18 de junho, 16 horas. No próximo domingo, quando subir ao relvado da Arena de Kazan para defrontar o México, a Seleção Nacional vai estrear-se na Taça das Confederações como o distinto estatuto de campeã da Europa.

Será a terceira grande prova de seleções A em que Portugal participará, depois da estreia no Campeonato do Mundo em 1966 e no Europeu de 1984.

António Simões estava na estreia na primeira fase final de um Mundial e ao fundo do baú das memórias viaja mais de meio século para desfolhar ao Maisfutebol as recordações do primeiro jogo dos «Magriços» no Mundial inglês, um duelo frente à Hungria, em Manchester, no mítico Old Trafford, a 13 de julho de 1966, que terminou com vitória lusa por 3-1:

«Lembro-me bem do quarteto de avançados deles, que era fortíssimo: Bene, Albert, Farkas e Rákosi. E lembro-me desse jogo, que foi provavelmente aquele em que Portugal esteve menos bem e aquele em que foi mais feliz. Os nossos golos foram de cabeça e bola parada (José Torres e bis de José Augusto). Numa prova curta como um Mundial, sobretudo para uma equipa estreante, era muito importante vencer esse primeiro jogo para embalarmos, como aconteceu.»

Aquele primeiro Mundial para Portugal gerou a natural expectativa de uma primeira vez. «Foi o primeiro Mundial com todos os jogos a serem televisionados e aquele em que pela primeira vez houve transmissão a cores. Para Portugal foi também uma forma de trazer o orgulho nacional de volta. O nosso país era ostracizado, marginalizado até, na cena internacional muito por culpa da Guerra do Ultramar e impormo-nos no futebol com todo o planeta a ver encheu a nação de orgulho», acrescenta Simões.

Sobre aquele primeiro jogo, há que salientar que os húngaros já não eram a os «mágicos magiares» de Puskás, Kocsis, Czibor e Hidegkuti. Ainda assim tinham «uma equipa de grande nível» e, apesar das diferenças para o futebol atual em termos de prospeção e estudo do adversário, eram conhecidos pela seleção comandada por Otto Glória:

«Não havia meios tecnológicos de scouting que há hoje, mas o Benfica já tinha vencido duas Taças dos Campeões Europeus e estado em outras duas finais e essa tarimba permitia a alguns jogadores da nossa seleção conhecer os melhores jogadores húngaros. Não íamos para o jogo completamente no escuro.»

A verdade é que Portugal venceu na estreia, «embalou» para um grande Mundial, vencendo os restantes jogos do Grupo 3 (3-0 à Bulgária e 3-1 ao Brasil), ultrapassou a Coreia do Norte nos quartos-de-final (5-3), com Eusébio a virar herói, e após a eliminação nas meias frente a Inglaterra (2-1), venceu a União Soviética (2-1) para terminar no 3.º lugar.

Première em Euros, com apadrinhamento alemão 

Desde essa primeira participação, há 51 anos, a Seleção Nacional participou em mais cinco Mundiais, sem voltar a atingir o pódio – a melhor classificação desde 1966 foi o 4.º lugar em 2006 na Alemanha.

No Campeonato da Europa, foram outras seis participações. A première no Euro francês aconteceu em a 14 de junho, diante da República Federal Alemã.

Esse primeiro jogo, em Estrasburgo, com muitos emigrantes portugueses e muitos vizinhos alemães nas bancadas, terminou com um nulo. Álvaro Magalhães foi titular do lado esquerdo da defesa e ao Maisfutebol salienta que «toda a gente dava favoritismo aos alemães»:

«Eles tinham uma grande seleção, atenção. Fisicamente fortíssimos, com Völler e Rummenigge na frente (e, já agora, o jovem Matthäus a despontar). Mas nós também tínhamos uma seleção muito forte nos três setores. Um bom setor defensivo, o meio-campo fortíssimo do FC Porto e lá na frente o nosso génio Chalaninha, o Jordão… Veja bem, no banco tínhamos o Gomes e o Nené! O António Oliveira e o Manuel Fernandes nem sequer foram chamados! Era uma grande geração do futebol português. Os alemães tinham respeito por nós e apesar do nervosismo da estreia conseguimos um 0-0, que não era um mau resultado.»

Portugal apurar-se-ia no Grupo 2 após empatar com a Espanha (1-1) e vencer a Roménia (1-0) e seguiu na competição até chegar à malfadada meia-final de Marselha, onde a anfitriã França acabou com o sonho dos «Patrícios» aos 119 minutos (3-2). Para Álvaro Magalhães, esse primeiro Euro hoje é recordado com um sentimento agridoce:

«Apesar dessa derrota, houve ali uma mudança de mentalidades. Acho que merecíamos ter sido ali campeões da Europa. 32 anos depois, também num Euro em França, finalmente se fez justiça…»