Sousa Cintra, ex-presidente da Comissão de Gestão do Sporting, contou alguns pormenores do trabalho que fez nesse momento conturbado da história do Sporting. Em entrevista ao «Record», abordou o caso dos nove jogadores que deixaram o clube e dos que regressaram, garantindo que «não ficaram a ganhar mais», embora admita que se fizeram «alguns acordos» com empresários.

«O Bruno Fernandes recusou aumento do ordenado. Queria servir o Sporting. Fiquei impressionado com ele como jogador e ser humano», adiantou.

Na altura, o presidente do Benfica chegou a dizer que iria contratar alguns jogadores que tinham rescindido com os leões, mas Sousa Cintra disse que tinha a «certeza» de que tal não iria acontecer.

«O Luís Filipe Vieira evidentemente queria lá os jogadores que queria, mas eu disse-lhe: ‘Epá, calma aí!’», contou Sousa Cintra, que revelou ser amigo do presidente encarnado. «Eu tinha a certeza – a certeza! – de que ele não me ia lá buscar jogador nenhum. Nem eu a ele», assegurou.

Sousa Cintra falou ainda sobre outros atletas que rescindiram e não regressaram. «Rui Patrício já estava lá [no Wolverhampton]. Noutras circunstâncias ter-lhe-ia pedido para continuar porque ele foi criado no Sporting, tem amor ao clube. Ainda falei com o Jorge Mendes, mas entendi que o problema só deveria ser resolvido pela nova direção», afirmou, admitindo que «era importante o Sporting ter continuado com Rui Patrício, mas temos que compreender quando um jogador está há tantos anos na mesma casa e quer ir para outros campeonatos».

E havia outro caso, revela o ex-dirigente. «Gelson estava completamente perdido. Ele estava com a cabeça no Atlético Madrid e nada o demovia. Estava perdido por ir embora. Incrível!», disse Sousa Cintra, que garantiu ter batido o pé para que os espanhóis pagassem metade da cláusula do jogador, que era de 100 milhões. «Ainda fecharia com eles por 40 milhões cash, para se resolver o problema, mas não houve entendimento».

Outro dos atletas que saíram foi Rafael Leão, que Sousa Cintra diz que «queria regressar ao Sporting, mas o pai e o empresário levaram-no àquele destino [Lille]», afirmou, dizendo que Podence não regressou por causa da «exigência de ordenado».

Quem recebeu aumento foi Jovane Cabral. «Ganhava 2 ou 3 mil euros por mês. Uma vergonha. Vivia num sítio horrível, um craque daqueles. Não se compreendia. Renovei-lhe o contrato, aumentei-o dez vezes ou mais e dei-lhe 100 mil euros para comprar uma casa e viver condignamente com a mãe. Ele merecia», revelou Sousa Cintra.

Nem só de saídas de jogadores se fez o defeso leonino. O técnico Jorge Jesus foi outra das baixas que o então presidente da Comissão de Gestão do Sporting tentou contrariar. «Corre-lhe o sangue do Sporting nas veias», disse Sousa Cintra, que explicou o porquê de o negócio não se concretizar.

«Ele tinha contrato assinado que o obrigava a ficar seis meses, senão tinha que pagar uma indemnização. No entanto, quando ele lá chegou não gostou muito daquilo e sentiu vontade de voltar», explicou, adiantando que o facto de os sauditas terem o passaporte de Jesus, acabou por inviabilizar o regresso. «Não veio por um fio».

Sousa Cintra revelou ainda que José Peseiro foi uma escolha sua, mas que antes já tinha acordo com Paul Le Guen.

O técnico português, que não foi uma escolha consensual, foi então o responsável por escolher os reforços, mas houve alguns que acabaram por não chegar por indecisão, disse o ex-dirigente.

«Ele fazia a leitura dos jogadores. Mas perdia muito tempo a analisar. Via, via, serve, não serve, houve ali alguma falta de decisão. Tenho enorme respeito pelo treinador, mas na escolha dos jogadores houve muita indecisão. Sim, depois não, depois sim, não, talvez…»

E foi essa indecisão que, segundo Sousa Cintra impediu a chegada de um avançado. «Tivemos praticamente contratado aquele que jogou com o Benfica. Até lhes marcou um golo [Prijovic, do PAOK]. Tivemos as negociações muito adiantadas. Esteve para vir. O Peseiro disse primeiro que sim, depois não, e no fim até disse que ele nem sequer iria para o banco», registou.

Sousa Cintra afirmou ainda não ter falado com Miguel Veloso em relação a um possível regresso a Alvalade, mas sabe que «viria» e disse que «Fábio Coentrão também podia ter voltado».

E por que ficou Viviano no plantel? «Não apareceu alguém que o quisesse. Se ele pudesse, também tinha saído. Agora está a melhorar. Pode ser que ainda dê um grande contributo. Se calhar pensava que vinha de férias. Estava gordo e não se dedicava. O treinador não gostou e tive de arranjar outro guarda redes».