Chama-se António Luís, tem 50 anos, é o treinador do Pontassolense, da II Divisão, Série B. Tem um nome comum, mas é conhecido no meio futebolístico por Trapattoni. Tal e qual como o ex-treinador do Benfica e actual técnico do Estugarda. Este é o cartão de visita de um homem que já levou o modesto Lourosa às meias-finais da Taça de Portugal e agora volta a ter uma nova prova de fogo: eliminar a Naval (sábado, às 16 horas, na Figueira da Foz): «Para mim, não é novidade nenhuma. Na Taça acontecem surpresas, portanto esperamos que seja um dia de festa».
O rótulo de Giovanni Trapattoni colou-se na vida de António Luís por uma questão de admiração. Treinava o Lourosa, da II Divisão B, em 1993/94, quando fez sensação na Taça de Portugal. Eliminou o Beira Mar, em Aveiro, deixou o Belenenses pelo caminho e só caiu aos pés do Sporting, em Alvalade, na meia-final. «O Trapattoni é a minha referência como treinador. No balneário falava dele aos jogadores e eles começaram a chamar-me Trapattoni. O nome ficou. Ainda hoje há pessoas que me tratam dessa maneira».
Pelo ídolo italiano já fez de tudo um pouco. «Posso dizer-lhe que, na época passada, fui benfiquista desde o primeiro dia em que o Trapattoni chegou à Luz. Ganhou o campeonato, mas também merecia ganhar a Taça. O que ele fez foi um autêntico milagre», responde perante as debilidades do plantel encarnado. A admiração é uma paixão «pela personalidade» do veterano treinador. «É um homem sério, de ideias fixas e sabe ler o jogo. Tenho acompanhado a carreira dele na Alemanha e sei que vai dar a volta, porque ele sabe muito de futebol...»
Nunca falou com Trap
Mas António Luís guarda duas mágoas na carreira. A primeira é simples: «Nunca tive a oportunidade de falar pessoalmente com o Trapattoni. Na temporada passada, cheguei a pensar em ir ter com ele a Lisboa, mas tal não foi possível». A segunda é inevitável: «Nunca treinei na 1ª Divisão portuguesa. Nunca tive vida fácil nas equipas por onde passei e nunca tive as oportunidades dos outros, muitos deles nem estavam habilitados para tal. É uma desigualdade muito grande. Há treinadores sem o quarto nível e que estão na Liga principal. É como um médico exercer medicina sem ter passado pela universidade¿»
No currículo, o actual treinador do Pontassolense soma passagens pelo Lourosa, Guarda (três vezes), Fátima (duas vezes), Estarreja (duas vezes), Trofense, Lamego, Portossantense, Machico, Leça e Tirsense. «Ai Jesus, espero não me ter esquecido de nenhum», diz com um suspiro. Já subiu várias vezes de divisão e os seus princípios de jogo são inspirados em Trapattoni: «Os treinadores de bancada é que falam em sistemas, em tácticas, em jogar bem ou mal. Têm de recorrer à imaginação. Jogar ao ataque ou à defesa é muito bonito, mas no futebol só contam os resultados. Isso é que conta». Tal e qual como a lendária figura italiana...