Bola ao centro... golo. Não foi bem assim, mas quase. A primeira final da primeira edição da Supertaça Cândido de Oliveira, em 78/79, arrancou com um golo no primeiro minuto. Obra de Júlio, avançado do Boavista que haveria de bisar mais tarde e cometer a ousadia de garantir para o Bessa o primeiro troféu.

Júlio, e o dia em que uns óculos o lesionaram para a vida

Fala-se em ousadia porque a final disputava-se com o campeão F.C. Porto, e no antigo Estádio das Antas. «Marquei dois golos, ganhámos por 2-1 e não nos deram a taça», conta o antigo avançado ao Maisfutebol. «Assim mesmo, não nos deixaram receber a taça e viemos embora sem o troféu.»

Ora o troféu que só haveria de chegar ao museu axadrezado mais tarde. «A taça estava na bancada central e os adeptos do F.C. Porto não deixaram passar o Artur para a ir receber», diz Júlio. «Por isso não nos foi possível ter o troféu naquele dia. Lembro-me que só o recebemos no Bessa uma semana depois.»

Uma lança espetada em África...

Por isso o antigo avançado, que agora vive do comércio no centro do Porto, fala de «um episódio que ficou gravado na história do futebol». Ele próprio acredita que também irritou os adeptos. «Um ex-jogador do F.C. Porto marcar dois golos, ainda para mais um no primeiro minuto, foi como espetar uma lança em África.»

Do golo no primeiro minuto, Júlio já não se lembra muito. «Foi uma jogada de bola corrida, muito rápida. Mas lembro-me pouco mais. Foi há mais de trinta anos», recorda. «Sei que marquei logo nos primeiros segundos, depois voltei a marcar já na segunda parte e o F.C. Porto reduziu perto do fim. Mas ganhámos bem.»



O Boavista ficou por isso gravado no coração de Júlio. Como o F.C. Porto. «Comecei nos juvenis do Ramaldense, quando o Humberto Coelho saiu para o Benfica. Fui para o F.C. Porto nos juniores e fui campeão. Vencemos na final o Benfica de Jordão, João Alves, Shéu, Fidalgo. Aquela equipa era a selecção.»

... e o pedido para sair sempre que Pedroto chegava

No F.C. Porto ficou dos 17 aos 24 anos. Depois... chegou José Maria Pedroto. «Ele chegou e eu pedi rescisão», afirma. «Foi a melhor coisa que fiz. Assinei pelo Varzim, marquei 18 golos e fui para o Boavista. Voltei ao F.C. Porto no Verão Quente, mas pedi nova rescisão quando Pinto da Costa foi eleito presidente.»

A razão? Pinto da Costa recuperou Pedroto para treinador. «Nunca fui jogador de criar problemas, mas o meu feitio era incompatível com o feito de Pedroto. Reconheço que foi um dos melhores treinadores portugueses, mas com ele havia muitos interesses instalados e percebi que as portas para mim estavam fechadas.»

Por isso pediu para sair. Da primeira vez que o fez, deu um passo decisivo para afirmar o nome na história do futebol português. A passagem pelo Bessa tornou-o um dos avançados mais fortes do campeonato, rendeu-lhe a primeira Supertaça da história e ainda um feito inigualável: um golo no primeiro minuto da prova.

Ficha de jogo:

Estádio das Antas

Época 78/79

F.C. Porto: Fonseca; Jacinto (Vital, 62m), Simões e Murça; Rodolfo Reis e Frasco; Quinito (Duda, 46m), Romeu e Costa; Fernando Gomes e Albertino.

Boavista. Matos; Taí, Adão, Artur e Ballesteros; Óscar, Manuel Barbosa e Eliseu (Folha, 76m); Júlio, Moinhos (Queiró, 46m) e Salvador.

Golos: Júlio (1m e 72m), Romeu (77m).