«Com a mão é andebol ou basquetebol... futebol é com os pés», como disse Paulo Bento em 2006, enquanto treinador do Sporting, mas afinal não é bem assim. Futebol também é com as mãos e não só para os guarda-redes.

O subbuteo confirma: o futebol também se joga com as mãos - este numa mesa - e em Portugal até há campeões do Mundo da modalidade. Aliás, uma campeã: chama-se Carolina Villarigues, tem 19 anos, joga no Belenenses e no passado fim de semana conquistou o título mundial na Bélgica.

Carolina Villarigues com o troféu de campeã mundial

Apaixonou-se pela modalidade há seis anos - aos 13 anos -, e desde aí, passando pelo Sassoeiros até chegar ao Belém, que tem conquistado títulos, atrás de títulos, que a fazem ser também a líder do ranking português.

«Comecei por acaso com um professor de expressão visual que tinha um núcleo de subbuteo na escola. Como tinha colegas que jogavam, decidi experimentar. Fascinou-me porque era uma modalidade diferente e pouco comum», contou ao Maisfutebol.

Diferente, mas idêntica ao futebol. 11 contra 11, duas balizas, uma bola e «as regras são parecidas às do futebol»: «Quem souber minimamente as do futebol consegue jogar subbuteo. Claro que há regras mais específicas, mas é basicamente o mesmo. Com cada jogador a dar três toques, depois temos de mudar, passar para outro, e ir construindo ataques para rematar para golo.»

Também há provas como a Liga Europa ou a Liga dos Campeões e chamadas à seleção. Por Portugal a convocatória é, no entanto, diferente, uma vez que o selecionador não escolhe quem leva. Quem vai é pelo desempenho nas provas internas e consoante o lugar no ranking interno.

Equipa nacional presente no último Mundial

Então e quais as diferenças? Algumas. Não se joga em duas partes de 45 minutos, mas sim de 15 minutos cada, por exemplo, mas a maior diferença é claro a utilização das mãos. «No subbuteo é obrigatório, fundamental», disse Carolina Villarigues entre risos, até porque está dentro das polémicas e há situações recentes como as que aconteceram no Sporting-FC Porto.

Quanto a equipas, só o atleta é que leva as cores da equipa que representa, os bonecos podem ser da cor que o jogador quiser. E os que cada um quiser, a atleta gosta por exemplo de contar, quando pode, com Gareth Bale em miniatura [ver fim da reportagem].

Carolina Villarigues começou por diversão, mas hoje dedica-se à modalidade e é ela que trata de tudo. Faz a vez de 11 jogadores, do treinador e até do roupeiro. Sim. «Sou eu que faço as figuras, escolho as camisolas e faço as ‘chuteiras’», disse explicando: «As chuteiras são as bases, que têm de ter peso e altura distintos, e que são de extrema importância no desempenho.»

Não é uma modalidade profissional, mas a dedicação de Carolina Villarigues é quase total. A campeã mundial, nem depois de conquistar esse título, que juntou a campeonatos nacionais e a torneios internacionais, descansou, até porque a época é longa e vai agora arrancar a nível de clubes.

«Vim no avião a preparar equipas, a colocar as bases nos jogadores que vou utilizar em breve», revelou.

Nem o cansaço físico a limita, apesar de admitir que é um desporto que exige muito. «Dedico-me muito, esforço-me e treino muito. Já consegui alguns títulos, mas por muito bom que se seja bom sem treinar não se chega a lado nenhum», justificou.

Quanto aos jogos, fala sobretudo em aguentar muitas horas de pé - porque os torneios jogam-se de manhã à noite - e ter capacidade de raciocínio, muita capacidade. «É um desporto mais mental do que físico, mas estar de pé das oito da manhã às oito da noite também cansa.»

Sacrifícios que valem a pena e que não vai abdicar de fazer. Depois deste mundial, começa a época nacional, vai tentar à chegar à Liga dos Campeões pelo Belenenses, e há muito mais no horizonte: «Continuar a ganhar títulos pelo clube e por Portugal, quem sabe outro, mundial.»

Pontaria para isso tem Carolina Villarigues. Porque, diga-se, bolas na barra não é com ela e o Maisfutebol comprovou-o. Ela, com as mãos, só sabe meter a bola dentro da baliza! Ora espreite, aqui.