Nos últimos anos, Roger Spry, especialista em condição física que deixou saudades em Portugal, tem trabalhado com a selecção da Áustria. A co-organizadora do Campeonato da Europa de 2008 não passou da primeira fase. Nos quartos-de-final, três dos quatro jogos terminaram com vitórias dos segundos classificados da fase de grupos. Porquê?
O antigo preparador-físico de V. Setúbal, Sporting e F.C. Porto acredita que selecções como Portugal não retiraram grandes benefícios com a rotação de jogadores na última jornada dos respectivos grupos. Croácia e Holanda também não, enquanto a Espanha foi a excepção, batendo a Itália nas grandes penalidades.
«Penso que existe uma boa explicação para isso. Aliás, lembro-me de um jogo do F.C. Porto, em que defrontamos uma equipa da terceira divisão na Taça de Portugal. Fernando Santos descansou todos os jogadores, meteu outra equipa e perdemos. No final, disse que tinha aprendido a maior lição da sua vida. Nunca mais cometeria o mesmo erro», recorda.
Qual foi a lição, afinal? Dizia Fernando Santos, no final do jogo com o Torreense: «Temos de jogar sempre com a equipa mais forte. A partir de agora, nunca mais vou fazer isto», conta Spry. «Aprendemos que é mais útil jogar sempre com os titulares porque isso permite que conservem os índices físicos e continuem a aumentar os níveis de conhecimento mútuo, por exemplo», acrescenta.
«Descansarem após dois jogos não é normal»
Roger Spry, percebe-se, não tem especial apreço pela rotatividade: «Os melhores jogadores, os de topo, estão habituados a jogar três jogos numa semana. Descansarem depois do segundo jogo não é normal. Penso que devem jogar sempre. A selecção turca não fez essa rotatividade, porque não tinha mais jogadores, e a Rússia também não, por exemplo. Provou-se que as equipas que menos rodaram, tiveram mais sucesso.»
Contudo, o especialista em condição física não limita o infortúnio de Portugal a essa realidade. Uma prova como o Europeu, salienta, tem demasiadas variantes. «Depende da organização, da sorte, de suspensões e lesões. As competições a eliminar têm mais emoção mas nem sempre vence a melhor equipa. Trabalhei com a selecção da Grécia para o Euro2004, porque nove jogadores da selecção eram do Panathinaikos, e muita gente acreditava que eles nem iam vencer um jogo», afirma.
«Penso que, se fosse um campeonato com vinte ou trinta jogos, Portugal estaria na luta para vencer até ao fim. Porque é mesmo uma das selecções mais fortes. Mas numa competição como esta, bastam seis jogos para chegar ao título. E, nestes seis jogos, tudo pode acontecer. É essa a beleza do Euro», conclui Roger Spry.