É uma história de superação, de luta pessoal e de inspiração. O ex-internacional sueco Klas Ingesson, 45 anos, que disputou dois campeonatos do mundo pelo seu país (1990 e 1994, com o brilhante terceiro lugar nos Estados Unidos), é atualmente treinador do Efsborg e está a gerar uma onda de solidariedade pela forma como está a lidar com o cancro. Apesar da degradação física, não deixou de treinar e só pede que julguem as suas capacidades técnicas.

O mieloma múltiplo foi detetado em dezembro de 2008, quando o ex-médio já não jogava futebol (terminou a carreira em 2001), mas Klas só admitiu publicamente a doença seis meses depois. Após dois anos de tratamento, Ingesson aceitou em dezembro de 2010 o convite para treinar a equipa de sub-21 do Efsborg, um dos clubes mais importantes da Suécia na última década e campeão em 2012. Em janeiro de 2013 o mieloma voltou, o que obrigou o treinador a fazer um transplante de células estaminais, que o ajudaram a ultrapassar a doença por algum tempo.

Apesar da condição física delicada, a direção do clube decidiu convidá-lo a treinar a equipa principal em setembro de 2013, justificando a escolha pelo seu bom trabalho, capacidade de liderança e de motivação. «Não tinha nenhuma vontade, mas aquilo não saía da minha cabeça e acabei por perceber que não voltaria a ter uma oportunidade destas», admitiu numa entrevista recente.

Os tratamentos continuaram, muitas vezes demasiado pesados, provocando sequelas e enfraquecendo o treinador. Devido a uma osteoporose, precisou recorrer a um andarilho para se locomover. Após a derrota na primeira jornada do campeonato sueco contra o Atvidaberg (2-1), Klas caiu no balneário e partiu um braço, o que o obriga a utilizar uma cadeira de rodas. E é assim que tem surgido nos treinos e no último jogo, em que a sua equipa venceu o Hacken por 3-1, motivando grande celebração por parte dos adeptos. 




«Quando fui diagnosticado a minha vida sofreu um duro revés. Ao princípio senti-me assustado e esperei, mas depois do susto ganhei uma grande força para seguir em frente. Creio que tive uma segunda oportunidade. As pequenas coisas que me magoavam no passado simplesmente já não existem. Acordo todas as manhãs com um grande sorriso na cara», disse numa entrevistas recente.

Embora esteja preparada para uma hipotética nova recaída do cancro, a direção do clube mantém confiança no treinador, que no seu tempo como jogador representou a seleção sueca 57 vezes, para além de ter atuado no Gotemburgo, no Mechelen, no PSV Eindhoven, no Sheffield Wednesday, no Bari (uma das épocas ao lado de Abel Xavier), no Bolonha (em que chegou a defrontar o Sporting na Taça UEFA), no Marselha (defrontou o Benfica na Liga dos Campeões) e finalmente no Lecce. Pendurou as chuteiras quando tinha 33 anos, explicando que estava na altura de regressar para junto da família. Foi sempre conhecido como um atleta possante e de enorme entrega ao jogo. Em Itália chamavam-no «o bom gigante».

O presidente do Efsborg, agradece a postura de Klas. «A sua liderança e personalidade significa muito para nós», disse Bosse Johansson, admitindo que a batalha pessoal do treinador serviu para a direção perceber que o resultadismo a curto prazo nem sempre é o melhor caminho para o êxito.




Horas antes do jogo do último fim-de-semana, Ingesson publicou uma carta no site oficial do clube pedindo para que as pessoas deixassem de concentrar atenções na sua doença e o julguem apenas pelo resto. «Física e psiquicamente não tenho qualquer entrave ao meu trabalho. Como qualquer outro devo ser avaliado sobre a minha aptidão para o lugar tendo em conta os meus conhecimentos e competência, não pelo meu estado físico», defendeu, voltando a frisar a ideia logo após a primeira vitória na Liga: «Não há nada que me impeça de exercer o meu papel».

Debilitado, muito diferente do atleta alto que enchia os campos na década de 90 do século passado, Klas mantém o sorriso contagiante e uma enorme vontade de vencer. Agarrou-se à oportunidade de treinar uma equipa profissional e não será um cancro que o irá afastar da vontade de triunfar. Ele já é um vencedor.