São 11 metros que separam a marca de penálti da linha de golo, é muito mais do que essa a distância que separa vencedor e vencido de um desempate nas penalidades. O primeiro continua a caminho da glória, o segundo apenas quer sair dali.

Portugal voltou a jogar um desempate de grandes penalidades, nesta quarta-feira, na Taça das Confederações. Perdeu e transformou a história do penálti em algo agridoce para a seleção.

Portugal tinha muito bom aproveitamento nas grandes penalidades, mesmo com o desaire em 2012. Aliás, das seleções europeias com mais de 20 penáltis tentados, só tinha duas equipas com melhor rendimento.

O recorde do Chile

Apenas uma seleção no mundo teve pelo menos três empates frente à mesma equipa e perdeu-os todos.

Sempre que México e Argentina tiveram de desempatar jogos dos onze metros, os norte-americanos saíram derrotados. Essa é a única supremacia absoluta no futebol internacional, quando se tem em considerações equipas que estiveram frente a frente nessa ocasião um trio de vezes.

Curiosamente, os argentinos quase invertem essa tendência quando o adversário é o Brasil: quatro confrontos por penáltis, três ocasiões a sorrirem à canarinha.

Estas duas potências sul-americanas também já tiveram de resolver jogos, através de penáltis, com o Chile.

Bem vivas na memória estão as vitórias chilenas sobre a Argentina nas duas últimas finais da Copa América, após 0-0.

Ainda assim, a roja ia para o encontro com Portugal com um historial pior do que a seleção portuguesa. Apesar de ter vencido duas vezes a Argentina, o Chile perdera no Mundial 2014 com o Brasil e em 1999 com o Uruguai, na Copa América.

Com o triunfo em Kazan, tem agora um registo de 3-2 favorável no desempate por grandes penalidades.

Moutinho num registo único e Portugal quinta seleção

No final da partida com o Chile, o selecionador Fernando Santos recordou que os mesmos jogadores que nesta quarta-feira falharam dos 11 metros foram heróis no Euro 2016.

Ricardo Quaresma, João Moutinho e Nani bateram penáltis frente à Polónia, no Europeu de França. E tiveram sucesso.

O médio do Mónaco tinha na memória a grande penalidade desperdiçada com a Espanha, no Europeu anterior, e só após a insistência de Ronaldo, Moutinho afastou os fantasmas e bateu.

O camisola 8, porém, não foi feliz em Kazan. Escolheu o mesmo lado que frente a Espanha e Polónia e acabou como único português a desperdiçar dois penáltis, num desempate deste modo, em fases finais.

Ora, com a eliminação desta noite, o registo nacional fica de três vitórias para duas derrotas. Portugal até era uma das seleções com melhor aproveitamento no desempate dos onze metros, pois só perdera para a Espanha e ganhara à Polónia e duas vezes à Inglaterra.

A equipa nacional tornou-se ainda a quinta seleção a não conseguir marcar nenhuma das penalidades numa das grandes provas: Mundial, Europeu, Copa América, CAN, Gold Cup e Taça da Ásia.

Antes de Portugal, não conseguiram marcar um único penálti a China - que foi a pioneira na Taça da Ásia em 1988 -, a Coreia do Sul em 2011, na mesma prova e ainda a Suíça (Mundial 2006) e o Brasil (Copa América 2011).

Os três penáltis desperdiçados em três tentativas baixaram muito a percentagem de sucesso na conversão das grandes penalidades.

Portugal tinha tentado 21 penáltis no desempate e tinha marcado 16: ou seja, 76 por cento de sucesso. Agora, tem 16 em 24 e baixou para os 66.

Das seleções europeias com mais de 20 penáltis tentados no desempate, a seleção nacional só tinha Alemanha e França à frente. A Mannschaft tem 32 em 37 e os Bleus 25 em 31 – 86 por cento para os germânicos, 81 para os gauleses.

Como é evidente, os desempates por penáltis também se decidem pelo…insucesso dos outros. Sete jogadores desperdiçaram grandes penalidades em 20 tentativas, sendo que os guarda-redes portugueses – Ricardo e Rui Patrício – defenderam seis. Beckham atirou o outro para a lua, como se sabe…

A percentagem de sucesso dos guarda-redes (juntando-lhe a do pedaço de relva na Luz em 2004) é de 30 por cento. Visto por outro lado, a partir desta quarta-feira, 70 por cento dos penáltis tentados frente a Portugal foram golo.

As duas grandes desilusões e dois grandes títulos

A História do futebol de federações tem mais penáltis no que respeita às cores nacionais. Em 1987/88, Portugal perdeu o título europeu de sub-16 em grandes penalidades para a Espanha.

Muitos anos depois, já no sucessor torneio de sub-17, venceu a mesma Espanha para sagrar-se campeã europeia em 2015/16. No que respeita a finais de europeus, voltou a perder uma, em sub-21, em 2015 com a Suécia.

Convém lembrar, porém, que um dos maiores títulos que uma equipa nacional alcançou fê-lo da marca de 11 metros: frente ao Brasil, em 1991, em Lisboa, sagrou-se bicampeã mundial de sub-20.