17 de maio de 2003, Estádio do Fontelo, Viseu a ferver. Bancadas em compressão absoluta, as forças fiéis a Viriato a puxar pela voz e a sofrer com a invasão espanhola. Dois golos do Maradona das Antas, Márcio Sousa, dão a Portugal o último troféu internacional de seleções.

Foi há dez anos, o Maisfutebol dá lustro à memória.

Penteados de gosto duvidoso, borbulhas a cobrir a pele da cara, músculos escondidos em calções perdidos abaixo dos joelhos. A beleza de ser adolescente, fruir e começar a saber o que é vencer.

A geração prometia. Miguel Veloso era central, João Moutinho saía do banco para substituir João Coimbra ou Paulo Machado, Carlos Saleiro e Manuel Curto eram os homens-golo. Nem todos se tornaram estrelas, nem todos trilharam a ladeira do triunfo.

Mas naquele torneio, e naquele dia, foram monstros, gigantes. Ultrapassaram Dinamarca, Áustria, Hungria e Inglaterra antes de abater Espanha numa final inesquecível.

Do outro lado jogava um tal de David Silva. O guarda-redes era Adán, o homem que ainda há poucos meses atirou Iker Casillas para o banco do Real Madrid. Espanhóis impotentes, amarrados, demasiado pequenos para suster a perfeição lusitana.

Ao leme da seleção estava António Violante. Treinou milhares de jovens, fez centenas de palestras, ganhou seis títulos europeus. Na manhã desse 17 de maio tomou uma decisão importante. Decisiva.

«Senti a equipa bem ao pequeno-almoço, mais bem disposta do que ansiosa, e achei que a palestra devia ser menos pormenorizada do que o habitual», conta o atual selecionador feminino ao Maisfutebol. «

«Foi simples, muito simples motivar os jogadores. Cheguei ao balneário e disse-lhes isto: hoje é um dia importante para todos nós e vocês sabem o que fazer. Treinámos bem, estamos preparados. A tarde está bonita. Joguem com alegria, divirtam-se».

A equipa divertiu-se. E venceu. «O jogo foi difícil, mas Portugal transcendeu-se. A Espanha era teoricamente favorita. A celebração no final foi linda, num estádio a abarrotar».

«Recordo-me de ver o Paulo Machado a pegar no microfone e a por toda a gente a cantar o hino nacional», conta o técnico, como se tudo se tivesse passado ontem.

O maior triunfo, porém, foi outro. «Desse grupo de 18 jogadores, 14 chegaram à I Divisão e quatro deles estiveram na última convocatória da seleção A: Miguel Veloso, João Moutinho, Paulo Machado e Vieirinha».

«Foi há dez anos e não há maneira de nos sair da cabeça».

TODO O PERCURSO NO EURO SUB-17, 2003:

GRUPO A

Portugal-Dinamarca, 3-2

(João Pedro, 34; Paulo Machado, 40; Manuel Curto, 55)

(Torry, 32, 42)

Portugal-Áustria, 1-0

(Manuel Curto, 14)

Portugal-Hungria, 2-0

(Bruno Gama, 50; Vieirinha, 62)

MEIA-FINAL

Portugal-Inglaterra, 2-2 (3-2, g.p.)

(Vieirinha, 10; Saleiro, 82)

(Bowditch, 8; Milner, 21)

FINAL

Portugal-Espanha, 2-1

(Márcio Sousa, 22, 47)

(David Sanchez, 42)

EQUIPAS NA FINAL:

PORTUGAL: Mário Felgueiras; João Dias, Miguel Veloso, Paulo Ricardo e Tiago Gomes; Paulo Machado, João Coimbra (Manuel Curto, 70) e Márcio Sousa (João Moutinho, 77); João Pedro (Bruno Gama, 52), Vieirinha e Saleiro.

Suplentes não utilizados: Pedro Freitas, Tiago Costa, Vítor Vinha e Hélder Barbosa.

ESPANHA: António Adan; Ruz Baños (César Angulo, 72), Sérgio Ortega, César Arzo e Raul Raposo; Markel Bergara (Xisco Nadal, 63), Sisinio Martínez e David Silva; Jurado Marín, José Cases (Marcos Ramiro, 49) e David Sánchez.

Suplentes não utilizados: Roberto, Marcos Ortega, Manu Sánchez e Eneko Urien.

Árbitro: Novo Panic (Bósnia-Herzegovina)

Acção disciplinar: cartão amarelo para João Dias (60) e César Arzo (81)

Golos: Márcio Sousa (22 e 46); David Sanchez (41)