Há pouco mais de um ano Carlos Arthur Nuzman discursava triunfante na cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira foi detido por suspeitas de corrupção na candidatura brasileira. Ele é o presidente do Comité Olímpico Brasileiro (COB) e foi o responsável pela organização do Rio 2016 e esta é uma história que fala de um embrenhado esquema de ligações suspeitas e dinheiro por baixo da mesa a troco de votos. Uma sombra negra, mais uma, ao mais alto nível em torno das grandes organizações desportivas e das suas teias de poder e influências.

Agora há mais uma investigação concreta. Depois da FIFA e das suspeitas na atribuição dos últimos Campeonatos do Mundo, o processo de atribuição dos Jogos Olímpicos ao Rio de Janeiro foi apanhado no meio da mega-investigação Lava Jato e numa das suas ramificações, a que as autoridades brasileiras chamam Unfair Play, Jogo Sujo.

As suspeitas sobre Nuzman tinham sido tornadas públicas em setembro, quando as autoridades fizeram buscas na sua casa. Foi interrogado e privado do passaporte. Agora foi mesmo detido, ele e Leonardo Gryner, o seu braço-direito e que foi o diretor de operações do Comité Organizador do Rio 2016. São, segundo um comunicado da Polícia Federal brasileira, suspeitos de «corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa», e a detenção, temporária, acontece porque há suspeitas de que tenha tentado ocultar bens neste período.

Nuzman, 75 anos, é antigo jogador de voleibol e preside ao COB há 22 anos. A investigação acredita que será ele o «ponto central de conexão» de um esquema de um esquema «altamente sofisticado e de âmbito internacional», que envolve muita gente: do antigo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, detido desde junho, a Lamine Diack, antigo membro do Comité Olímpico Internacional e presidente da Federação Internacional de Atletismo, também ele detido por suspeitas de corrupção e encobrimento no caso das suspeitas de doping de Estado na Rússia. Diack, figura central do atletismo nas últimas décadas, teria em troca feito prometer valer a sua influência para garantir ao Rio os votos necessários.

Quanto aos dados concretos divulgados, há e-mails entre Nuzman, Gryner e Papa Diack, filho de Lamine Diack, que indiciam o pagamento dois milhões de dólares a três dias da decisão de atribuição da sede dos Jogos Olímpicos de 2016, em setembro de 2009. O Rio corria contra Chicago, Tóquio e Madrid e levou a melhor sobre a candidatura espanhola na votação final.

Esses pagamentos teriam sido feitos pelo empresário Arthur Soares, a quem chamam «Rei Arthur», suspeito em muitos dos casos que envolvem Sérgio Cabral e fugido à polícia desde setembro, quando as autoridades pediram o arresto de mil milhões de reais (271,2 milhões de euros) do seu património.

O jornal Globo cita a procuradora Fabiana Schneider a deixar clara a linha de acusação do Ministério Público Federal brasileiro: «Enquanto os medalhistas olímpicos buscavam a tão sonhada medalha de ouro, dirigentes o Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suiça. A realização dos Jogos foi abastecida com dinheiro público.»

A investigação está em curso. E não fica por aqui, porque as suspeitas sobre o Rio 2016 e também sobre a atribuição dos Jogos Olímpicos seguintes, Tóquio 2020, não são novas. Já há um processo a decorrer em França, associado precisamente às investigações sobre Diack.

E desportivamente, o que acontecerá? Em setembro, aquando das primeiras suspeitas públicas sobre Nuzman, o presidente do Comité Olímpico Internacional tinha reagido com cautela. «Mudámos o processo de candidatura, temos novas regras, mas isso não nos torna imunes. Nenhuma organização é, nenhuma lei é perfeita. Vamos agir em cima das infrações. Isso é o que se pode esperar. Neste caso em particular, quando as evidências forem fornecidas, vamos agir. Agimos um ou dois dias depois das evidências sobre o senhor Diack», afirmou.

Agora, depois da detenção de Nuzman, a reação do COI continua a ser dizer que está atento. «A Comissão de Ética deu de imediato início a diligências, após ter tido conhecimento das acusações e investigação em curso. Em face dos novos indícios, a Comissão de Ética pode considerar medidas adicionais, prevalecendo em qualquer caso a presunção de inocência de Nuzman.»