Passo a passo. No futebol, sobretudo no discurso dos treinadores, esta é a premissa essencial à partida para uma competição. Também há os mais ambiciosos, aqueles que definem um título como o grande objetivo à partida, embora raras vezes isso se verifique numa competição de três/quatro semanas. Esse foi também o lema com que a seleção portuguesa partiu para a disputa do Mundial de sub-20 na Coreia do Sul. O selecionador Emílio Peixe definiu como objetivo inicial o apuramento para os oitavos de final e a verdade é que, mesmo tendo encontrado algumas dificuldades (in)esperadas, a equipa das Quinas conseguiu conquistar um lugar entre as 16 melhores da competição.

É um facto que o conjunto nacional ainda não convenceu em termos exibicionais e que apenas evitou a eliminação desta prova ao minuto 86 do último encontro. O primeiro embate, frente à campeã africana Zâmbia, mostrou-nos uma Seleção capaz de recuperar a bola com eficácia (sobretudo no primeiro tempo) mas também tremendamente perdulária na cara do golo. Na partida seguinte, ante a Costa Rica, foram notórias as insuficiências coletivas de Portugal, num quadro de dificuldades adensado pela expulsão do capitão Rúben Dias. Finalmente, a exibição mais consistente apareceu no derradeiro duelo, frente à seleção do Irão. Mas não se pense que tudo foram rosas: o primeiro tempo mostrou uma equipa nervosa, incapaz de promover uma ligação eficaz entre setores, sendo que apenas após a entrada de Bruno Xadas, o futebol luso começou a fluir com maior facilidade.

E se em termos coletivos, a turma de Peixe ainda não convenceu, têm havido individualidades a mostrar detalhes bem positivos. Em particular, dois elementos, curiosamente com o mesmo nome próprio: Diogo Gonçalves e Diogo Dalot. O primeiro vinha já catalogado como um dos craques da geração de 1997 e tem sido responsável por alguns dos melhores momentos futebolísticos deste Mundial. Destro com mobilidade, parte habitualmente da ala esquerda, criando desequilíbrios constantemente. Leva já dois golos na prova. Já Dalot é um dos laterais-direitos mais promissores da Europa. Campeão europeu de sub-17 no ano passado, faz parte do grupo alargado de elementos dessa geração presentes nesta convocatória. Titular nos três encontros disputados até aqui em solo coreano, tem transferido para a equipa acutilância no plano ofensivo e argumentos na recuperação defensiva.

O encantador futebol venezuelano e as confirmações francesas e uruguaias

Para já, o Mundial tem-se destacado por jogos bem disputados, com individualidades a sobressaírem, como de costume, mas também com equipas que possuem bons princípios de jogo e capazes de rubricar espetáculos de alto nível em termos ofensivos. A equipa mais surpreendente e atraente da primeira fase da prova foi indiscutivelmente a Venezuela. Na segunda participação em Campeonatos do Mundo, a «Vino Tinto» venceu as três partidas da fase de grupos, com um registo de dez golos marcados e nenhum sofrido. A frente ofensiva, constituída por elementos de grande talento como Córdova (o principal destaque até aqui), Peñaranda ou Soteldo, tem proporcionado grandes momentos, assim como o duo de médios Lucena-Herrera. Uma equipa de cariz ofensivo, vertical e com um ótimo trato de bola.

De resto, apenas a França (num grupo bem acessível) conseguiu um registo invencível na fase de grupos. Os gauleses, atuais campeões da Europa de sub-19, são juntamente com o Uruguai dois sérios candidatos à conquista do cetro mundial. Com o virtuoso Harit, o incisivo Augustin, o cirúrgico Tousart ou o veloz Saint-Maximin em plano de evidência, a equipa de Ludovic Batelli vai assim confirmando o estatuto com que chegava a este torneio. Já a seleção uruguaia, campeã sul-americana da categoria, demonstrou consistência num grupo competitivo. O hábil e rápido De La Cruz tem sido uma das figuras de uma seleção equilibrada a defender e criteriosa a atacar. Também em destaque têm estado elementos como central Santiago Bueno, o médio Fede Valverde ou os dois laterais, Rodríguez e Matías Olivera.

De resto, no quadro das boas revelações da fase de grupos há também a destacar uma das adversárias de Portugal, a Zâmbia, sobretudo pelo tremendo potencial ofensivo, a anfitriã Coreia do Sul, a pragmática Inglaterra, com um grupo constituído maioritariamente por jogadores sem experiência de Premier League, o Japão dos talentosos Doan, Miyoshi e Kubo e ainda uma interessante seleção dos Estados Unidos, com um miúdo de 17 anos (Joshua Sargent) a despontar no centro do ataque.

Dececionantes Argentina e Equador 

A primeira fase deste Campeonato do Mundo fica obviamente marcada pela eliminação de uma das seleções com maior história e representatividade no futebol jovem, a Argentina. Na sequência de prestações menos conseguidas e até de algumas ausências ao longo da última década, a turma «albiceleste» chegou à Coreia do Sul após uma qualificação sofrida no Campeonato Sul-americano de sub-20. A prestação na última semana foi tudo menos positiva: futebol inconsequente nas duas primeiras partidas, recheado de imprecisões mesmo conseguindo ter a iniciativa. E falhas defensivas, desequilíbrios estruturais que levaram os argentinos ao abismo. Se tivermos em conta que apenas no último jogo o selecionador Claudio Ubeda decidiu colocar alguns jogadores nos devidos lugares, concluímos que foi um despertar tardio na prova. É verdade que a vitória frente à Guiné foi concludente (5-0) mas de nada serviu…

Outra equipa que deixou a desejar foi o Equador. Apesar de possuir uma geração de qualidade, na qual sobressaem elementos como Cabezas, Estupiñán ou Jordan Sierra, a seleção tricolor revelou sérios problemas no setor mais recuado e pagou cara a ineficácia atacante nos embates ante a Arábia Saudita (derrota por duas bolas a uma) e o Senegal (empate a zero bolas).

O que esperar dos oitavos de final?

Terça-feira começam a ser jogados os primeiros encontros da fase a eliminar deste Mundial. O destaque maior vai, evidentemente, para o embate entre a seleção da casa e Portugal, jogo que terá início ao meio-dia (hora portuguesa). Pela frente, os pupilos de Emílio Peixe terão uma equipa equilibrada, com bom toque de bola, capaz de explorar largura e profundidade com audácia, equilibrada atrás e com um puro-sangue com toques de artista (o número 10, Lee Seung-woo, do Barcelona). A equipa lusa terá então de ser mais pró-ativa e incisiva do que nas partidas da fase de grupos, caso contrário poderá sentir problemas para seguir em frente na competição. O jogo será disputado na cidade de Cheonam. Nesse mesmo dia, joga-se também, pelas nove da manhã portuguesas, um aliciante duelo entre duas seleções com marcas de futebol positivo: Venezuela-Japão.

No dia seguinte, mais três duelos interessantíssimos. No horário das 9 horas, defrontam-se Uruguai e Arábia Saudita. Daqui sairá o adversário de Portugal ou Coreia do Sul nos quartos de final, o que justifica a atenção acrescida. Favoritismo claro para os campeões sul-americanos, apesar das melhorias evidentes reveladas pelo conjunto saudita nas duas últimas partidas da fase de grupos.

Às 12 horas dessa mesma quarta-feira, entram em campo duas das representantes europeias neste campeonato. Enquanto a Inglaterra defronta a Costa Rica, num embate que se prevê equilibrado pelas características de ambas as formações (embora com superioridade individual clara dos ingleses), a Alemanha defronta a pujante seleção zambiana, num confronto de estilos que tem tudo para resultar num jogo aberto e disputado até ao final.

Por último, na quinta-feira, pelas 8h30 da manhã, encontram-se México e Senegal, duas equipas que podem dar mais a esta competição do que demonstraram na primeira fase (em particular, a equipa mexicana…). Do lado africano, os virtuosos e rápidos Niane, Krépin Diatta e N´Diaye prometem fazer a cabeça em água a uma defensiva comandada pelo promissor Edson Álvarez.

No horário do meio-dia, os dois jogos que fecham a ronda: França-Itália e Estados Unidos-Nova Zelândia. O primeiro confronto representa a reedição da final do último Europeu de sub-19 (que terminou com uma goleada avultada do conjunto gaulês…), sendo portanto um jogo do qual podemos esperar qualquer coisa, apesar da maior responsabilidade dos «Bleus». Quanto ao segundo duelo, fica a impressão clara de que a seleção norte-americana tem o favoritismo, tendo em conta o registo exibicional apresentado na fase de qualificação e na fase de grupos, perante três adversários exigentes. Mas atenção que esta Nova Zelândia pode não ser exuberante mas sabe como tapar os caminhos para a sua baliza!