Que jogo! Que ansiedade! Que sofrimento! 120 minutos de emoção a terminar nos pênaltis. E  o título europeu voltou a fugir 21 anos depois de outra final, também decidida no tempo extra contra as nossas cores.

Vivi esta final numa bancada bem composta por adeptos portugueses, em minoria no estádio Eden, bem perto da ação, mas longe da baliza onde se desenrolou a decisão por grandes penalidades. Num estádio com 21 mil lugares, quase esgotados por 18.800 espectadores, não foi apoio que faltou à seleção portuguesa, apesar da ruidosa mancha amarela dos adeptos suecos.



Indo directo ao assunto, vi uma equipa portuguesa igual a si própria: os portugueses mereceram a vitória, assumindo desde o primeiro minuto a despesa do jogo, perante uma Suécia que jogou com as armas que tinha. A pressão de uma final não pesou: continuámos a ser equipa madura, adulta e paciente dos outros jogos neste Europeu. E a paciência era ingrediente essencial para este jogo, pela forma como a Suécia voltou a organizar-se.

Tivemos algumas oportunidades, o que não era fácil de conseguir perante uma defesa muito cerrada, obrigando-nos a jogar em espaços muito reduzidos. Faltou-nos talvez, num ou noutro momento, um rasgo capaz de fazer a diferença. E face ao elevado número de remates que não saíram enquadrados com a baliza, não tivemos a precisão que poderia ter resolvido as coisas enquanto ainda havia forças. A identidade voltou a ser vincada: criámos, circulámos a bola, continuámos a fazer o que devia ser feito, não caindo na tentação do jogo direto. Por aí não há muito a dizer. Não creio que Portugal tenha estado, nesta final, a um nível inferior aos outros jogos.

Na bancada, perto do terreno, foi terrível constatar o desgaste tremendo das duas equipas, nos últimos minutos do tempo regulamentar e durante o prolongamento. A consequência natural de uma prova desgastante. Talvez os suecos possam ter chegado melhor a essa fase, mas isso acabou por não ser muito evidente. O facto é que Portugal assumiu sozinho o jogo, durante 80 minutos, e isso provoca desgaste acrescido. Os suecos mantiveram-se sempre confortáveis, jogando baixo e com muitos jogadores atrás da linha da bola.



Repito uma ideia importante: à exceção da primeira parte com a Itália, Portugal assumiu sempre o jogo neste Europeu, com um espírito coletivo fantástico. Nesta final, o exemplo maior foi João Mário, pela capacidade de luta, pela disponibilidade para baixar no terreno, mesmo sendo jogador de características ofensivas, e continuar a dar tudo, mesmo desgastado.

Rui Jorge mexeu e Tozé agitou o jogo, entrou bem e rematou muito, continuando a empurrar a Suécia para a sua defesa. Quanto às grandes penalidades, há pouco a dizer por parte de quem está de fora: a escolha dos jogadores nesses momentos depende da avaliação que é feita no terreno, do contacto diário com eles, do estado em que se apresentam e da resposta que dão sob uma situação de grande pressão. Não tenho dúvidas de que foram chamados a marcar aqueles que mostraram confiança e estavam mais preparados para o fazer.

No momento em que organizo estas ideias, os portugueses sobem ao palanque de honra para receber as medalhas de finalista. Não são as medalhas merecidas para a que foi a melhor equipa no terreno e foi capaz de lutar até ao fim. Os fortes aplausos que escutam de todo o público – não apenas do português – são um evidente sinal de respeito pelo que foi feito neste Europeu.



Escrevi ontem, neste mesmo espaço: «Espero que toda a atenção sobre estes jovens tenha impacto na aposta dos clubes no jogador português». Apesar do desfecho, do meu ponto de vista nada mudou. Esta equipa sai vencedora pelo que fez até aqui. Não tenho dúvidas de que os portugueses têm orgulho nos que estes jovens conseguiram. Deram tudo, foram melhores, simplesmente acabaram por não ganhar. Mas o futuro não deixou de ser promissor e este Europeu provou que há várias opções válidas, já no curto prazo, para a seleção A.