De março de 2008 a janeiro de 2018 vão dez anos, do Bonfim a Braga vai uma semana e o futebol juntou tudo outra vez. V. Setúbal e Sporting frente a frente no sábado para decidir quem ganha a Taça da Liga, a reeditarem a primeira final da mais jovem competição do futebol português. E, bem mais fresco, a repetirem o empate ao cair do pano arrancado pelos sadinos na sexta-feira passada, um golo de Edinho que custou dois pontos aos «leões». Edinho que já tinha tramado o Sporting na última Taça da Liga. Muitas coincidências a desembocarem na decisão de sábado entre duas equipas com estatutos diferentes mas bem mais equilibrados nas Taças do que no panorama global. Indicadores para o que aí vem, sendo que esta será seguramente uma nova história.

É essa a ideia reforçada por Tonel, que estava no onze do Sporting naquela final de 2008 no Estádio do Algarve, quando o V. Setúbal levou a melhor sobre os «leões» na grandes penalidades. O jogo terminou sem golos e a decisão foi para os penáltis. Aí houve um herói claro. Eduardo, então a defender a baliza sadina, defendeu três grandes penalidades, batidas por Polga, Liedson e Izmailov.

Recorde aqui a ficha e o relato ao minuto esse V. Setúbal-Sporting, 0-0 (3-2 gp)

A festa era do V. Setúbal orientado por Carlos Carvalhal, o Sporting de Paulo Bento via fugir um troféu que foi uma aposta clara dos «leões», por essa altura em quarto lugar no campeonato, a 14 pontos do líder FC Porto. Aliás, em igualdade pontual com o V. Setúbal, que nessa temporada já tinha vencido o Sporting por duas vezes, para o campeonato e também na fase de grupos da própria Taça da Liga.

O Sporting acabaria por terminar em segundo o campeonato, mas naquele dia 22 de março a derrota foi um enorme balde de água fria. «Lembro-me da desilusão que foi. Queríamos ganhar, ainda por cima era a primeira Taça da Liga, era sempre um marco», recorda Tonel ao Maisfutebol. Na altura, Paulo Bento chegou a comparar a decisão do Algarve à final da Liga dos Campeões, para colocar acento na importância do momento. «Encarámos a final com tudo. Era para ganhar. Preparámos o jogo como sendo importante, era uma Taça que se podia ganhar, para mais sendo a primeira vez. Não foi de maneira nenhuma desvalorizado», conta Tonel.

Naquela primeira edição a Taça da Liga prometia algo de novo, com sinais de abertura como a conferência conjunta dos dois treinadores antes do jogo ou até uma conferência de imprensa dos árbitros a antever a partida. Tonel recorda essa expectativa, que se diluiria com o tempo, mas defende a valorização da competição: «Depois houve uma fase em que a competição foi desvalorizada, mas é um troféu e os clubes podendo ganhar não vão deixar de querer ganhar. Quem disser que não quer está a mentir.»

Quanto ao jogo, Tonel recorda uma partida equilibrada e fala de um vencedor justo.  «O V. Setúbal acabou por ganhar e o próprio mister Paulo Bento disse no fim que ganhou bem. O percurso que fez até lá e a maneira como jogou a final, acabou por merecê-la. Houve jogadores que falharam, mas as grandes penalidades são mesmo assim. O Eduardo teve muito mérito nos penáltis.»

A festa foi rija do Algarve até Setúbal, naquele que foi o quarto troféu nacional ganho pelo clube, depois de três Taças de Portugal, em 1964/65, 66/67 e mais recentemente 2004/05. Eduardo, hoje no Chelsea, contava no dia seguinte ao Maisfutebol como viveu aquele momento, recorde aqui.

Foi a última presença numa final do V. Setúbal, que na época passada, já com José Couceiro no banco, esteve perto. Chegou à meia-final, onde foi afastado pelo Sp. Braga, depois de deixar precisamente pelo caminho o Sporting de Jorge Jesus, ao vencer por 2-1 na decisão do Grupo A. Lá está, a reforçar esse maior equilíbrio entre as duas equipas extra-campeonato. Se no balanço geral de confrontos entre ambos o saldo é largamente favorável ao Sporting, com 105 vitórias, 42 empates e 39 vitórias sadinas em 186 confrontos, se olharmos para as taças o equilíbrio de forças é diferente. E na Taça da Liga o Sporting nunca venceu o V. Setúbal, em quatro confrontos até hoje. Houve duas vitórias do V. Setúbal, mais o triunfo na final de 2008, que formalmente foi um empate, e ainda outro empate, na fase de grupos da época 2014/15.

No encontro da época passada para a fase de grupos foi uma grande penalidade convertida por Edinho já nos descontos a decidir um jogo polémico, que abalou as relações entre os dois clubes. O Sporting acabou mesmo por fazer regressar Ryan Gauld e André Geraldes, que estavam cedidos ao V. Setúbal.

O relacionamento entre os dois clubes normalizou entretanto, mas em campo o Vitória acaba de complicar de novo a vida ao Sporting, agora na Liga. E foi outra vez numa grande penalidade nos descontos, de novo convertida por Edinho, agora a fazer o 1-1 final na 19ª jornada da Liga que custou o primeiro lugar da Liga aos «leões».

Essa memória está bem recente. Mas Tonel acredita que, a pesar na decisão de sábado, pode ter um efeito de motivação adicional para os «leões»: «Esse empate alerta os jogadores. Eles têm uma má memória recente de um jogo que não conseguiram ganhar. Estão alertados que têm de fazer um bom jogo.»

A final de Braga será necessariamente diferente, acredita o antigo defesa. Um jogo só neutraliza muito do que está para trás, defende: «Vai ser uma final. Tem esse passado recente, o empate arrancado pelo V. Setúbal no último minuto na jornada passada, acho que foi um jogo que marcou um pouco o Sporting. Mas são competições diferentes. O V. Setúbal, apesar de não estar num grande momento no campeonato, está na final. Em 10 jogos o Sporting seria favorito, num jogo é diferente.»