que isso se veja no marcador: uma, duas três, cinco vezes, o guarda-redes leonino nega o golo a Diego Costa e companhia. No final leva uma reprimenda bem-humorada de José Mourinho. «Trocava a exibição pela vitória», desabafa o guarda-redes, após a noite que pôs toda a Europa a olhar para ele.

31 de maio de 2015, Sporting-Sp. Braga, 2-2 (3-1 gp)

A perder por 2-0 a seis minutos dos 90, o Sporting parece resignado a uma tarde de frustração. De repente, um golo de Slimani muda o guião. E outro de Montero, ao cair do pano, relança a incerteza.

Depois, mesmo com problemas musculares, que o obrigam a coxear visivelmente, Patrício vai para o desempate por penaltis e faz magia: defende o remate de André Pinto, e intimida Éder e Salvador Agra, que atiram para fora. A primeira Taça decidida por penaltis vai para Alvalade. Com Patrício novamente como protagonista.

Números e curiosidades

Jogos de Rui Patrício pelo Sporting:

Liga: 281

Taça de Portugal: 26

Taça da Liga: 11

Supertaça: 2

Liga dos Campeões*: 26

Liga Europa*: 53

* Incluindo pré-eliminatórias

Jogos a titular: 398

Jogos como suplente utilizado: 1 (29/1/2011, rendendo Tiago com o Estoril, para a Taça da Liga)

Jogos completos: 395

Expulsões: 3 Barcelona (LC, 2008/09), Skenderbeu (LE, 2015/16) e Tondela (Liga, 2015/16)

Vitórias: 215 (54%)

Vitórias na Liga: 160 (57%)

Jogos sem sofrer golos: 151 (38%)

Golos sofridos: 391

Melhor série sem perder: 17 jogos entre março e agosto de 2015

Melhor série sem sofrer: 6 jogos, entre novembro de 2013 e janeiro de 2014

Penaltis defendidos: 12 em 50 (24%)

Jogadores a quem defendeu penaltis*: Kanu (Marítimo), Lazaroni (Naval), Lucho (FC Porto), Nenê (Nacional), Falcao (FC Porto), Cardozo (Benfica), Cláudio (Gil Vicente), Cleyton Xavier (Metalist), Rúben Ribeiro (Nacional), Ricardo Pessoa (Moreirense), Jackson Martinez (FC Porto) e Doumbia (CSKA Sofia)

* Não contando desempates, nem remates para fora ou ao poste

Treinadores com quem trabalhou no Sporting: 14*

* Contando com os interinos Leonel Pontes e Alberto Cabral